Vagueando na Notícia


Participe do fórum, é rápido e fácil

Vagueando na Notícia
Vagueando na Notícia
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Simões. “Encontrava-me às escondidas com o Jorge Sampaio na Bordalo Pinheiro”

Ir para baixo

Simões. “Encontrava-me às escondidas com o Jorge Sampaio na Bordalo Pinheiro” Empty Simões. “Encontrava-me às escondidas com o Jorge Sampaio na Bordalo Pinheiro”

Mensagem por Vitor mango Qua Abr 25, 2012 5:33 am

Simões. “Encontrava-me às escondidas com o Jorge Sampaio na Bordalo Pinheiro”












Por Rui Miguel Tovar, publicado em 25 Abr 2012 - 03:10 | Actualizado há 9 horas 19 minutos















O 25 de Abril do futebol português chega através
da criação do Sindicato de Jogadores, por obra e graça do extremo do
Benfica em acção conjunta com um advogado sportinguista


























Share on printImprimirShare on tweetEnviar





1


1























  • Imagem















  • Simões. “Encontrava-me às escondidas com o Jorge Sampaio na Bordalo Pinheiro” 3514444




























Referência internacional do futebol como extremo esquerdo malabarista,
António Simões é um revolucionário de corpo inteiro, cujo contributo
para a criação do Sindicato dos Jogadores em 1972 (há 40 anos) é
inestimável. Eis o 25 de Abril do futebol nacional.

Entra no futebol pelo clube da terra. O Almada nada quer saber sobre o
interesse do Belenenes em Simões, mas já não tem força para travar o
andamento do Benfica no final de 1960, quando Caiado vai ao Montijo
observar Jorge e Moreira, figuras do quadro almacense. O “olheiro”
benfiquista deslumbra-se com Simões e acelera o processo, com outros
dirigentes. Na Luz, nem se pensa duas vezes. Acertam tudo com a mãe do
jogador e Simões é imediatadamente inscrito. Aos 18 anos, entra no onze
de Bela Guttmann, aproveitando uma suspensão de Cavém (expulso em
Aveiro), e nunca mais de lá sai. Nesse ano, é campeão europeu, frente ao
Real Madrid, e está ainda presente em mais três finais da Taça dos
Campeões (1963, 1965 e 1968).

Chega facilmente à selecção nacional. No Mundial-66, é famoso o seu
golo ao Brasil, de cabeça (ele que nem assim tão alto, em comparação com
José Torres e até com Hilário). Participa num jogo da Selecção da UEFA e
depressa atinge o estatuto maior no Benfica, como capitão de equipa. É
ele o líder do balneário e o porta-voz das reivindicações dos jogadores
perante a Direcção. Não só a nível clubístico como também nacional. Em
directo do Irão, onde é adjunto de Carlos Queiroz na selecção nacional,
Simões dá-nos conta das circunstâncias na génese do Sindicato. Tudo
começa nos EUA, em Los Angeles.

Simões quer dizer dribles e golos mas também voz de comando contra o
Estado da Nação. Como começou a luta pelos direitos dos jogadores?


Atenção que é uma luta de anos e anos, Demorou seis, sete anos. Com o
25 de Abril, tudo ficou mais facilitado. Nesse tempo, quem era de
esquerda, era moda em Portugal. É como hoje a gravata fininha. É a mesma
coisa.

Começou nos Estados Unidos, foi?

Sim, em 1967, durante o segundo particular entre o Boca Juniors e o
Benfica. Primeiro, jogámos em São Francisco e empatámos 1-1. Depois,
defrontámo-nos em Los Angeles. Outro 1-1. Foi aí que Alberto Armando,
presidente do Boca, fez muita força para contratar-me. Tal como o
Rattín, o famoso capitão do Boca e da selecção argentina.

Contacto directo ou por telefone?

Eram outros tempos e as duas equipas estavam juntas no mesmo hotel. Por
isso, falámos naturalmente lá. O interesse do Boca era sério e
apresentou uma proposta ao Benfica.

Lembra-se da oferta?

Ofereceram-me uma fortuna, qualquer coisa como sete mil e 500 contos.
Uma fortuna é que lhe digo. Nem os Mellos, ou só os Mellos, é que tinham
esse dinheiro.

Essa oferta era ao Benfica. E a si?

A mim, 100 mil dólares por ano. Isto em 1967, ok? Não sei o que é 100
mil dólares há 50 anos, ou há 45, mas imagino que seja um autocarro da
Carris cheio de dinheiro. Mas atenção que a motivação não era o
dinheiro. Tanto assim é que o Benfica negou-me o direito de sair e eu
continuei a jogar. Foram mais oito anos. Dei tudo o que tinha ao
Benfica. Os mesmos valores e princípios que lutei para sair foram os
mesmos que sustentaram a minha luta pelos direitos dos jogadores. Antes e
depois daquela proposta.

Como eram vistos os jogadores daquele tempo?

Os jogadores da bola eram marginais.

Como?

É como ouviu. Naquela altura os clubes tinham todos os direitos e os
jogadores nenhuns. Aliás, só depois é que chegou a chamada Lei de Opção,
que obrigava os clubes a igualarem uma proposta que pudesse aparecer.
De certo modo foi o meu caso que veio ajudar a criar essa lei que,
aliás, era boa para nós, a nível nacional, porque obrigou a que os
clubes, para nos segurarem, se antecipassem a possíveis propostas que
pudessem aparecer. Mas a nível internacional esta lei não significava
nada: independentemente da proposta, o clube podia dizer não. A questão
eram os direitos. Eles hoje têm os seus direitos e seis meses antes de
acabar o contrato, podem assinar com quem quiserem. No meu tempo, os
clubes eram donos dos passes dos jogadores, como futebolistas e pessoas.
Imagine que eu assinava por três anos e a ganhar cinco contos por
época. Acabava o contrato e ofereciam-me quatro contos. E nós fazíamos o
quê?

Sim, o quê?

Nada, não nos era possível fazer nada. Ou deixavámos de jogar ou
renovávamos. Os clubes tinham controlo absoluto sobre os jogadores.

E a sua proposta foi...

Divulgar uma proposta ao país inteiro: atenção que nós não somos donos
do nosso percurso. Alguém está a fazer isso por nós. isso é uma inversão
dos direitos. Com o 25 de Abril, tudo se tornou mais fácil e as mesmas
pessoas que estiveram contra a minha ideia de sair, foram as mesmas
pessoas que vieram reivindicar esse direito que a mim me contestaram.
Veja bem a incoerência dessa gente. A cultura clubista extremamente
anti-democrata.

Por esse caminho, teve aliados?

Encontrei um jovem advogado chamado Jorge Sampaio, por recomendação de
amigo em comum. A partir de uma certa altura, já não era uma questão de
sair ou não do Benfica. Era pura e simplesmente a contestação de
direitos. O processo desenvolve-se e ainda hoje há gente do Benfica que
não me perdoou. A minha proposta era dar dignidade a uma classe sem
direitos mas imagine o que era pôr o clube e o país em causa.

Mas quem o punha em causa?

Pffff, o regime, os clubes.

E os adeptos na rua?

Houve pequenos sinais de que eu estava a cometer uma injustiça. Eu
lutar pelos meus direitos era cometer uma injustiça com o clube. É
preciso dizer isso porque é verdade. Havia no ar aquela sensação de ‘mas
quem é este gajo para pôr isto em causa?’ O meu direito era não ter
direito nenhum. Era um acto de desobediência para o clube. Na altura,
era uma ofensa ter esse direito, aliás a tentativa desse direito. Fui
vítima disso mas não me sinto vítima. Acabou, ponto final. Lembro-me de
ter dito numa reportagem d’A Bola: “O meu direito é não ter direitos
nenhuns”. Fiz aquilo que devia ter feito. Corri o risco numa socidade
conservadora e ditatorial.

O Jorge Sampaio também, imagino?

Ah, sim, sim. Claramente.

Qual é o seu mérito?

Arriscar a sua vida e o seu futuro profissional para lançar-se nesta
odisseia. Para acompanhar-me, motivar-me e aconselhar-me na luta pelos
direitos dos futebolistas, inerentes a qualquer cidadão.

Como foram esses dias que se tornaram anos?

Primeiro arrancámos com a força dos homens da bola, tudo espontâneo.
Depois, com o Jorge Sampaio, alcançámos outro nível – é ele o
responsável pelos estatutos. Lembro-me de ir, no início, ao Ministério
das Corporações, às vezes acompanhado pelo Pedro Gomes, outras pelo
Hilário, mais tarde com o Toni.

Encontravam-se às claras ou...

Nem pensar. Era às escondidas.

De quem?

De tudo e todos.

Onde?

Um escritório ali para os lados da Avenida Columbano Bordalo Pinheiro.

Qual a imagem que ainda retém de Jorge Sampaio?

De um homem sério e apaixonado pela causa. De um homem com uma cultura
sensacional. Repare: ele é sportinguista mas ia a pé, às vezes à chuva,
ver os jogos do grande Benfica da década de 60. Isto revela uma cultura
desportiva acima da média.

E as reuniões?

Formou-se logo a ideia de que era importante lutar pela criação de um
Sindicato. “É necessário fazer alguma coisa para que isto não se
repita”. Depois, existem nomes importantes neste processo que devemos
igualmente referir: Pedro Gomes (costumava ser o meu marcador directo
nos Sporting-Benfica), Eusébio (pelo grande impacto da sua figura),
Toni, Hilário e o Artur Jorge.

Foi aliás ele o primeiro presidente do Sindicatos dos Jogadores, não foi?

Exacto. A sua formação académica revelou-se extremamente benéfica para
assumir um cargo da máxima importância. Todos contribuímos: o Artur
Jorge, o Toni, o Pedro Gomes, o Eusébio, o Hilário, o Jorge Sampaio, eu.

_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Simões. “Encontrava-me às escondidas com o Jorge Sampaio na Bordalo Pinheiro” Batmoon_e0
Vitor mango
Vitor mango

Pontos : 117475

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo


 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos