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China: uma história de sucesso made in EUA

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Mensagem por TheNightTrain Qua Out 03, 2012 3:06 pm

China: uma história de sucesso made in EUA
24 Setembro 2012 | 09:47
Brahma Chellaney



Durante mais de um século, a estratégia dos Estados Unidos na Ásia tem sido procurar um equilíbrio de poder estável para impedir o surgimento de uma potência hegemónica. No entanto, segundo a sua Estratégia de Segurança Nacional, os Estados Unidos também estão empenhados em acolher a "emergência de uma China pacífica e próspera que coopere connosco para enfrentar os desafios comuns e interesses mútuos". Assim, a política dos Estados Unidos para a Ásia tem estado, de certa forma, em guerra consigo própria.
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Na verdade, os Estados Unidos têm desempenhado um papel de destaque na ascensão da China. Por exemplo, em vez de manter as sanções comerciais contra a China depois do massacre da Praça de Tiananmen em 1989, os Estados Unidos decidiram integrar o país nas instituições globais. Mas a política externa dos Estados Unidos já tinha adoptado uma estratégia favorável à China muito antes disso.

Em 1905, o presidente Theodore Roosevelt, anfitrião da conferência da paz em Portsmouth, New Hampshire, após a Guerra Rússia-Japão, pronunciou-se a favor da devolução da região da Manchúria à China e de um equilíbrio de poder na Ásia Oriental. A guerra acabou por tornar os Estados Unidos num participante activo nos assuntos da China.

Depois de os comunistas tomarem o poder na China, em 1949, os Estados Unidos consideraram abertamente que o comunismo chinês era benigno e, portanto, diferente do soviético. E foi depois de os comunistas reprimirem o movimento pró-democracia que os Estados Unidos ajudaram a China a converter-se no gigante das exportações que acumulou superávits comerciais e que passou a ser a principal fonte de fluxos de capital para os Estados Unidos.

A política dos Estados Unidos em relação à China comunista atravessou três fases. Na primeira, os Estados Unidos cortejaram o regime de Mao Zedong, apesar da Guerra da Coreia, da anexação do Tibete, e das caças domésticas às bruxas, como a Campanha das Cem Flores. O cortejo deu lugar ao afastamento durante a segunda fase, quando a política dos Estados Unidos tentou isolar a China, durante a maior parte dos anos sessenta.

A terceira fase começou imediatamente depois dos confrontos militares sino-soviéticos, quando os Estados Unidos procuraram activamente explorar a divisão do mundo comunista, alinhando a China com a sua estratégia anti-soviética. Ainda que a China tenha provocado claramente os sangrentos confrontos fronteiriços, os Estados Unidos alinharam com o regime de Mao. Isso ajudou a estabelecer as bases para a "abertura" da China de 1970-1971, projectada pelo conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Henry Kissinger, que até então nada sabia sobre o país.

Desde então, os Estados Unidos têm seguido uma política consciente de apoiar o crescimento da China. Na verdade, o presidente Jimmy Carter enviou um memorando para vários departamentos do governo dos Estados Unidos dando instruções para ajudar na ascensão da China – uma abordagem que permanece até hoje em vigor, mesmo quando os Estados Unidos se tentam proteger do risco do poder chinês dar origem à arrogância. Nem o facto de a China ter disparado mísseis no estreito do Taiwan em 1996 mudou a política dos Estados Unidos. O país tem vindo a afrouxar gradualmente os seus laços com o Taiwan, e nenhum membro do governo visitou a ilha desde aquele incidente.

Visto por este prisma, o sucesso espectacular da economia chinesa – que inclui o superávit comercial e as maiores reservas de moeda estrangeira do mundo - deve-se, em grande medida, à política dos Estados Unidos a partir dos anos setenta. Sem a expansão significativa das relações comerciais e financeiras entre os Estados Unidos e a China, o crescimento chinês teria sido muito mais lento e difícil de sustentar.

Aliados por conveniência durante a segunda metade da Guerra Fria, os Estados Unidos e a China tornaram-se parceiros unidos pela interdependência. Os Estados Unidos dependem do superávit comercial e das poupanças da China para financiar os seus défices desmesurados, enquanto a China depende das exportações para os Estados Unidos para manter o seu crescimento económico e financiar a sua modernização militar. Ao colocar mais de dois terços das suas gigantescas reservas de moeda estrangeira em activos denominados em dólares, a China ganhou uma importante influência política.

Assim, a China é muito diferente dos anteriores adversários americanos. Os interesses dos Estados Unidos estão tão ligados aos dos chineses que uma política de isolamento ou confronto não seria viável. Mesmo sobre a questão da democracia, os Estados Unidos preferem dar sermões a outras ditaduras, em vez de à maior autocracia do mundo.

Mas também é verdade que os Estados Unidos estão preocupados com o objectivo não muito secreto da China de dominar a Ásia – um objectivo que vai contra os interesses comerciais e de segurança dos Estados Unidos e contra o objectivo maior de alcançar um equilíbrio de poder na Ásia. Para evitar o domínio chinês, os Estados Unidos já começaram a criar influências e parcerias, sem fazer qualquer tentativa de conter a China.

Para os Estados Unidos, o poder crescente da China ajuda, na verdade, a justificar as suas posições militares na Ásia, a manter os seus actuais aliados na região e a procurar novos parceiros estratégicos. Na verdade, uma China cada vez mais confiante foi uma vantagem diplomática para os Estados Unidos no fortalecimento e expansão das suas relações de segurança na Ásia.

A lição é clara: o surgimento de uma potência mundial pode fortalecer o papel e importância de outra potência em relativa decadência. Há cerca de uma década, os Estados Unidos começaram a sentir-se marginalizados na Ásia devido a vários acontecimentos, incluindo a "ofensiva de charme" da China. Mas agora, os Estados Unidos recuperaram o seu papel central. A Coreia do Sul fortaleceu a sua aliança militar com eles, o Japão recuou no esforço de persuadi-los a mudar a sua base naval de Okinawa, Singapura permitiu-lhes ter uma presença naval, a Austrália está a receber a Marinha dos Estados Unidos, e a Índia, Vietname, Indonésia e Filipinas, entre outros, também se aproximaram dos Estados Unidos.

Mas ninguém deve ter ilusões sobre a política dos Estados Unidos. A viragem americana para a Ásia cumpre um duplo propósito: procurar um equilíbrio de poder com a ajuda dos aliados e parceiros estratégicos, e ao mesmo tempo, acomodar a ascensão da China.

Brahma Chellaney é o autor de "Asian Juggernaut" e "Water: Asia’s New Battleground".

© Project Syndicate, 2012.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria

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