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Ácerca de Victor Gaspar

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Mensagem por Vagueante Sex Ago 23, 2013 11:37 am


Acerca de Vítor Gaspar

Jornal PÚBLICO


António José de Barros Veloso

Durante o mês de Agosto, o jornal PÚBLICO convidou várias personalidades para se pronunciarem sobre a acção de Vítor Gaspar [VG] nos dois anos que esteve à frente do Ministério das Finanças. Nos seus depoimentos, apontaram aspectos positivos e negativos, críticas e concordâncias, mas todos eles reconheceram as qualidades profissionais e o prestígio internacional do visado.

Que pensa um cidadão como eu que de Finanças nada sabe mas que, felizmente, tem biblioteca? Começarei por dizer que todas as vezes que vi VG na televisão só me fez lembrar uma figura que marcou a nossa política há décadas atrás, também muito considerado na sua área técnica - a hidrografia -, mas que, quando visitava uma qualquer povoação, dizia coisas como esta: "Estou aqui hoje pela primeira vez porque, se já cá tivesse estado, esta seria a segunda vez". Acho que o discurso sobre o "desvio colossal" e outros que se seguiram não ficam muito atrás disto.

Mas a questão é mais séria e, como os nossos comentaristas recorrem com frequência a metáforas ligadas à Medicina do tipo "isto já não vai lá com aspirina mas sim com antibióticos", tomo a liberdade, na qualidade de médico, de invocar a minha autoridade e recorrer a uma comparação do mesmo género.

Há várias décadas, fui chamado para assistir um doente moribundo que se julgava ter uma hepatite. Após rápido exame, percebi que o diagnóstico estava errado. O que ele tinha era uma meningite provocada por uma bactéria muito agressiva e que era urgente actuar sem hesitações nem contemplações: muitos milhões de unidades de penicilina por via endovenosa. Passados poucos dias, surgiu uma complicação: tromboflebite da veia utilizada para administração do antibiótico, seguida de embolia pulmonar. Rapidamente instituiu-se a terapêutica indicada (anti-inflamatórios e anticoagulantes), que, por sua vez, provocou outro efeito secundário: hemorragia digestiva abundante que foi preciso tratar com vitamina K e transfusões de sangue. O doente esteve várias semanas entre a vida e a morte, mas acabou por ter alta, curado. Tinha na altura 56 anos; encontrei-o há meses: ia fazer 90 anos e estava de perfeita saúde.

Espero que me perdoem a linguagem técnica, mesmo assim menos impenetrável do que aquela com que somos bombardeados diariamente pelos economistas. Mas ela é necessária para tentar explicar esta coisa simples: tal como acontece na Medicina, também nas Finanças é indispensável, para ter êxito, fazer o diagnóstico correcto, aplicar com convicção o tratamento adequado e ser capaz de resolver os efeitos secundários resultantes das medidas tomadas. Ou seja: não basta ter conhecimentos, relações internacionais e ligar o "piloto automático". É preciso conhecer o doente, estar atento, ter intuição, ser perspicaz e mostrar capacidade de adaptação aos efeitos colaterais que vão surgindo. Claramente, não foi esse o caso de VG.

Eu sei que, nas Finanças, as decisões são condicionadas por um factor que não está presente naquilo a que chamarei a "Medicina face-a-face". Nesta, o único objectivo é curar o doente; naquela, há um obstáculo que se interpõe e é preciso contornar, a política. Não me refiro à nossa politiquice rasteira, à qual VG também não conseguiu sobreviver. Estou a pensar naquela que tem conteúdo ideológico e que está hoje colocada perante opções dramáticas num mundo dominado por gigantescas injustiças sociais e interesses financeiros implacáveis, em sociedades bem informadas e infiltradas por "redes sociais". É um cenário explosivo que poderá conduzir, mais cedo ou mais tarde, a catástrofes inimagináveis, pois, como dizia Mark Twain, "a história não se repete mas rima".

Parece evidente que não é com medidas requentadas, tomadas por tecnoburocratas sem imaginação, muitos deles ligados a interesses inconfessáveis, que o problema será ultrapassado. Parece-me que, também aqui, VG se colocou do lado errado.

Dito isto, quero afirmar categoricamente que nada tenho de pessoal contra VG. Desejo-lhe até uma carreira cheia de êxitos. Na chamada "Europa", na China, mas, se possível, longe daqui.

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Mensagem por Vagueante Sex Ago 23, 2013 11:49 am

Vagueante escreveu:

Que pensa um cidadão como eu que de Finanças nada sabe mas que, felizmente, tem biblioteca? Começarei por dizer que todas as vezes que vi VG na televisão só me fez lembrar uma figura que marcou a nossa política há décadas atrás, também muito considerado na sua área técnica - a hidrografia -, mas que, quando visitava uma qualquer povoação, dizia coisas como esta: "Estou aqui hoje pela primeira vez porque, se já cá tivesse estado, esta seria a segunda vez". Acho que o discurso sobre o "desvio colossal" e outros que se seguiram não ficam muito atrás disto.

RELEMBRANDO

Resposta dada a uma interpelação feita na AR.

Não garanto que as palavras tenham sido exactamente estas, mas, o sentido foi exactamente este.

Vou falar devagar, a fim de todos perceberem o que estou a dizer.

O ano 2015 é o ano imediatamente a seguir ao ano 2014

Como vêem, a analogia é perfeita.


Vagueante

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