UM JANTAR QUE DIZ MUITO SOBRE A FORÇA DA AMÉRIcana
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UM JANTAR QUE DIZ MUITO SOBRE A FORÇA DA AMÉRIcana
UM JANTAR QUE DIZ MUITO SOBRE A FORÇA DA AMÉRICA
Ferreira Fernandes
Jornalista - ferreira.fernandes@dn.pt
Alfred Emanuel Smith, Jr. - na História americana, Al Smith - foi o primeiro católico a concorrer à Casa Branca por um grande partido. Ele perdeu, em 1928, contra o republicano Herbert Hoover, o presidente da Grande Depressão. Smith, governador democrata de Nova Iorque em vários mandatos, impulsionou a construção do Empire State Building. Os quatro avós de Smith eram de origem irlandesa, alemã, italiana e inglesa, ele era um filho da imigração que fez o país. Daí o Empire, o mais alto prédio do mundo durante décadas, construído quando tudo estagnava - ele significava a América a voltar a subir a pulso.
Há uma Fundação Al Smith (ele morreu em 1944), com um jantar anual que recolhe fundos para instituições católicas. O jantar, nos anos de eleições, convida para oradores os candidatos republicano e o democrata. Preside o cardeal de Nova Iorque, ao lado de quem se sentam os candidatos. A Igreja Católica gosta de vinganças frias - Al Smith perdeu as presidenciais porque a América protestante disse que ele iria aconselhar-se com o Papa.
Já lá falaram Kennedy e Reagan. Em algum momento, no salão de jantar do Waldorf Astoria, perante o sorriso melífluo do cardeal de serviço, alguém, obrigado a usar fraque e laçarote branco, decidiu falar com humor. Passou a ser a marca do jantar e, nos anos eleitorais, a última oportunidade para um candidato se mostrar um bom entertainer. Em 1988, o democrata Dukakis disse: "Dizem que nunca tenho interesse por nada - não me interessa. Dizem que sou arrogante - sou muito mais que isso." Em 2000, George W. Bush disse, olhando a nata de Nova Iorque: "Estão aqui os que têm e os que têm mais. Há quem vos chame elite. Eu chamo-vos a minha base."
Na quinta-feira passada, ladeando o cardeal Edward Egan, estiveram lá Obama e McCain, pela última vez juntos antes da votação. Ambos esmeraram-se no auto-escárnio e nas picadas ao adversário impensáveis nos nossos hábitos europeus. McCain disse suspeitar que há democratas que o apoiam, deu um tempinho e disse: "Olá, Hillary Clinton!", enquanto a própria, numa das mesas do jantar, se ria às gargalhadas.
Obama virou-se para o bisneto de Al Smith e disse: "Claro que não conheci o seu bisavô, mas McCain contou-me muita coisa." O republicano, o mais velho candidato presidencial da História dos EUA, bateu palmas. Houve ainda uma piada, dita por Obama, que juntou os dois candidatos: "O telejornal da Fox diz que fiz duas crianças negras no meu casamento..." Há oito anos, nas primárias republicanas, amigos de Bush puseram a correr o boato de que McCain tinha uma filha bastarda negra.
Quem admira na América a força da palavra, jantares destes alimentam a esperança.
Vitor mango- Pontos : 118184
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