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Como o prosaico se transforma em arma

2 participantes

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Como o prosaico se transforma em arma Empty Anabela de Malhadas em grande !!

Mensagem por QaaQenymin Sáb Nov 30, 2013 6:35 pm

Para começar-mos o domingo em grande, aqui fica a Anabela e as suas contas


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Mensagem por Vitor mango Dom Dez 01, 2013 2:21 am

Como o prosaico se transforma em arma



Tive hoje acesso a documentação vária existente no Arquivo Histórico Diplomático, tratando de questões ditas menores da política externa portuguesa no ano de 1967, momento particularmente sensível em que as posições defendidas por Portugal sobre o Ultramar eram objecto de crescente hostilidade por parte da comunidade internacional. Em Dezembro de 1966, uma moção aprovada pela Comissão de Curadorias da ONU reiterava prévias acusações contra Portugal pelo incumprimento da Carta das Nações Unidas a respeito do direito à autodeterminação dos povos das províncias africanas. Dessa decisão aprovada por maioria, desenvolveu-se na imprensa europeia e norte-americana intensa campanha, acompanhada de actos de protesto, seminários e abaixo-assinados exigindo o corte imediato da assistência militar a Portugal por parte dos restantes membros da OTAN. Em Março de 1967, informavam as embaixadas portuguesas em Londres, Paris, Bona e Washington que os argumentos portugueses já pouco acolhimento ganhavam junto das chancelarias, posto as opiniões públicas estarem convencidas que Portugal exercia a soberania sobre os povos africanos de forma atrabiliária, ali cometendo atropelos aos direitos humanos, negando a cidadania e praticando a segregação racial. Por todos os meios se tentou esclarecer, por comunicados e conferências de imprensa, que Portugal não era a África do Sul, que em Angola e Moçambique estava em curso uma profunda mudança envolvendo as populações dos territórios. Em vão, pois a imprensa não só boicotava tais iniciativas, como redobrava em ataques e denúncias.
Em Abril de 1967, realizou-se em Viena um dos mais mediáticos eventos musicais da época. Então, o festival da Eurovisão era seguido e discutido por praticamente todos os europeus. Tal espectáculo, que hoje já nada representa, gerava grande expectativa e a imprensa dedicava-lhe honras de primeira página. Para esse concurso, Portugal enviou o angolano português Eduardo Nascimento. Voz poderosa e grande simpatia pessoal, homem educado e poliglota, a sua prestação provocou um sismo. Escrevia para Lisboa um embaixador de Portugal que Eduardo Nascimento sobre o palco tivera tal efeito que, de súbito, se calaram todos os protestos e boicotes contra as nossas representações diplomáticas. Eis como uma simples cançoneta pode valer todas as campanhas de propaganda e todas as operações militares. Eduardo Nascimento fez nessa noite o que toda a nossa diplomacia não conseguira durante anos: demonstrou que a questão ultramarina portuguesa não era simples e que havia quem a soubesse defender com a sua voz. Nascimento merecia uma medalha, mas hoje ninguém dele se lembra.
Publicada por Combustões à(s) 30.11.13 Sem comentários:

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