O anúncio na quinta-feira pelo Banco Central Europeu (BCE) do lançamento de um novo programa de compra de dívida de países membros da zona euro provocou uma vaga de redução do risco de incumprimento nos países "periféricos" ao longo da tarde.
O novo programa foi designado por Outright Monetary Transactions (Transações Monetárias sem Reservas) e ficará certamente conhecido pelo seu acrónimo OMT a partir de agora.
O OMT pretende ser a tão falada "bazuca" para acabar com a especulação nos mercados da dívida em torno da probabilidade de uma onda de saídas do euro por parte dos países "periféricos". As saídas do euro aumentariam a possibilidade de defaults (eventos de incumprimento da dívida) nesses países.
A probabilidade dessa onda tem "inflacionado" o risco de incumprimento e os níveis das yields dos títulos desses países no mercado secundário (o mercado onde os detentores de títulos do Tesouro negoceiam entre si). Mário Draghi, o presidente do BCE, disse, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do conselho de governadores do banco, que, com o OMT, pretende travar essa especulação e mostrar, em atos, que "o euro é irreversível".
Iraque substituiu Espanha
Espanha foi o principal membro da zona euro beneficiado pelo anúncio de Mário Draghi, ainda o OMT não está sequer no terreno e nem Madrid solicitou formalmente um pedido de resgate global a Bruxelas.
A probabilidade de incumprimento da dívida espanhola fechou na quinta-feira em 28,69%, segundo dados da CMA DataVision. Na quarta-feira tinha fechado em 32% e no início da semana estava em 35%. Uma redução muito significativa do risco em apenas três dias. Entre o dia 3 e 6 de agosto, o preço dos credit default swaps (derivados financeiros que funcionam como seguros contra o risco de incumprimento, cds no acrónimo) caiu de 502 pontos base para 395 pontos base.
Em virtude desta redução significativa, Espanha saiu na quinta-feira do "clube" dos candidatos a uma bancarrota, o grupo dos dez países com mais alta probabilidade de entrar em default num horizonte de cinco anos. Para o 10º lugar entrou o Iraque.
A saída de Espanha segue-se às da Irlanda a 14 de agosto e da Itália a 31 de agosto. O risco de incumprimento da Eslovénia (outro membro da zona euro desde 2007) é, agora, mais elevado do que o de Itália ou da Irlanda.
Portugal desceu para o 8º lugar
O segundo beneficiário foi Portugal, cujo risco de incumprimento desceu para 37,18%, o que levou o país a descer da 7ª para a 8ª posição, sendo ultrapassado pelo estado norte-americano do Illinois.
No início da semana, a probabilidade de incumprimento da dívida portuguesa estava em 41,75% e o preço dos cds situava-se em 631,93 pontos base. Na quinta-feira fecharam em 37,18% e 547 pontos base respetivamente.
Para descer para a 9ª posição, e trocar de lugar com o estado norte-americano da Califórnia, o risco da dívida portuguesa terá de "emagrecer" mais 5,5 pontos percentuais. Resta avaliar, nas próximas semanas, quais serão os resultados do 5º exame da troika ao andamento do plano de ajustamento português e como as suas conclusões serão apreciadas pelos investidores da dívida.
No mercado secundário, as yields das obrigações do Tesouro (OT) português desceram ao longo do dia de quinta-feira, acentuando-se a queda depois do anúncio das decisões do BCE. No prazo a dois anos, as yields desceram para 4,613%, um nível que já não ocorria desde o início de março de 2011 (antes do pedido de resgate a Bruxelas), segundo dados da Bloomberg. As yields das OT a três anos fecharam abaixo dos 5%, em 4,72% e as yields das OT a dez anos fecharam, pela primeira vez desde o começo de abril de 2011, abaixo de 9%, em 8,705%.
O "clube" dos candidatos a uma bancarrota num horizonte de cinco anos baseia-se numa probabilidade de incumprimento da dívida calculada pela CMA DataVision com base num conjunto de indicadores, incluindo o custo dos credit default swaps. Atualmente, o grupo de 10 países e estados alberga os seguintes: Grécia, que lidera, Chipre, Argentina, Paquistão, Venezuela, Ucrânia, Estado do Illinois, Portugal, Estado da Califórnia e Iraque. Tendo já incluído seis membros da zona euro, atualmente só conta com três (Grécia, Chipre e Portugal).
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