Espanha: O retorno dos judeus sefarditas
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Espanha: O retorno dos judeus sefarditas
Espanha: O retorno dos judeus sefarditas
29/08 11:03 CET
Em 1492 os reis católicos de Espanha aprovaram uma lei para a expulsão dos judeus, o que os obrigava a converterem-se ao catolicismo ou ir para o exílio. As pessoas que deixaram Espanha foram denominadas judeus sefarditas. Os judeus exilados guardaram as chaves de casa, como recordação da pátria perdida.
Quinhentos anos depois, Espanha está a considera uma lei que vai conceder a cidadania espanhola aos descendentes dos exilados. Judeus sefarditas de todo o mundo podem ter dupla nacionalidade, com todos os benefícios associados à detenção de um passaporte da UE.
Para Alejandra Abulafia: “O passaporte espanhol significa um retorno à pátria perdida. É um símbolo de uma chave. Não acho que todos os sefarditas do mundo venham viver para Espanha, vão apenas pedir a cidadania e continuar nos seus países. A maior parte deles não tem qualquer interesse em viver em Espanha. Têm a chave, que é o símbolo da nostalgia e Espanha é a porta.”
A nova lei já foi aprovada pelo Conselho de Ministros Espanhol e deve entrar em vigor no início de 2015. Estima-se que entre 90 e 500 mil judeus podem vir a solicitar a cidadania espanhola ao longo dos próximos cinco anos, o que representa um custo de cerca de 300 milhões de euros para o país.
Juan Bravo diz que: “Há que cumprir a condição de ser sefardita de origem espanhola, para satisfazer esta condição a lista de critérios que estabelece a lei é ampla e aberta: há que ter conhecimentos de espanhol, do judeu-espanhol ou Ladino; provar que na certidão de nascimento ou casamento se reconhecem referências às regras do rito castelhano. Também se pode apresentar um certificado de autoridade rabínica da localidade onde a pessoa que solicita o direito reside; ou um certificado da federação das comunidades judaicas de Espanha.”
A lei destina-se a corrigir uma injustiça histórica, mas algumas pessoas questionam se este é o momento certo para levar a cabo esta iniciativa.
Isaac Querub explica: “Acreditamos que é sempre um momento propício quando um erro é corrigido, ou é feita justiça. Acredito que os judeus, especialmente os sefarditas sempre quiseram uma lei como esta. Acho que é um momento mais que pertinente e oportuno. É um momento de crise económica e, portanto, de crise política. Numa altura de partidos de extrema-direita ou de extrema-direita neo-nazi, como na Grécia, Hungria, Áustria, Finlândia, ou França, o governo espanhol tem uma iniciativa como esta. Esta lei visa emendar uma injustiça e corrigir um erro”.
Os judeus sefarditas exilados espalharam-se por todo o mundo, originalmente refugiaram-se no norte de África, sul da Europa e nos Balcãs. A partir de 1950, muitos deles mudaram-se para Israel. São aproximadamente 3 milhões e meio de pessoas, o que representa cerca de 18 por cento dos judeus de todo o mundo. Os que se opõem a lei argumentam que a concessão da dupla nacionalidade aos judeus sefarditas é dar-lhes um privilégio que se nega a outras comunidades estrangeiras a viver em Espanha.
Silka Erez é judia sefardita de Israel, que agora vive em Espanha e a mãe é judia sefardita de Jerusalém: “Decidi pedir a nacionalidade espanhola. Tenho todos os documentos, e estou a passar pelo processo há cinco ou seis anos. Aceitaram todos os papéis, mas ainda não a recebi. Os judeus em Israel têm muito respeito pelos sefarditas de Espanha, eram chamados de “Samaj Tet”, que significa “ sefardita puro”. E a linguagem, até agora, é o ladino, “españolit” em hebraico, que ainda é falado em Israel”.
A cidade de Toledo ficou historicamente conhecida como “Jerusalém ocidental”, e foi ocupada pelos cristãos, judeus e muçulmanos que conviviam pacificamente falando latim, árabe e hebraico.
“Na página sefardim.com existe uma lista exaustiva de apelidos judeus. Descobri os meus lá. Designam ofícios, trabalhos no campo e cidades , especialmente com uma comunidade judaica significativa. São sobrenomes personalizados para esconder os apelidos hebreus originais,” diz o tradutor Paco Vara.
Ao visitar uma das sinagogas mais bem conservadas de Toledo, Paco Vara fala sobre judeus convertidos: aqueles que, em 1492, decidiram permanecer em Espanha e converter-se à religião cristã. Paco Vara acrescenta: “São um povo que procurou viver à margem, escondido que chegou a esquecer completamente a sua cultura e uma herança secular. Passámos séculos sem saber o que éramos. De tal forma que questionamos de somos judeus? Espanhóis, quem somos? Somos de origem judia, tudo bem, mas em tudo o resto somos semelhantes.”
Segundo Isaac Querub: “Sefarad é um compêndio de coisas. Tem muito a ver com sentimentos, com nostalgia, tem a ver com a história. E também como há um projeto para o futuro. O de voltar, esperemos. Esta lei é pode significar a abolição do decreto de expulsão.”
O Palácio Alhambra em Granada também permanece como símbolo de outra cultura islâmica, outra cultura que contribuiu para a formação da atual cultura espanhola. Restam apenas alguns traços do Bairro Judeu . Durante o tempo da Inquisição ficou praticamente destruído. Beatrice Chevalier apresenta-se como sendo uma herdeira dos judeus que se converteram e, secretamente continuaram a praticar a sua religião. Ser sefardita é, para ela, uma herança que vale a pena preservar. É fundadora do Centro da Memória Histórica da Cultura Sefardita em Granada: “Para mim é uma missão. É um trabalho que queria fazer há anos, mas por razões pessoais foi difícil de realizar. Mas agora consigo fazê-lo. Depois de uma viagem a Israel há três anos, percebi que Granada precisava recriar a memória histórica dos judeus.”
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Em 1492 os reis católicos de Espanha aprovaram uma lei para a expulsão dos judeus, o que os obrigava a converterem-se ao catolicismo ou ir para o exílio. As pessoas que deixaram Espanha foram denominadas judeus sefarditas. Os judeus exilados guardaram as chaves de casa, como recordação da pátria perdida.
Quinhentos anos depois, Espanha está a considera uma lei que vai conceder a cidadania espanhola aos descendentes dos exilados. Judeus sefarditas de todo o mundo podem ter dupla nacionalidade, com todos os benefícios associados à detenção de um passaporte da UE.
Para Alejandra Abulafia: “O passaporte espanhol significa um retorno à pátria perdida. É um símbolo de uma chave. Não acho que todos os sefarditas do mundo venham viver para Espanha, vão apenas pedir a cidadania e continuar nos seus países. A maior parte deles não tem qualquer interesse em viver em Espanha. Têm a chave, que é o símbolo da nostalgia e Espanha é a porta.”
A nova lei já foi aprovada pelo Conselho de Ministros Espanhol e deve entrar em vigor no início de 2015. Estima-se que entre 90 e 500 mil judeus podem vir a solicitar a cidadania espanhola ao longo dos próximos cinco anos, o que representa um custo de cerca de 300 milhões de euros para o país.
Juan Bravo diz que: “Há que cumprir a condição de ser sefardita de origem espanhola, para satisfazer esta condição a lista de critérios que estabelece a lei é ampla e aberta: há que ter conhecimentos de espanhol, do judeu-espanhol ou Ladino; provar que na certidão de nascimento ou casamento se reconhecem referências às regras do rito castelhano. Também se pode apresentar um certificado de autoridade rabínica da localidade onde a pessoa que solicita o direito reside; ou um certificado da federação das comunidades judaicas de Espanha.”
A lei destina-se a corrigir uma injustiça histórica, mas algumas pessoas questionam se este é o momento certo para levar a cabo esta iniciativa.
Isaac Querub explica: “Acreditamos que é sempre um momento propício quando um erro é corrigido, ou é feita justiça. Acredito que os judeus, especialmente os sefarditas sempre quiseram uma lei como esta. Acho que é um momento mais que pertinente e oportuno. É um momento de crise económica e, portanto, de crise política. Numa altura de partidos de extrema-direita ou de extrema-direita neo-nazi, como na Grécia, Hungria, Áustria, Finlândia, ou França, o governo espanhol tem uma iniciativa como esta. Esta lei visa emendar uma injustiça e corrigir um erro”.
Os judeus sefarditas exilados espalharam-se por todo o mundo, originalmente refugiaram-se no norte de África, sul da Europa e nos Balcãs. A partir de 1950, muitos deles mudaram-se para Israel. São aproximadamente 3 milhões e meio de pessoas, o que representa cerca de 18 por cento dos judeus de todo o mundo. Os que se opõem a lei argumentam que a concessão da dupla nacionalidade aos judeus sefarditas é dar-lhes um privilégio que se nega a outras comunidades estrangeiras a viver em Espanha.
Silka Erez é judia sefardita de Israel, que agora vive em Espanha e a mãe é judia sefardita de Jerusalém: “Decidi pedir a nacionalidade espanhola. Tenho todos os documentos, e estou a passar pelo processo há cinco ou seis anos. Aceitaram todos os papéis, mas ainda não a recebi. Os judeus em Israel têm muito respeito pelos sefarditas de Espanha, eram chamados de “Samaj Tet”, que significa “ sefardita puro”. E a linguagem, até agora, é o ladino, “españolit” em hebraico, que ainda é falado em Israel”.
A cidade de Toledo ficou historicamente conhecida como “Jerusalém ocidental”, e foi ocupada pelos cristãos, judeus e muçulmanos que conviviam pacificamente falando latim, árabe e hebraico.
“Na página sefardim.com existe uma lista exaustiva de apelidos judeus. Descobri os meus lá. Designam ofícios, trabalhos no campo e cidades , especialmente com uma comunidade judaica significativa. São sobrenomes personalizados para esconder os apelidos hebreus originais,” diz o tradutor Paco Vara.
Ao visitar uma das sinagogas mais bem conservadas de Toledo, Paco Vara fala sobre judeus convertidos: aqueles que, em 1492, decidiram permanecer em Espanha e converter-se à religião cristã. Paco Vara acrescenta: “São um povo que procurou viver à margem, escondido que chegou a esquecer completamente a sua cultura e uma herança secular. Passámos séculos sem saber o que éramos. De tal forma que questionamos de somos judeus? Espanhóis, quem somos? Somos de origem judia, tudo bem, mas em tudo o resto somos semelhantes.”
Segundo Isaac Querub: “Sefarad é um compêndio de coisas. Tem muito a ver com sentimentos, com nostalgia, tem a ver com a história. E também como há um projeto para o futuro. O de voltar, esperemos. Esta lei é pode significar a abolição do decreto de expulsão.”
O Palácio Alhambra em Granada também permanece como símbolo de outra cultura islâmica, outra cultura que contribuiu para a formação da atual cultura espanhola. Restam apenas alguns traços do Bairro Judeu . Durante o tempo da Inquisição ficou praticamente destruído. Beatrice Chevalier apresenta-se como sendo uma herdeira dos judeus que se converteram e, secretamente continuaram a praticar a sua religião. Ser sefardita é, para ela, uma herança que vale a pena preservar. É fundadora do Centro da Memória Histórica da Cultura Sefardita em Granada: “Para mim é uma missão. É um trabalho que queria fazer há anos, mas por razões pessoais foi difícil de realizar. Mas agora consigo fazê-lo. Depois de uma viagem a Israel há três anos, percebi que Granada precisava recriar a memória histórica dos judeus.”
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