Contra Manning, EUA dizem que Al Qaeda usou dados revelados pelo Wikileaks

Contra Manning, EUA dizem que Al Qaeda usou dados revelados pelo Wikileaks
No julgamento do soldado norte-americano, cartas de Osama bin Laden foram utilizadas como evidência pela acusação


Quase um mês depois do início do julgamento de Bradley Manning, o soldado norte-americano que vazou informações sigilosas dos EUA ao Wikileaks, a promotoria apresentou provas para justificar a acusação de “conluio com o inimigo”, que pode lhe valer a pena de prisão perpétua. Nesta segunda-feira (01/07), os promotores apresentaram evidências de que a Al Qaeda teria se servido dos dados vazados por Manning.

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De acordo com a promotoria, que está para encerrar seu caso contra o soldado, alguns dos documentos sigilosos vazados por ele foram encontrados no esconderijo paquistanês onde Osama bin Laden se refugiou por anos durante a operação de 2011 que matou o líder da Al Qaeda. 

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As provas, recolhidas em 2 de maio de 2011, são uma carta de bin Laden em que pede a um membro do grupo terrorista que procure informações do Departamento de Defesa no Wikileaks e uma outra correspondência em que essa pessoa envia ao chefe relatos da guerra do Afeganistão -- entregues ao Wikileaks pelo soldado --, além de informações diplomáticas dos EUA. A carta do líder da Al Qaeda já havia sido discutida na corte antes, mas não havia sido apresentada. 

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A terceira evidência apresentada foi um vídeo, originalmente liberado em 2011, em que Adam Gadahn, porta-voz americano da Al Qaeda, diz, em inglês, que os apoiadores da organização devem “tirar vantagem dos recursos disponíveis na internet”. O vídeo continha também imagens de um helicóptero atacando civis em Bagdá, as quais Manning confessou ter fornecido ao Wikileaks sob o nome “Assassinato Colateral”. 
Agência Efe

Bradley Manning saindo de uma das primeiras audiências públicas contra ele, ainda em 2011 

A última prova apresentada foi a revista Inspire, publicada pela Al Qaeda na península Arábica. A edição utilizada pelos promotores oferecia aos leitores uma lista de atividades que eles poderiam fazer para ajudar os mujahedin, incluindo a busca de informação útil para a jihad. “Qualquer coisa do Wikileaks é útil para arquivar”, dizia a revista.

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As apresentações do vídeo de Gadahn e da revista como provas não foram contestadas pela defesa, ainda que ambos tenham sido publicados alguns meses após a prisão de Manning no Iraque, onde trabalhava como analista de inteligência (o vídeo data de junho de 2011, enquanto a edição da revista, de janeiro do mesmo ano).
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Acusações

Apesar de “conluio com o inimigo” ser a principal queixa contra Manning, outras 21 acusações pesam sobre ele. Dessas, o soldado de 25 anos já se declarou culpado de dez, todas consideradas mais leves.

Para condená-lo à prisão perpétua, os promotores devem provar que Manning sabia que publicar os documentos sigilosos poderia fazer com que um número considerável de informações caísse nas mãos dos inimigos dos Estados Unidos.

Wikicommons
Na última sexta-feira (28/06), os EUA, representados pelos promotores no tribunal, conseguiram uma vitória importante contra Manning, ao tentar provar que o objetivo dele nunca foi educar o público, como diz a defesa, mas preencher uma espécie de “lista de compras” exigida pelo Wikileaks.
Como prova, foram utilizados dois tweets do perfil oficial do Wikileaks, publicados entre maio e junho de 2010. O primeiro pedia aos leitores que apresentassem uma lista de e-mails militares e o outro anunciava que o site havia conseguido um vídeo de um ataque dos EUA no qual os civis foram prejudicados. 

Quem é Bradley Manning?

Bradley Manning trabalhava como analista de inteligência do Exército norte-americano no Iraque quando foi preso, em maio de 2010. Ele começou a baixar informações sigilosas logo depois de ser enviado ao país, em 2009.

Neste ano, Manning confessou a transferência de um vasto número de documentos dos Estados Unidos, incluindo as informações das guerras do Iraque e do Afeganistão, o vídeo do helicóptero Apache, arquivos dos detentos de Guantánamo e centenas de milhares de telegramas diplomáticos. Entretanto, ele continua declarando não ser culpado de “conluio com o inimigo”.

Sua defesa planeja provar que seu objetivo é educar o público sobre as realidades do Exército e da diplomacia norte-americanas e não revelar material que colocaria as fontes de inteligência em perigo.

Os Estados Unidos têm acusado Manning de expor informações que colocam os cidadãos do país em risco desde 2009, a mesma acusação que fazem contra Edward Snowden, o funcionário da CIA que vazou dados de espionagem dos EUA a dois jornais. O presidente Barack Obama já foi amplamente contestado e criticado por seu posicionamento em relação aos dois, mas continuou insistindo que os comportamentos de ambos representavam perigo para seu país.