FAZER DE GAZA O INFERNO SÓ BENEFICIA A AL-QAEDA
2 participantes
Vagueando na Notícia :: Salas das mesas de grandes debates de noticias :: Noticias observadas DAS GALAXIAS SOBRE O PLANETA TERRA
Página 1 de 1
FAZER DE GAZA O INFERNO SÓ BENEFICIA A AL-QAEDA
FAZER DE GAZA O INFERNO SÓ BENEFICIA A AL-QAEDA
Leonídio Paulo Ferreira
Jornalista - leonidio.ferreira@dn.pt
Gaza é uma terra semidesértica junto ao Mediterrâneo, entalada entre Israel e Egipto. Com 360 km2, é do tamanho dos concelhos de Alter do Chão, de Castro Marim ou de Trancoso. Mas se estes contam com 3500, 6500 e 11 000 habitantes, na Faixa vive milhão e meio. Mesmo sem contas, salta à vista que se trata de uma das mais altas densidades do mundo. É o resultado tanto do afluxo de refugiados em 1948 (quando Israel foi criado) como da altíssima natalidade dos palestinianos. Cada mulher tem em média cinco filhos, metade da população é menor de 15 anos. Some-se à geografia e à demografia os sucessivos bloqueios israelitas (corte de electricidade, falta de medicamentos, etc.) e é fácil chamar a Gaza o Inferno.
Nunca, porém, como neste fim-de-semana, serem sinónimos fez tanto sentido. Bombardeamentos israelitas fizeram pelo menos 285 mortos. O jornalista Sami Abdul-Shafi escreveu para o britânico The Independent um impressionante testemunho. "Estou a salvo, e, no entanto, sinto-me como se fosse um morto-vivo", começa o artigo "As morgues dos hospitais já estão cheias". Abdul-Shafi prossegue: "Enquanto as bombas caíam, saltei dois lanços de escada até à casa do meu pai, para verificar se estava bem. Devia também abrir todas as janelas? Isso exporia o velhote ao risco de adoecer. Não temos remédios. No entanto, o risco de vidro estilhaçado era maior e por isso abri-as todas." Mais adiante, escreve: "Tudo o que pude fazer foi espreitar à porta, onde encontrei multidões de gente agitada, linhas de fumo e o cheiro de edifícios e corpos queimados." Após a tentativa de traçar quem são as vítimas - sobretudo polícias do Hamas, mas também civis -, conclui: "Há quem acredite que o Inferno se divide em classes. O povo de Gaza foi há muito apanhado no atormentado submundo. Agora, se o mundo não reparar no que acontece aqui, a situação ficará pior. Presos num inferno de primeira classe."
Israel teve razões para reagir. A chuva de roquetes sobre Netivot e Sderot só matou uma pessoa, mas deixa meio milhão em terror permanente. Contudo, a violência de sábado (o dia mais mortífero desde a Guerra de 1967) não resolverá o problema. Os partidos no Governo ganharão credibilidade junto de um eleitorado que exige líderes fortes, mas Israel sairá enfraquecido, com o mundo horrorizado com a desproporção da resposta. O Hamas reforçará a aura de martírio, que somada ao trabalho social explica porque ganhou as eleições de 2006. Para os palestinianos, o Inferno traz simpatias acrescidas, nada mais. A criação de um Estado passa pelo sim de Israel, e com um Hamas forte as hipóteses dos moderados são mínimas, a começar pelo Presidente Abbas. Como escrevia o israelita Haaretz: "Acabar com o domínio do Hamas, assegurar a paz e resgatar [o soldado] Shalit são resultados improváveis da invasão de Gaza." Tudo acabará, é o mais certo, nalgum tipo de acordo. Que adiará tudo até os EUA decidirem mediar a sério. Agora, só a Al-Qaeda ganha. As imagens de morte em Gaza recrutarão jihadistas em todo o mundo islâmico, reforçando a tese do choque das civilizações, mesmo que a morte do seu arauto, Samuel Huntington, tenha sido conhecida no dia em que Gaza foi um inferno.
Descrição cruel do inferno de Gaza. Nem Dante teria imaginação para tanto. Resta-me o prazer de sentir que Israel, além do isco e do anzol, já está a engolir a cana. Ainda não perceberam que por cada morto palestiniano despertam para a luda anti-judeu alguns milhares...
Leonídio Paulo Ferreira
Jornalista - leonidio.ferreira@dn.pt
Gaza é uma terra semidesértica junto ao Mediterrâneo, entalada entre Israel e Egipto. Com 360 km2, é do tamanho dos concelhos de Alter do Chão, de Castro Marim ou de Trancoso. Mas se estes contam com 3500, 6500 e 11 000 habitantes, na Faixa vive milhão e meio. Mesmo sem contas, salta à vista que se trata de uma das mais altas densidades do mundo. É o resultado tanto do afluxo de refugiados em 1948 (quando Israel foi criado) como da altíssima natalidade dos palestinianos. Cada mulher tem em média cinco filhos, metade da população é menor de 15 anos. Some-se à geografia e à demografia os sucessivos bloqueios israelitas (corte de electricidade, falta de medicamentos, etc.) e é fácil chamar a Gaza o Inferno.
Nunca, porém, como neste fim-de-semana, serem sinónimos fez tanto sentido. Bombardeamentos israelitas fizeram pelo menos 285 mortos. O jornalista Sami Abdul-Shafi escreveu para o britânico The Independent um impressionante testemunho. "Estou a salvo, e, no entanto, sinto-me como se fosse um morto-vivo", começa o artigo "As morgues dos hospitais já estão cheias". Abdul-Shafi prossegue: "Enquanto as bombas caíam, saltei dois lanços de escada até à casa do meu pai, para verificar se estava bem. Devia também abrir todas as janelas? Isso exporia o velhote ao risco de adoecer. Não temos remédios. No entanto, o risco de vidro estilhaçado era maior e por isso abri-as todas." Mais adiante, escreve: "Tudo o que pude fazer foi espreitar à porta, onde encontrei multidões de gente agitada, linhas de fumo e o cheiro de edifícios e corpos queimados." Após a tentativa de traçar quem são as vítimas - sobretudo polícias do Hamas, mas também civis -, conclui: "Há quem acredite que o Inferno se divide em classes. O povo de Gaza foi há muito apanhado no atormentado submundo. Agora, se o mundo não reparar no que acontece aqui, a situação ficará pior. Presos num inferno de primeira classe."
Israel teve razões para reagir. A chuva de roquetes sobre Netivot e Sderot só matou uma pessoa, mas deixa meio milhão em terror permanente. Contudo, a violência de sábado (o dia mais mortífero desde a Guerra de 1967) não resolverá o problema. Os partidos no Governo ganharão credibilidade junto de um eleitorado que exige líderes fortes, mas Israel sairá enfraquecido, com o mundo horrorizado com a desproporção da resposta. O Hamas reforçará a aura de martírio, que somada ao trabalho social explica porque ganhou as eleições de 2006. Para os palestinianos, o Inferno traz simpatias acrescidas, nada mais. A criação de um Estado passa pelo sim de Israel, e com um Hamas forte as hipóteses dos moderados são mínimas, a começar pelo Presidente Abbas. Como escrevia o israelita Haaretz: "Acabar com o domínio do Hamas, assegurar a paz e resgatar [o soldado] Shalit são resultados improváveis da invasão de Gaza." Tudo acabará, é o mais certo, nalgum tipo de acordo. Que adiará tudo até os EUA decidirem mediar a sério. Agora, só a Al-Qaeda ganha. As imagens de morte em Gaza recrutarão jihadistas em todo o mundo islâmico, reforçando a tese do choque das civilizações, mesmo que a morte do seu arauto, Samuel Huntington, tenha sido conhecida no dia em que Gaza foi um inferno.
Descrição cruel do inferno de Gaza. Nem Dante teria imaginação para tanto. Resta-me o prazer de sentir que Israel, além do isco e do anzol, já está a engolir a cana. Ainda não perceberam que por cada morto palestiniano despertam para a luda anti-judeu alguns milhares...
O dedo na ferida- Pontos : 0
Re: FAZER DE GAZA O INFERNO SÓ BENEFICIA A AL-QAEDA
Agora, só a Al-Qaeda ganha. As imagens de morte em Gaza recrutarão jihadistas em todo o mundo islâmico, reforçando a tese do choque das civilizações, mesmo que a morte do seu arauto, Samuel Huntington, tenha sido conhecida no dia em que Gaza foi um inferno.
Vitor mango- Pontos : 118184
Re: FAZER DE GAZA O INFERNO SÓ BENEFICIA A AL-QAEDA
cito e susbscrevo dedo na ferida
Descrição cruel do inferno de Gaza. Nem Dante teria imaginação para tanto. Resta-me o prazer de sentir que Israel, além do isco e do anzol, já está a engolir a cana. Ainda não perceberam que por cada morto palestiniano despertam para a luda anti-judeu alguns milhares...
O dedo na ferida
Vitor mango- Pontos : 118184
Re: FAZER DE GAZA O INFERNO SÓ BENEFICIA A AL-QAEDA
Vitor mango escreveu:Agora, só a Al-Qaeda ganha. As imagens de morte em Gaza recrutarão jihadistas em todo o mundo islâmico, reforçando a tese do choque das civilizações, mesmo que a morte do seu arauto, Samuel Huntington, tenha sido conhecida no dia em que Gaza foi um inferno.
O Hamas reforçará a aura de martírio, que somada ao trabalho social explica porque ganhou as eleições de 2006. Para os palestinianos, o Inferno traz simpatias acrescidas, nada mais. A criação de um Estado passa pelo sim de Israel, e com um Hamas forte as hipóteses dos moderados são mínimas, a começar pelo Presidente Abbas. Como escrevia o israelita Haaretz: "Acabar com o domínio do Hamas, assegurar a paz e resgatar [o soldado] Shalit são resultados improváveis da invasão de Gaza."
Vitor mango- Pontos : 118184
Vagueando na Notícia :: Salas das mesas de grandes debates de noticias :: Noticias observadas DAS GALAXIAS SOBRE O PLANETA TERRA
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos