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Sem supervisão nacional estaríamos pior"

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Sem supervisão nacional estaríamos pior" Empty Sem supervisão nacional estaríamos pior"

Mensagem por Vitor mango Dom Nov 09, 2008 1:30 am

Sem supervisão nacional estaríamos pior"
Em entrevista ao Expresso, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), João Salgueiro, fala da crise financeira e das respostas dadas pelos diferentes países, dos desafios em que Portugal deve apostar e da nacionalização do BPN.
Isabel Vicente e Pedro Lima
15:00 | Sábado, 8 de Nov de 2008

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"Sem supervisão nacional estaríamos pior" João Salgueiro teme que a UE deixe cair as supervisões de cada país
Luiz Carvalho
João Salgueiro teme que a UE deixe cair as supervisões de cada país

Considera que as respostas que estão a ser dadas pelos diferentes países serão suficientes para travar a crise financeira?
Nós não podemos falar de crise financeira sem falar da reestruturação da economia mundial que já estava em curso muito antes disto e vai continuar. A razão pela qual muita gente pensa que esta crise pode ser muito longa é porque ela implica uma reestruturação muito profunda. A grande mudança que está ainda mal apreendida foi o fim dos sistemas de economia planificada. Quando os países comunistas adoptaram a economia de mercado, entrou no comércio mundial 52% da população do mundo, o que nunca tinha acontecido. Isto não foi apreendido pelos países industrializados.

Porquê?
Um dos motivos foi porque foi possível manter o dinamismo de algumas dessas economias - nomeadamente a dos Estados Unidos mas também a de alguns países da Europa - assente numa expansão da construção imobiliária, que manteve volumes de emprego, o dinamismo da economia durante alguns anos e a alavancagem crescente do sector financeiro. Mas isso chegou ao seu termo.

E não foi agora...
O desfazer da bolha nos Estados Unidos dá-se há três anos, quando as taxas de juro começam a subir. A política de juros baixos permitiu essa alavancagem durante uns anos. Os recursos foram para a construção e não houve inflação apesar do dinheiro barato porque a importação de produtos de baixo custo permitiu manter o nível dos indicadores dos consumidores sem inflação. Essa conjugação de factores - produtos baratos e dinheiro barato deu uma inflação do valor dos activos, financeiros e imobiliários. Quanto tempo leva a desfazer essa alavancagem, os preços do imobiliário voltarem a um nível de equilíbrio e os preços dos activos revelarem mais os fundamentais, não se sabe.

Qual foi a responsabilidade da banca nesta crise?
Dizer-se que esta alavancagem foi consequência dos actos de alguns bancos, acho infantil. A versão oficial é que foi a ganância de alguns bancos que nos conduziu a isto. Mas não foi, porque estas matérias foram discutidas no Congresso dos Estados Unidos e objecto de leis ao longo dos vários anos, e não foi apenas no tempo do presidente Bush, começou antes, com o fim da segmentação dos bancos de investimento. E não foi apenas o FED, foi também a SEC. Porque é que se fez isto? Porque era do interesse da maioria da população americana, não apenas das minorias que tiveram acesso ao crédito à habitação. Os países de influência anglo-saxónica na Europa fizeram o mesmo. Na Europa não estamos isentos e houve mal-estar em relação às regras de Basileia II e das normas internacionais de contabilidade, porque são pró-cicilicas. Agora toda a gente concorda com isso mas quando dissemos isso toda a gente achava que o mark to market era o máximo... Ora quando as acções começam a descer vão fazer baixar o valor das participações das carteiras de acções que por sua vez fazem descer o valor de quem tem essas acções - tivemos em Portugal o fenómeno BCP-BPI, em que se não houvesse esa obrigação, a queda teria sido menor nos dois bancos. Mas a questão é que não é só na descida mas também na subida. Quando tivermos uma subida vai dar uma euforia às entiddades que têm carteira de acções, porque se vão valorizar e é um processo de valorização mútuo.

Pode-se concluir que foi um erro?
Sempre conclui que foi um erro. A grande dificuldade agora é corrigir esse erro. Sair do mark to market não acredito que venha a acontecer . O problema está em interpretá-lo. O que é o fair value em circunstâncias de volatilidade anormal ou desvalorização ou valorização anormal. É muito complicado. Os valores históricos não tinham dúvidas. A pessoa tinha esse valores e os valores de mercado e tirava as suas conclusões. Quis-se eliminar o valor histórico e ficar apenas com o valor de mercado, mas se este tiver uma volatilidade ou um over shooting para cima ou opara baixo excessivo , é muito difícil julgar o valor.

Como resolver o problema..
É uma conversa longa... Devia ser nomeado um grupo ou entidade independente que analisasse regras contabilísticas. Penso que a UE vai fazer isso. A UE tem tomado medidas que favorecem problemas.

Não é então defensor de uma supervisão europeia em detrimento da de cada país?
Não só. Porque esta só atende aos bancos que são importantes do ponto de vista sistémico.

Ou seja, defende a supervisão nacional de cada país...
Os bancos centrais dos vários países que fazem parte do sistema bancário devem ter responsabilidades de supervisão. São indispensáveis. Deve garantir-se que não há queda dos bancos relevantes para o sistema E quais são? Para o sistema europeu são os grandes bancos. Agora os países que não têm esses grandes bancos pela dimensão do mercado, obviamente, Irlanda, Dinamarca ou outros não interessam,. Os depositantes, e os accionistas e os beneficiários de crédito não interessam nada?

O que é que quer dizer com isso?
Nos EUA qualquer Estado conta, na Europa não conta. Só contam os quatro ou cinco maiores como temos visto.

A resposta europeia tem merecido elogios. Acha excessivo o elogio ao presidente do Conselho Europeu...
Neste caso mais ao sr. Brown que abriu o caminho. Neste momento, o sistema de garantias... são medidas de emergência. Estou a falar do que se está a preparar, do que poderá vir a seguir. O que desencadeou tudo foi a crise na Irlanda, na véspera diziam que não era necessário. Foi facto consumado.

Apesar de alguns grandes países europeus terem desvalorizado a crise, como a Alemanha, a resposta dada pela Europa no seu conjunto acabou por ser alvo de elogios. Concorda?
É de elogiar que com uma crise que está há 16 meses nos EUA, não tenha havido nenhum plano B para a Europa? Francamente não acho. Houve vários alertas no espaço europeu, o Northern Rock, os bancos alemães... O que foi positivo foi que depois de a situação se ter agravado chegaram a acordo rapidamente. Mas não houve preparação.

Teme que o modelo de supervisão europeu não aproveite a crise para reformar no bom sentido...
O argumento da crise vai ser aproveitado para reforçar uma supervisão europeia que acho bem. Mas, acho mal se passar pela redução dos poderes das supervisões nacionais. Acho que a crise prova que sem supervisões nacionais estaríamos pior. As supervisões são diferentes. Se houver redução das supervisões nacionais isso será usado para favorecer o gigantismo e os bancos de interesse europeu serão uma parcela que não é maioritária.

Há uma semana afirmou que as famílias tinham culpa do endividamento porque não fazer contas à vida...
Eu não disse isso. Disse que as pessoas são responsáveis. Se eu disser os portugueses não são irresponsáveis, ninguém fica chocado, não é? Os portugueses não tomam uma decisão de um empréstimo a 30 anos sem o analisarem e fazer uma ronda para saber as condições de todos os bancos.

Os bancos não têm responsabilidade na concessão de crédito acima das possibilidades dos seus clientes...
Os bancos pediam ás pessoas para simular uma subida de 2% no custo do dinheiro que nunca chegou a ser ultrapassado. Com empréstimos de taxas variáveis é necessário prever subidas e descidas.

Mas não deviam ser mais cautelosos nas análises de risco dos seus clientes...
Eu essa gosto porque de toda a carreira que fiz na banca e nunca estive em nenhum banco privado. Portanto não é um problema de estar a desculpar comportamentos da banca privada mas sempre ouvi dizer que a banca só emprestava a quem não precisava. Porque era muito rigorosa nos critérios.

Mas não é isso que acontece?
Isso dizem agora. Quando estava na CGD as solicitações que tinham era para ser mais flexível, não era para ser menos. E não eram do Estado eram dos particulares.

E porque é que esse discurso se inverteu?
Porque a taxa de juro subiu. É só por isso.

Acredita que vai haver mais descidas na taxa de juro do BCE?
Sim. Mas vamos entrar num período, passada esta fase de aperto, com apoios extraordinários do Estado e vamos voltar a ter dinheiro mais caro. A bolha nos EUA nasceu do dinheiro barato. As pessoas não devem pensar que no futuro vai haver grandes facilidades de dinheiro.

Porquê?
Este foi um período que correspondeu aos excedentes da balança americana e que os chineses estiveram dispostos a financiar. Sem isso não seria possível.

Como vê as alterações que se fizeram na banca, por exemplo, na questão dos arredondamentos...e a imagem negativa que se criou do sector?
Foi intencional. Foi a forma de entreter a população. Não houve análise comparativa com o que se passa em Portugal e em outros países. Lembra-se do fenómeno dos 365...A única excepção que temos é que as ATM são gratuitas e nos outros países não.

O sector financeiro ficou enfraquecido por todas estas questões, também a regulamentação a publicidade enganosa?
Criou-se uma imagem negativa em torno da banca por ter um sistema de concorrência. Podia-se ter feito isso na indústria automóvel ou nos espectáculos. Também usam muito a publicidade Só na banca se fez, não é por acaso. A banca usa bons criativos neste sector mas muitos outros também usam. Até o alcool usa.

Mas não concorda que na banca muitos produtos por exemplo, prometem 8% e depois é só durante um mês...
Se tiver claro. Nunca pratiquei esse género de coisas. Passei pela experiência de aconselhar taxa de crédito fixa, publicámos anúncios nos jornais e ninguém quis porque era mais cara do que a variável. Não quiserem. A publicidade não convence as pessoas de tudo, convence-as do que elas querem. O clima de facilidades é que atrai o cliente. Não é o meu estilo. Por exemplo, houve uma campanha para dizer que a abanca tinha altissímos lucros. Mas é verdade?

E não é verdade?
Alguém fez as contas? Se compararem os lucros de um banco com os de uma pequena empresa são maiores. Mas em relação aos capitais envolvidos são maiores? Os lucros da banca estão muito acima do das empresas cotadas? Ou dos bancos de outros países? Se os bancos não tivessem uma situação equilibrada e lucros equivalentes aos do mercado não tinham rating para se poderem endividar, ou então faziam-no mais caro e tinha de passar o crédito aos clientes mais caro. É uma desinformação das pessoas e não joga certo com o susto que é quando a banca corre o risco de não funcionar bem.

Teme que esta crise também seja imputada aos bancos, à ganância dos gestores...
É claro que se alguns políticos fizerem passar a ideia de que isto não foi fruto da legislação, nem da supervisão. Não há muitos sectores que não tenham precisado de subsídios do Estado ou que ofereçam uma gama de serviços que a maior parte dos bancos europeus oferecem. É preciso um diagnóstico rigoroso para que não haja novos equívocos no futuro.

À semelhança do que aconteceu em Inglaterra em 2009 o rácio de capital vai aumentar, é nesta altura aconselhável...
Isso começou com o sr. Brown. A Inglaterra defendia que deviam reduzir-se os rácios em função do risco e dos modelos sofisticados, 5%, 6% já era considerado suficiente e agora de repente quer 9% e aconselha 11%... Trata-se de reforçar o papel da Inglaterra como centro financeiro. É a grande oportunidade de sair por cima.

É o momento para os bancos portugueses aumentarem os rácios...
O momento não é o melhor. Nem para fazer aumentos de capital. Mas far-se-á na medida necessária.
Vitor mango
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