Os "ótarcas"
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Os "ótarcas"
Os "ótarcas"
As ditas "autarquias locais" - redundância que diz tudo sobre os
atropelos semânticos e conceptuais da tal Constituição feita sobre o
joelho por duas centenas de homens e mulheres que não conheciam Portugal
- estão em polvorosa e ameaçam com mobilizações e marchas sobre a
capital. Durante anos, à medida que se iam manifestando os sintomas do
carácter intrinsecamente deletério do regime, insistiu-se na aclamação
do "poder autárquico", gabando-lhe as conquistas e proezas. Subitamente,
há cerca de dez anos, descobriu-se que o regime começara precisamente a
apodrecer a níveis pouco menores que a infâmia nesses pequenos mundos,
amiúde dominados por gente predatória, criminosamente irresponsável,
corruptora e corruptível. Valentim Loureiro, Avelino Ferreira Torres,
Abílio Curto, Mesquita Machado, João Rocha, Luís Monterroso, Paulo
Caldas, a inefável Felgueiras, Isaltino Morais, Luís Vilar, António
Lobo, Júlio Santos, Judas e Irene Barata cobriram parangonas e esgotaram
o reportório dos códigos em crimes, infracções, faltas e abusos que, de
tão abracadabrantes, uns fazem sorrir, outros provocam iras.
O "poder autárquico" não existe. Mal fizeram o boníssimo Mouzinho da
Silveira e seus descendentes ao meter os dedos teóricos em construções
humanas e orgânicas, substituindo-as por entidades administrativas sem
gabarito e autenticidade territorial, social e económica. Antes, os
Concelhos nutriam-se de foros, direitos e privilégios conquistados; eram
complexíssimas entidades surgidas e crescidas do empirismo histórico.
Nunca será demais reler Damião Peres, Gama Barros e Costa Lobo para
tentar compreender o carácter genuinamente democrático desses antigos
Concelhos. Depois, veio o administrativismo e, recentemente o pequeno
banditismo. Onde antes havia uma elite local, hoje há o pato bravo, o
chefe dos bombeiros, o madeireiro, o dono da loja de electrodomésticos, o
presidente do futebol local ou o advogado que conhece todos os
alçapões. Os munícipes regalaram-se com tanto pavilhão polivalente,
tanto auditório, tanta puxada eléctrica, tanta estrada e tanto
loteamento, esquecendo-se que tudo isso fazia a riqueza das potestades e
das negociatas. Hoje, tanto Concelhos como juntas, estão falidas. Deram
emprego a todos, pediram empréstimos, viram multiplicados por cinco e
seis os orçamentos vindos dos cofres do Estado. A miragem autárquica
transformou-se nisto, em pesadelo cansado e em oligarquia sem mérito.
Que falta faz um quadro administrativo dirigente e profissionalizado,
preparado, honesto, responsável, sujeito a avaliação, submetido a
auditorias e inspecções.
Publicada por
Combustões
em
9.11.12
1 comentário:
Etiquetas:
Poder local; autarquias
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 117576
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