Ainda Israel
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Ainda Israel
Ainda Israel
Na primeira metade de 2001, estive
presente num jantar anual organizado por uma associação de amizade
Estados Unidos-Israel, cujo nome exato não posso precisar. Por uma
qualquer razão, um grupo restrito de embaixadores junto das Nações
Unidas era convidado para esse evento. A cada um competia a presidência
de uma das mesas, com cerca de uma dúzia pessoas, pelas quais se
desdobrava o imenso jantar, num local luxuoso de Nova Iorque. A bandeira
portuguesa, tal como a americana e a israelita, figurava no centro da
nossa mesa.
O convidado de honra desse
jantar era Shimon Peres, então vice-primeiro ministro e ministro dos
Negócios Estrangeiros de um governo israelita chefiado por Ariel Sharon.
Peres teve uma intervenção de grande sensatez, com elevado sentido de
compromisso, sublinhando os riscos que havia se se viesse a provocar o
isolamento de Yasser Arafat e da Autoridade Palestiniana. O futuro,
aliás, veio a dar-lhe completa razão.
O ambiente que recebeu as
palavras de Peres, nesse encontro que juntava uma elite da comunidade
judaica americana, foi de um progressivo gelo. Passados os primeiros
minutos do discurso, as palmas que tinham começado por sublinhar algumas
das suas frases esmoreceram, até desaparecerem por completo. No final,
notei que, na minha mesa, eu tinha sido o único a aplaudir. Na cara e
nos comentários secos dos meus vizinhos senti a rejeição profunda da
mensagem de Peres. Ouvir alguém falar de perspetivas de negociação com
os palestinianos, com cedências na política de expansão dos colonatos,
na lógica do "land for peace", era um visível sacrilégio para aquelas
pessoas, que aparentemente consideravam que, das suas "trincheiras" de
Manhattan, defendiam melhor os interesses de Israel do que um seu líder
histórico. Nessa noite, confirmei muito do que pensava sobre o papel da
comunidade judaica americana na questão israelo-palestiniana.
Lembrei-me ontem desta história, ao ler notícias de que o comissário
europeu do comércio foi alvo de fortes críticas e de acusações de
anti-sionismo por ter lamentado que o lóbi judaico americano estivesse a
condicionar a posição do seu governo e acabasse por limitar Washington
na sua possível pressão sobre Tel-Aviv, para a conclusão de um novo
acordo de paz.
Cada vez mais me convenço que a atitude radical de alguns dos amigos
externos de Israel, que induzem o país a políticas que contribuem para o
seu progressivo isolamento, acaba, muitas vezes, por ajudar à
estratégia dos seus piores inimigos. Provavelmente, também isto não pode
ser dito. Mas eu digo.
Publicado por
Francisco Seixas da Costa
às
23:26
2 comentários:
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