Não é bom o que nos espera por Baptista Bastos
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Não é bom o que nos espera por Baptista Bastos
Não é bom o que nos espera
24 Agosto 2012 | 12:22
Baptista Bastos - b.bastos@netcabo.pt
Na Quarteira, Pedro Passos Coelho, sempre veemente, disse à puridade que 2013 será o ano da descompressão, e que as coisas vão melhorar para os portugueses.
Na Quarteira, Pedro Passos Coelho, sempre veemente, disse à puridade que 2013 será o ano da descompressão, e que as coisas vão melhorar para os portugueses. Quarenta e oito horas depois, o ministro da Economia, usando o tom de voz que a situação requeria, desmentiu o primeiro-ministro com a declaração de que 2013 seria um ano pior do que o de agora. Sabemos que Passos é dado ao verbo impetuoso e irreflectido. Os apaniguados esclarecem que não é por mal: apenas não quer causar pânico maior do que aquele que já temos. Outros, porém, os detractores, sublinham que o homem é propenso a mentirocas, e que manifesta uma acentuada indiferença pela realidade dos factos.
Seja como for, a credibilidade de Passos está, acentuadamente, muito suja. E as frases apaziguadoras com que tenta acalmar os nossos infortúnios caem pela base com as evidências da verdade. Se um diz uma coisa e outro diz outra; se não se percebe nada do que assevera o dr. Gaspar, e nada se sabe do que pensa o dr. Portas; se a dr.ª Assunção Cristas parece assarapantada com as coisas do mar, da terra e do ar, de que é , putativamente, responsável; se as polémicas que envolvem a ministra da Justiça com o bastonário da Ordem dos Advogados deixam os incautos apreensivos; se, se, se o Governo é este desleixo mal assertoado, esta contradição e esta incompetência mal remendada - então, que fazer?
Não é de mais repetir que Pedro Passos Coelho diz o que não deve dizer-nos e não nos diz o que devemos saber. O estado da nação só não é uma incógnita porque todos sofremos na carne a violência de decisões inconcebíveis. As nossas aflições não encontram remédio: o país, quer dizer nós, afundamo-nos sem remissão, e o dr. Cavaco torna-se cada vez mais cúmplice desta imoralidade por ausência de revelação.
O ridículo da situação leva os responsáveis governamentais a acusar o governo anterior de tudo e de mais alguma coisa. Sócrates é responsável de muita coisa, é certo e provado, mas ser culpado de tudo torna-se anedótico. A Esquerda, por seu turno, toda a Esquerda é uma anomalia: protestar não chega e, aparentemente, apenas se aguarda a intervenção e a força dos sindicatos. Existe uma desconsideração popular cada vez mais generalizada. O que é perigosíssimo porque conduz à inércia do combate. Os mais velhos parecem cansados; e com razão. Os mais novos ou emigram ou tencionam emigrar, logo - assim estejam na posse dos documentos das suas habilitações.
Se todos nós sabemos desta tragédia, porque motivo o Governo é surdo e cego às evidências? Passos e os seus desejam, somente, empobrecer-nos até ao limite? Para quê? Porque obedecem a uma ideologia, que ambiciona hegemonizar-se das sociedades mais débeis. Há semanas, António Barreto declarou, na televisão, que ainda há espaço (salvo seja!) para mais austeridade. Não merece a pena solicitar a Barreto que nos diga onde extorquir mais dinheiro. Mas há uma responsabilidade, pelo menos intelectual, já não digo moral, a que ele não pode escapar. Interessa-me mediocremente que ele tenha sido estalinista, depois maoísta, a seguir homem-de-mão para a destruição da Reforma Agrária. É um problema dele, embora tenhamos de aceitar que os caminhos percorridos tenham sido ínvios e escabrosos. Porém, António Barreto é um dos muitos que abjuraram, haja Deus para lhes perdoar! Embora muitos portugueses não esqueçam nem perdoem. Ele que viva bem com os seus fantasmas. Faz pena ver um intelectual brioso estar ao serviço do absurdo.
Há quem resista, claro! Os abandonos causam-nos perplexidade. Francisco Louçã, de quem gosto pela qualidade ímpar das suas intervenções, pela coragem moral e física que manifesta, pela ironia do discurso e pela sabedoria em que assenta o que diz - Louçã vai abandonar a chefia do Bloco de Esquerda. As razões são desconhecidas. Não chega ele dizer que é preciso renovação e remoçamento. E causa confusão ouvi-lo a indicar sucessores. Goste-se ou não, o Bloco de Esquerda tem animado a política portuguesa, através de propostas arrojadas e de uma criatividade crítica a que não estávamos habituados. Ninguém sabe o destino daquele partido. A sua condição de protestatário agitou as águas moles da sociedade, e a juventude sentiu-se atraída por aquilo que representava. A ausência de Francisco Louçã será, mesmo, uma ausência presencial, ou o conhecido político vai-se embora em definitivo? A ver vamos. Mas que é mau, é.
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