Irão: Políticas de Nixon e Ford fizeram cair o Xá 17.10.2008
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Irão: Políticas de Nixon e Ford fizeram cair o Xá 17.10.2008
Irão: Políticas de Nixon e Ford fizeram cair o Xá
17.10.2008 - 18h40 Borzou Daraghi, em Beirute. Exclusivo PÚBLICO/Los Angeles Times
As administrações de Richard Nixon e Gerald Ford “criaram as condições que ajudaram a desestabilizar o Irão nos anos 1970 e contribuíram para a Revolução Islâmica”, revela a edição de Outono, posta hoje à venda, do “Middle East Journal”, publicação académica do “think tank” Middle East Institute, com sede em Washington.
O relatório baseia-se em documentos classificados – transcrições, memorandos e outra correspondência – e mostram profundas divergências em relação à subida dos preços do petróleo entre os dois presidentes republicanos e o imperador Mohammad Reza Pahlavi.
Após uma investigação de dois anos, o autor do relatório, Andrew Scott Cooper, destaca o papel de decisores políticos na Casa Branca, incluindo Donald H. Rumsfeld, um dos principais conselheiros de Ford, que tentavam fazer baixar os preços do petróleo para travar as ambições do “rei dos reis”, apesar das advertências do secretário de Estado, Henry Kissinger, de que uma tal atitude poderia precipitar a ascensão de um “regime radical” no Irão. “O Xá é tipo duro e mau, mas é verdadeiramente nosso aliado”, disse Kissinger a Ford, quando este ponderava opções para pressionar o monarca a descer os preços do petróleo. Esta conversa, em Agosto de 1974, consta do relatório de Cooper.
Dar preferência aos sauditas
Analistas e historiadores nem sempre estão de acordo sobre se não teria sido o Presidente democrata Jimmy Carter a contribuir para que o Irão se tornasse num dos principais opositores dos EUA no Médio Oriente, salientou o “LA Times”. No entanto, este novo relatório sugere que os seus antecessores republicanos não só contribuíram para a queda do Xá como estavam realmente empenhados num novo realinhamento que transformasse a Arábia Saudita no principal aliado de Washington no Golfo Pérsico.
Este reavaliação do Irão pré-revolucionário tem hoje especial relevância porque a situação económica da actual República Islâmica antes da revolução de 1979 assemelha-se às condições presentes, desta vez com um consumista Presidente Mahmoud Ahmdinejad a depender de elevados preços do petróleo para se manter no poder.
“O descalabro fiscal de Ahmadinejad evoca os tempos do Xá: a taxa de inflação no Irão eleva-se a quase 30 por cento e o défice é de aproximadamente 12 mil milhões de dólares, para não falar do desemprego e subemprego generalizados”, disse Cooper por e-mail.
O relatório que cita muitos documentos guardados na Biblioteca Presidencial Gerald R. Ford em Ann Arbor (Michigan), abre uma janela sobre o turbulento período que, há 30 anos, precipitou a Revolução Islâmica e abriu caminho a movimentos muçulmanos de inspiração religiosa por todo o Médio Oriente.
O papel de Donald Rumsfeld
À medida que os elevados preços do petróleo nos anos 1970 iam estrangulando a economia norte-americana, Washington começou a distanciar-se do Irão, sugerem os documentos. Em 1974, quando chegou ao fim um embargo petrolífero imposto como protesto pelo apoio dos EUA a Israel, responsáveis norte-americanos consideraram o Xá o principal culpado pela não descida dos preços e quiseram travá-lo. A certa altura, Rumsfeld, que mais tarde serviria como secretário da Defesa do Presidente George W. Bush, avisou o principal responsável iraniano pela aquisição de armas que Teerão estava a perder amigos em Washington.
“Nem tente pedir-me ajuda”, terá dito Rumsfeld ao general Hassan Toufanian, num encontro descrito pelo jornal “The Washington Post” há três décadas e incluído no relatório. “Lembre-se, eu e Kissinger temos de aprovar as exportações [de armamento].”
Entre os que advogavam pressionar o Irão estava William Simon, que foi secretário do Tesouro e “czar” da energia nas administrações de Nixon e Ford. Ele responsabilizou o Xá pela subida dos preços do petróleo e queria que os EUA usassem as vendas de armas a Teerão como castigo. “Ele é o chefe do bando no preço do petróleo em conjunto com a Venezuela”, disse Simon a Nixon, em Julho de 1974, referindo-se ao soberano iraniano. “Será possível pressionarmos o Xá?”
Durante anos Kissinger defendeu uma linha mais moderada em relação ao Xá, que regressara ao poder depois de um golpe orquestrado pelos EUA em 1953. O relatório sugere que Kissinger receava pela instabilidade do Irão. Nessa altura, os "campus” universitários iranianos estavam agitados, guerrilheiros atacavam interesses norte-americanos e assassinavam importantes figuras. Em 1974, a CIA fez soar o alarme ao informar que a ambiciosa modernização do país empreendida por Mohammad Reza Phalvi estava a causar uma polarização económica e confrontos culturais no Irão.
A surpresa na OPEP
No final de 1976, o Xá enfrentava já profundas dificuldades financeiras, com falta de liquidez. Quis que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) aumentasse os preços em 25 por cento – o que os EUA rejeitaram. “Há unanimidade entre os meus conselheiros de que a economia mundial não está boa”, disse Ford ao embaixador iraniano Ardeshir Zahedi, em Dezembro de 1976, segundo os arquivos. “Qualquer aumento de preço terá um grave impacto na estrutura financeira mundial.”
Entretanto, outros responsáveis norte-americanos, entre eles Simon, estavam a negociar com os sauditas, nas costas do Xá, uma descida dos preços em troca de apoio militar e político ao reino árabe. A Arábia Saudita surpreendeu a OPEP ao anunciar numa cimeira, em Dezembro, em Doha (Qatar), que iriam aumentar a produção para 11,6 milhões de barris/dia, fazendo cair os preços.
“O mérito deveria ser nosso pelo que aconteceu na OPEP”, disse Kissinger a Ford. “Sempre afirmei que os sauditas eram a chave, mas foi a nossa grande diplomacia que conseguiu isso.”
Seria uma vitória de Pirro em termos de aliados. O Irão ficou sem dinheiro, tendo gasto a maior parte das suas reservas em armas e com os programas de Grande Civilização do Xá. O imperador estava falido. O declínio nas receitas do petróleo e uma contínua inflação levaram-no a abandonar os planos para democratizar o Irão.
“O colapso da cimeira de Doha, e a decisão saudita de reduzir os preços do petróleo, aumentar a produção para inundar o mercado, aceleraram a queda da economia iraniana no precipício”, escreve Cooper no relatório. Abalado pela diminuição de receitas, o governo do Xá impôs um severo orçamento de austeridade que deixou milhares de pessoas no desemprego, abalou a confiança dos investidores e deixou em pânico a classe média. O caos económico rapidamente se propagou.
Um ano depois da cimeira de Doha, as ruas de Teerão encheram-se com a primeira manifestação popular que iria culminar na revolução [do ‘Ayatollah’ Khomeini].
17.10.2008 - 18h40 Borzou Daraghi, em Beirute. Exclusivo PÚBLICO/Los Angeles Times
As administrações de Richard Nixon e Gerald Ford “criaram as condições que ajudaram a desestabilizar o Irão nos anos 1970 e contribuíram para a Revolução Islâmica”, revela a edição de Outono, posta hoje à venda, do “Middle East Journal”, publicação académica do “think tank” Middle East Institute, com sede em Washington.
O relatório baseia-se em documentos classificados – transcrições, memorandos e outra correspondência – e mostram profundas divergências em relação à subida dos preços do petróleo entre os dois presidentes republicanos e o imperador Mohammad Reza Pahlavi.
Após uma investigação de dois anos, o autor do relatório, Andrew Scott Cooper, destaca o papel de decisores políticos na Casa Branca, incluindo Donald H. Rumsfeld, um dos principais conselheiros de Ford, que tentavam fazer baixar os preços do petróleo para travar as ambições do “rei dos reis”, apesar das advertências do secretário de Estado, Henry Kissinger, de que uma tal atitude poderia precipitar a ascensão de um “regime radical” no Irão. “O Xá é tipo duro e mau, mas é verdadeiramente nosso aliado”, disse Kissinger a Ford, quando este ponderava opções para pressionar o monarca a descer os preços do petróleo. Esta conversa, em Agosto de 1974, consta do relatório de Cooper.
Dar preferência aos sauditas
Analistas e historiadores nem sempre estão de acordo sobre se não teria sido o Presidente democrata Jimmy Carter a contribuir para que o Irão se tornasse num dos principais opositores dos EUA no Médio Oriente, salientou o “LA Times”. No entanto, este novo relatório sugere que os seus antecessores republicanos não só contribuíram para a queda do Xá como estavam realmente empenhados num novo realinhamento que transformasse a Arábia Saudita no principal aliado de Washington no Golfo Pérsico.
Este reavaliação do Irão pré-revolucionário tem hoje especial relevância porque a situação económica da actual República Islâmica antes da revolução de 1979 assemelha-se às condições presentes, desta vez com um consumista Presidente Mahmoud Ahmdinejad a depender de elevados preços do petróleo para se manter no poder.
“O descalabro fiscal de Ahmadinejad evoca os tempos do Xá: a taxa de inflação no Irão eleva-se a quase 30 por cento e o défice é de aproximadamente 12 mil milhões de dólares, para não falar do desemprego e subemprego generalizados”, disse Cooper por e-mail.
O relatório que cita muitos documentos guardados na Biblioteca Presidencial Gerald R. Ford em Ann Arbor (Michigan), abre uma janela sobre o turbulento período que, há 30 anos, precipitou a Revolução Islâmica e abriu caminho a movimentos muçulmanos de inspiração religiosa por todo o Médio Oriente.
O papel de Donald Rumsfeld
À medida que os elevados preços do petróleo nos anos 1970 iam estrangulando a economia norte-americana, Washington começou a distanciar-se do Irão, sugerem os documentos. Em 1974, quando chegou ao fim um embargo petrolífero imposto como protesto pelo apoio dos EUA a Israel, responsáveis norte-americanos consideraram o Xá o principal culpado pela não descida dos preços e quiseram travá-lo. A certa altura, Rumsfeld, que mais tarde serviria como secretário da Defesa do Presidente George W. Bush, avisou o principal responsável iraniano pela aquisição de armas que Teerão estava a perder amigos em Washington.
“Nem tente pedir-me ajuda”, terá dito Rumsfeld ao general Hassan Toufanian, num encontro descrito pelo jornal “The Washington Post” há três décadas e incluído no relatório. “Lembre-se, eu e Kissinger temos de aprovar as exportações [de armamento].”
Entre os que advogavam pressionar o Irão estava William Simon, que foi secretário do Tesouro e “czar” da energia nas administrações de Nixon e Ford. Ele responsabilizou o Xá pela subida dos preços do petróleo e queria que os EUA usassem as vendas de armas a Teerão como castigo. “Ele é o chefe do bando no preço do petróleo em conjunto com a Venezuela”, disse Simon a Nixon, em Julho de 1974, referindo-se ao soberano iraniano. “Será possível pressionarmos o Xá?”
Durante anos Kissinger defendeu uma linha mais moderada em relação ao Xá, que regressara ao poder depois de um golpe orquestrado pelos EUA em 1953. O relatório sugere que Kissinger receava pela instabilidade do Irão. Nessa altura, os "campus” universitários iranianos estavam agitados, guerrilheiros atacavam interesses norte-americanos e assassinavam importantes figuras. Em 1974, a CIA fez soar o alarme ao informar que a ambiciosa modernização do país empreendida por Mohammad Reza Phalvi estava a causar uma polarização económica e confrontos culturais no Irão.
A surpresa na OPEP
No final de 1976, o Xá enfrentava já profundas dificuldades financeiras, com falta de liquidez. Quis que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) aumentasse os preços em 25 por cento – o que os EUA rejeitaram. “Há unanimidade entre os meus conselheiros de que a economia mundial não está boa”, disse Ford ao embaixador iraniano Ardeshir Zahedi, em Dezembro de 1976, segundo os arquivos. “Qualquer aumento de preço terá um grave impacto na estrutura financeira mundial.”
Entretanto, outros responsáveis norte-americanos, entre eles Simon, estavam a negociar com os sauditas, nas costas do Xá, uma descida dos preços em troca de apoio militar e político ao reino árabe. A Arábia Saudita surpreendeu a OPEP ao anunciar numa cimeira, em Dezembro, em Doha (Qatar), que iriam aumentar a produção para 11,6 milhões de barris/dia, fazendo cair os preços.
“O mérito deveria ser nosso pelo que aconteceu na OPEP”, disse Kissinger a Ford. “Sempre afirmei que os sauditas eram a chave, mas foi a nossa grande diplomacia que conseguiu isso.”
Seria uma vitória de Pirro em termos de aliados. O Irão ficou sem dinheiro, tendo gasto a maior parte das suas reservas em armas e com os programas de Grande Civilização do Xá. O imperador estava falido. O declínio nas receitas do petróleo e uma contínua inflação levaram-no a abandonar os planos para democratizar o Irão.
“O colapso da cimeira de Doha, e a decisão saudita de reduzir os preços do petróleo, aumentar a produção para inundar o mercado, aceleraram a queda da economia iraniana no precipício”, escreve Cooper no relatório. Abalado pela diminuição de receitas, o governo do Xá impôs um severo orçamento de austeridade que deixou milhares de pessoas no desemprego, abalou a confiança dos investidores e deixou em pânico a classe média. O caos económico rapidamente se propagou.
Um ano depois da cimeira de Doha, as ruas de Teerão encheram-se com a primeira manifestação popular que iria culminar na revolução [do ‘Ayatollah’ Khomeini].
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