O risco de bancarrota num horizonte de cinco anos subiu a meio da tarde de hoje para 37,47% e o custo dos credit default swaps (cds, seguros contra a probabilidade de incumprimento) ligados à dívida soberana portuguesa saltaram para mais de 535 pontos base, segundo dados da CMA DataVision. Ontem haviam fechado em 36,08% e 510 pontos base respetivamente.
Também as yields das obrigações do Tesouro (OT) a dez anos chegaram a subir para 8,505% e acabaram po fechar em 8,45%; ontem haviam fechado em 8,195%, segundo dados da Bloomberg.
O ponto de inversão da trajetória no risco e nos juros ocorreu a 18 de outubro, dia da mais recente cimeira europeia, que foi inconclusiva. No dia anterior, a probabilidade de incumprimento tinha descido para 30,63%, o valor mais baixo desde novembro de 2010. E as yields das OT a dez anos haviam descido para 7,749%, um nível que não se observava desde 25 de março de 2011. Os valores a que nos referimos são de fecho do dia.
A partir de 30 de janeiro deste ano, quando Portugal se aproximou de um nível de risco de incumprimento (superior a 73%) que apontava para a possibilidade de um evento de crédito iminente e atingiu um pico, após a adesão ao euro, nas yields a dez anos que fecharam em 17,39%, que a trajetória foi descendente. O bom exemplo português foi louvado a par do irlandês.
A partir de 18 de outubro observamos uma subida nestes indicadores da dívida. Esta trajetória atual aponta para um risco hoje superior em mais de seis pontos percentuais ao verificado a 17 de outubro e um nível de yields nas OT a dez anos muito acima do limiar dos 7%, estabelecido por Abebe Selassie, chefe de Missão do Fundo Monetário Internacional para Portugal, como o limite abaixo do qual será possível equacionar o "regresso aos mercados" (ou seja, a emissões de dívida de médio e curto prazo pelo IGCP, a agência que gere a dívida portuguesa).
A subida verificou-se em todas as maturidades, e não só no prazo a dez anos. Nas OT a dois anos, as yields subiram de 4,219% a 17 de outubro para 5,673% no fecho de hoje. Nas OT a cinco anos, as yields subiram de 5,495% para 7,014% no mesmo período. No prazo a sete anos - que corresponde, grosso modo, à maturidade média do stock de dívida - as yields no mercado secundário subiram para 8,416%.
O prémio de risco (que mede o diferencial entre o custo da dívida portuguesa e da alemã) regressou hoje aos 7 pontos percentuais. Esteve abaixo desse patamar entre 5 de outubro e 1 de novembro.
Fitch: "mais apoio oficial"
A Fitch disse hoje que a sua previsão "é que Portugal vai receber mais apoio oficial [do designado sector oficial, corporizado nas entidades que constituem a troika] antes de regressar aos mercados". A agência de notação considerou que o regresso aos mercados "está ainda longe". E acrescentou: "Ainda que os países que saiam dos programas de ajustamento são elegíveis para o programa do Banco Central Europeu de compra de títulos [no mercado secundário, programa designado pelo acrónimo OMT], as fracas perspetivas económicas de Portugal, a dimensão do ajustamento orçamental a realizar e a natureza frágil do mercado da dívida soberana da zona euro exigiriam uma melhoria significativa no sentimento [dos mercados da dívida] para que o país possa regressar em pleno ao mercado no próximo ano".
A subida portuguesa na probabilidade de incumprimento da sua dívida soberana é um dos factos marcantes nas duas últimas semanas, a par do disparo no risco da dívida argentina. Portugal subiu de 9º para 6º lugar no "clube" dos 10 países com maior risco de bancarrota e a Argentina passou da 3ª para a 2ª posição, ultrapassando Chipre.
Entrou ontem em vigor um regulamento europeu sobre vendas a descoberto e credit default swaps (cds) cujo efeito sobre a liquidez destes mercados de dívida tem de ser avaliado. Os artigos 13 e 14 da nova legislação, decidida no ano passado pelo Parlamento Europeu, colocam restrições às vendas a descoberto da dívida soberana, quer em termos de venda ou recompra de obrigações como de cds. A própria legislação acautela contra o efeito negativo na liquidez dos mercados, podendo suspender a aplicação das restrições.
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