O porto de Lisboa
3 participantes
Vagueando na Notícia :: Salas das mesas de grandes debates de noticias :: Noticias observadas DAS GALAXIAS SOBRE O PLANETA TERRA
Página 1 de 1
O porto de Lisboa
Pobres, mas felizes.
Lisboa é uma cidade azarenta: caiu-lhe um porto na margem do rio. Ainda por cima, os Fenícios que cá chegaram, há uns largos séculos, decidiram-se pela margem norte para encostar os barcos. Podiam ter aportado à margem sul. Mas não. Vieram direitinhos às «Docas». Madrid, por exemplo, é uma cidade com sorte: não tem problemas de expansão do porto. Prescindiu dessa coisa horrível que é estacionar contentores junto ao rio. Os madrilenos, povo de vistas largas, perceberam logo que um porto lhe ia estreitar as vistas. Mas podemos enviar o porto de Lisboa para Roterdão. Aí é que um porto fica bem. Os holandeses, mais trabalhadores do que contemplativos, não se importam. E já agora, para pouparmos no subsídio de desemprego, enviem também os estivadores e os embarcadiços. Depois, felizes, é só pedir uma imperial e uns tremoços e observar o voo das gaivotas que se entrelaça nos raios de sol. Sim, isso da pobreza é sempre culpa dos outros!
Por Tomás Vasques no Hoje há conquilhas
Lisboa é uma cidade azarenta: caiu-lhe um porto na margem do rio. Ainda por cima, os Fenícios que cá chegaram, há uns largos séculos, decidiram-se pela margem norte para encostar os barcos. Podiam ter aportado à margem sul. Mas não. Vieram direitinhos às «Docas». Madrid, por exemplo, é uma cidade com sorte: não tem problemas de expansão do porto. Prescindiu dessa coisa horrível que é estacionar contentores junto ao rio. Os madrilenos, povo de vistas largas, perceberam logo que um porto lhe ia estreitar as vistas. Mas podemos enviar o porto de Lisboa para Roterdão. Aí é que um porto fica bem. Os holandeses, mais trabalhadores do que contemplativos, não se importam. E já agora, para pouparmos no subsídio de desemprego, enviem também os estivadores e os embarcadiços. Depois, felizes, é só pedir uma imperial e uns tremoços e observar o voo das gaivotas que se entrelaça nos raios de sol. Sim, isso da pobreza é sempre culpa dos outros!
Por Tomás Vasques no Hoje há conquilhas
O dedo na ferida- Pontos : 0
Re: O porto de Lisboa
Porto de Lisboa. Nostalgia. Obreirismo.
Eu leio-os, como quem lê epitáfios. E em cada leitura, cada vez mais, «há, nos olhos meus, ironias e cansaços». Eles «não sabem, nem sonham» como há 40 anos, ali, na Rocha de Conde Óbidos, o cais fervilhava de gente de trabalho e a actividade portuária e a reparação naval eram as únicas actividades por aquelas bandas. Um quiosque madrugador servia o «pequeno-almoço» aos operários do estaleiro naval e aos estivadores e marinheiros, entre as 7 e as 8, ainda «eles» dormiam a sono solto. E os barcos aportavam uns atrás dos outros. E os guindastes se perfilavam atarefados nas cargas e descargas. E os sacos eram alombados por homens de trabalho. O porto – o Porto de Lisboa – como diziam as placas em letras negras em fundo branco, era (e é, ainda) o modo de vida de milhares de pessoas. Era um tempo em que eu, com 18 anos, de fato-de-macaco, palmilhava a zona, à hora de almoço, à procura da refeição mais barata. E por lá nunca encontrei as outras «pessoas», aquelas que , hoje, não querem que os contentores lhe ofusquem as vistas . E, muitos deles, tem a minha idade. Os cais, os guindastes, as gaivotas, as tascas, o rio e o cheiro a maresia eram só «nossos». Naquele tempo, aquelas «pessoas», que hoje querem contemplar as vistas, não se queriam misturar com operários a cheirar a nafta e estivadores a cheirar a suor. Mas, hoje, Lisboa já é das «pessoas», como é de bom tom e democraticamente aceite. É de quem contempla as vistas, de quem almoça em restaurantes caros, de quem escreve nos jornais. Não é de quem trabalha no porto; de quem tem de levar o salário para casa para sustentar a família, mas de quem quer contemplar as vistas. Para ser rigoroso, no entendimento dessas «pessoas», o porto de Lisboa deve ser de quem tem casa no Alentejo, escreve nos jornais, bota palavra nas televisões e, para descontrair de tanta azáfama, quer vistas largas sobre o rio. Isso de operários, contentores, trabalho, produção, e outras merdas desse tipo só lhe atrapalha a vida e cheira mal. Sobretudo a suor, o que «eles» detestam. Eles, com o dinheiro que ganham por andar nestas andanças da «opinião», gostam mais de passarinhos!
PS: Penso ter respondido, com este texto, a todos os e-mail recebidos e a outras referências blosgosféricas sobre o meu post sobre o porto de Lisboa.
Por Tomás Vasques
Eu leio-os, como quem lê epitáfios. E em cada leitura, cada vez mais, «há, nos olhos meus, ironias e cansaços». Eles «não sabem, nem sonham» como há 40 anos, ali, na Rocha de Conde Óbidos, o cais fervilhava de gente de trabalho e a actividade portuária e a reparação naval eram as únicas actividades por aquelas bandas. Um quiosque madrugador servia o «pequeno-almoço» aos operários do estaleiro naval e aos estivadores e marinheiros, entre as 7 e as 8, ainda «eles» dormiam a sono solto. E os barcos aportavam uns atrás dos outros. E os guindastes se perfilavam atarefados nas cargas e descargas. E os sacos eram alombados por homens de trabalho. O porto – o Porto de Lisboa – como diziam as placas em letras negras em fundo branco, era (e é, ainda) o modo de vida de milhares de pessoas. Era um tempo em que eu, com 18 anos, de fato-de-macaco, palmilhava a zona, à hora de almoço, à procura da refeição mais barata. E por lá nunca encontrei as outras «pessoas», aquelas que , hoje, não querem que os contentores lhe ofusquem as vistas . E, muitos deles, tem a minha idade. Os cais, os guindastes, as gaivotas, as tascas, o rio e o cheiro a maresia eram só «nossos». Naquele tempo, aquelas «pessoas», que hoje querem contemplar as vistas, não se queriam misturar com operários a cheirar a nafta e estivadores a cheirar a suor. Mas, hoje, Lisboa já é das «pessoas», como é de bom tom e democraticamente aceite. É de quem contempla as vistas, de quem almoça em restaurantes caros, de quem escreve nos jornais. Não é de quem trabalha no porto; de quem tem de levar o salário para casa para sustentar a família, mas de quem quer contemplar as vistas. Para ser rigoroso, no entendimento dessas «pessoas», o porto de Lisboa deve ser de quem tem casa no Alentejo, escreve nos jornais, bota palavra nas televisões e, para descontrair de tanta azáfama, quer vistas largas sobre o rio. Isso de operários, contentores, trabalho, produção, e outras merdas desse tipo só lhe atrapalha a vida e cheira mal. Sobretudo a suor, o que «eles» detestam. Eles, com o dinheiro que ganham por andar nestas andanças da «opinião», gostam mais de passarinhos!
PS: Penso ter respondido, com este texto, a todos os e-mail recebidos e a outras referências blosgosféricas sobre o meu post sobre o porto de Lisboa.
Por Tomás Vasques
O dedo na ferida- Pontos : 0
Re: O porto de Lisboa
Nasci quase num porto. O do Lobito. No maior e melhor porto da África ocidental. Pelo menos á altura. E habituei-me, desde muito cedo, a conviver com a balbúrdia, a confusão, o movimento e a vida de um porto de mar. E não era arrumadinho como os de hoje. Não havia contentores. Guindastes e força manual. Adoro portos. E sempre que visito uma cidade portuária, por lá me perco. Conheci bem o de Antuérpia e, guiado por Jacques Brell, "Le port d' Amesterdan". Conheço bem o de Génova. Onde desembarco muitas vezes quando vou a Itália com carro. E em Génova, o porto e zona envolvente têm um ambiente único. Por isso não me incomoda um porto no meio de Lisboa. O que não gostáva era da prepotência dos Portosde Portugal que faziam deles uma zona sua e sem juisdição camarária.
O dedo na ferida- Pontos : 0
Re: O porto de Lisboa
O dedo na ferida escreveu:Nasci quase num porto. O do Lobito. No maior e melhor porto da África ocidental. Pelo menos á altura. E habituei-me, desde muito cedo, a conviver com a balbúrdia, a confusão, o movimento e a vida de um porto de mar. E não era arrumadinho como os de hoje. Não havia contentores. Guindastes e força manual. Adoro portos. E sempre que visito uma cidade portuária, por lá me perco. Conheci bem o de Antuérpia e, guiado por Jacques Brell, "Le port d' Amesterdan". Conheço bem o de Génova. Onde desembarco muitas vezes quando vou a Itália com carro. E em Génova, o porto e zona envolvente têm um ambiente único. Por isso não me incomoda um porto no meio de Lisboa. O que não gostáva era da prepotência dos Portosde Portugal que faziam deles uma zona sua e sem juisdição camarária.
Para mim, era mais lógico a criação de um terminal de contentores, moderno e eficiente, lá para as bandas de Sines, com uma ligação rodo - ferroviária (decente) para a Europa.............
Apenas uma opinião
ricardonunes- Pontos : 3302
Vagueando na Notícia :: Salas das mesas de grandes debates de noticias :: Noticias observadas DAS GALAXIAS SOBRE O PLANETA TERRA
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos