Jorge Mendes, De Vendedor de Gelados a Melhor Agente de Futebol do Mundo

Jorge Mendes, De Vendedor de Gelados a Melhor Agente de Futebol do Mundo
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By Nuno Rei on 17 Janeiro, 2015 Motivação e Causas

Dos humildes inícios até às 200 chamadas telefónicas por dia e aos 260 milhões movimentados em transferências no último Verão: é o empresário Jorge Mendes num livro colocado ontem à venda em Portugal.

Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Di María, Falcão, James Rodríguez, Fábio Coentrão, Pepe, Rui Patrício, William Carvalho ou Quaresma integram uma paleta de 60 dos mais importantes nomes do futebol moderno, todos clientes de um empresário: Jorge Mendes. “O Agente Especial”, o livro escrito em parceria pelos jornalistas espanhóis Miguel Cuesta e Jonathan Sánchez, conta histórias do percurso de sucesso daquele a quem o melhor do Mundo chama “o meu pai do futebol” no prefácio.

Conheceram-se em 2002, era Ronaldo ainda júnior do Sporting e representado por José Veiga. “Disse-me que as pessoas que trabalhavam comigo não estavam a fazer bem as coisas”, recorda o vencedor da Bola de Ouro por três vezes. Voltou a encontrar-se com o jogador e, dessa vez, com a mãe, Dona Dolores, chegando a acordo com esta. “Vi que o Jorge era uma pessoa que queria dizer só a verdade. Não me forçou a nada”, relembra Ronaldo.
Seguiram-se tentativas de contratação por parte de Juventus, Parma, Real Madrid, Arsenal – sem que alguém soubesse, o goleador visitou as instalações dos londrinos, mas o negócio não avançou porque a proposta não era satisfatória – e, na inauguração do novo Estádio de Alvalade, no Verão de 2003, na véspera do jogo com o Manchester United, o acordo foi selado numa reunião com o empresário, Luís Correia (seu sobrinho e peça decisiva na empresa Gestifute) e Alex Ferguson. “Disse-me que Ronaldo ia jogar pelo menos 50% dos jogos”, conta o empresário. “Era o que eu queria ouvir e Ronaldo foi para o United por causa disso.”
Filho de um segurança e de uma doméstica, Jorge Paulo Agostinho Mendes nasceu na Bobadela a 7 de Janeiro de 1966. Vendia utensílios de praia feitos pela mãe na Fonte da Telha com apenas 13 anos; frequentou a Feira da Ladra; no primeiro emprego, aos 18 anos, fazia gelados. Porque gostava do Benfica, Eusébio era referência máxima, mas Carlos Manuel, Nené, Humberto Coelho, Alves, Diamantino, Chalana e Mozer também estavam nas suas preferências.

Não estudou Direito como chegou a ponderar, viajou para Viana do Castelo, ali vivendo com João Manuel, o irmão mais velho, e o sobrinho, Luís Correia; nos negócios começou por um clube de vídeo, seguindo-se um restaurante de ‘fast food’, um complexo na praia do Cabedelo que incluía restaurante/piscina e discoteca e, mais tarde, em Caminha, a discoteca Alfândega, onde entravam muitos jogadores de Portugal e Espanha.
Com o apoio de Augusto César Lendoiro, presidente do Corunha a quem chama ‘padrinho’, a amizade com o guarda-redes Nuno Espírito Santo, então jogador do Vitória de Guimarães, iria resultar na primeira transferência, a meio dos anos 90. Mas só após peripécias que envolveram a recusa do Porto em pagar um milhão de dólares pedido por Pimenta Machado, líder dos minhotos, para autorizar a saída, este voltar atrás com o que dissera face à oferta concretizada pelo Corunha, o guarda-redes desaparecer de Guimarães (ficou em casa do empresário) e, por fim, tudo se resolver com a saída.

De Mourinho a Jesus

Numa obra que reúne elogios de amigos de infância a presidentes e jogadores, Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira retiram conclusões semelhantes. “Muitas vezes fala-me de jogadores, mando observá-los e, se estamos de acordo, apertamos as mãos e não é necessário escrever. Negócio fechado”, explica o líder portista. “Somos parecidos em muitas coisas: na persistência, na intuição, nas origens humildes. Com ele não é preciso assinar papéis, basta a palavra”, sintetiza o máximo dirigente benfiquista. Peter Lim, dono do Valência, confessa: “Quando te conheci não gostei de ti, mas agora sei que és uma pessoa maravilhosa.” Joan Laporta, ex-líder do Barcelona, refere-se a Mendes como alguém que “ajudou a criar o melhor Barça da História”. E Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, reconhece que “facilita a vida dos clubes na relação com os seus jogadores”.

Mourinho recorda como tudo começou. “Três agentes quiseram representar-me, eu queria ir para Inglaterra, o Chelsea era uma opção e surgiu um quarto agente – Jorge Mendes. Disse a todos: ‘aquele que ficar comigo é aquele que me trouxer Abramovich ou que me levar até ele’.” Mendes iria ligar-lhe a informar que o russo estava em Portugal e queria reunir-se, tendo sido marcado o encontro durante o qual o técnico foi contactado por outro dos agentes a indicar que estaria em Paris com o próprio Abramovich quando o dono do Chelsea se encontrava diante de Mourinho.
Também Jorge Jesus recorda no livro que, antes de ser aconselhado por Mendes a entender-se com o Benfica, “era apenas seu amigo”. E acrescenta: “Até agora não voltei a precisar dele. Daqui para a frente veremos.”
Definidas pelo próprio empresário, as suas chaves de funcionamento giram em torno de “honestidade, persistência, sacrifício, definição de objectivos, trabalho, ambição, dedicação, empatia, determinação, família e responsabilidade”.