ESPÍRITO DE SOLIDARIEDADE
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ESPÍRITO DE SOLIDARIEDADE
ESPÍRITO DE SOLIDARIEDADE
António Vitorino
Jurista
Era grande a expectativa sobre o primeiro discurso do novo Presidente dos EUA. Uns esperavam uma frase histórica que simbolizasse a abertura de um novo ciclo político na América e no mundo, outros esperavam uma exaltação do significado da chegada à Casa Branca de um americano com origens africanas, outros esperavam uma peça de oratória ao melhor nível das que Obama proferiu na campanha.
Provavelmente todos terão ficado desiludidos com o discurso do novo Presidente, que manifestamente preferiu uma intervenção na linha da sua própria personalidade: contida e eficaz.
No fundo, Obama disse apenas duas coisas essenciais, uma para o mundo e outra para os americanos.
Falando para fora, Obama manifestou a ideia clara de que a América está disposta a actuar em conjunto com os aliados, com os amigos e com todos os que aceitem o diálogo numa base de respeito mútuo. Partindo de uma afirmação de humildade (a América está disposta a escutar e a aprender com os outros), deixou também uma indicação clara para o futuro: partenariado significa que caberá também aos outros assumir responsabilidades que a magnitude dos problemas não permite sejam exclusivamente imputadas aos EUA. Espera--se que esta passagem do discurso não tenha sido apressadamente lida nas capitais europeias e em Bruxelas...
Falando para os americanos, Obama alertou os seus concidadãos para que a ultrapassagem da crise não está ao virar da esquina, vai exigir tempo e esforços, comportar tentativas e erros, eventualmente até correcções de rumo e sobretudo, ao sair da crise, estaremos a entrar num novo paradigma de que ainda não conhecemos bem todos os contornos.
Mas é neste ponto do seu discurso que o Presidente americano define o cerne do seu mandato e daquilo por que vai ser julgado daqui a quatro anos: a fidelidade aos valores que definem a identidade americana, valores esses que sofrerão a adaptação necessária aos tempos conturbados que vivemos mas que serão acautelados naquilo que têm de mais essencial!
Por isso, a frase que a mim pessoalmente mais me marcou foi aquela em que se refere à América como uma nação jovem mas que tem que se deixar de criancices. Com inspiração na Bíblia (em São Paulo), Obama sintetiza desta forma que os tempos que aí vêm vão exigir sentido da responsabilidade, a recusa de aventuras ou de soluções que só na aparência são fáceis e que iludir a gravidade dos problemas só pode agravá-los ainda mais.
Com este pano de fundo e baseado em tal síntese, Obama menorizou o legado de Bush não apenas naquilo que os oito anos anteriores tiveram de mais controverso, mas sobretudo na medida em que contribuíram para o agravamento da situação global em que vivemos.
Mas o novo Presidente americano sabe que as primeiras semanas serão um teste decisivo à sua capacidade de assumir a proclamada vontade dos EUA de voltarem a liderar. Uma liderança baseada numa postura diferente, mas uma liderança que também tem de dar as suas provas para reconstruir a confiança no plano interno e na cena internacional.
Um bom exemplo deste sentido de equilíbrio entre rotura com práticas inaceitáveis do passado e a assunção de soluções responsáveis deu-o no primeiro dia em funções ao determinar a suspensão por quatro meses dos processos dos detidos em Guantánamo e anunciando o encerramento do campo até ao final do ano.
A suspensão até 20 de Maio visa permitir à nova Administração não apenas a revisão individual dos casos pendentes (cerca de 250 detidos) mas das próprias regras (muito controversas) das comissões militares de julgamento e seus procedimentos.
O prazo para o encerramento do campo revela a complexidade das situações individuais dos detidos, entre os que serão libertados, os que serão colocados sob custódia de outros Estados e os que serão levados a julgamento. Há quem na Europa pense que este foi um problema criado pelos americanos e que cabe aos americanos resolvê-lo. A iniciativa do ministro dos Negócios Estrangeiros português ao propor que a União Europeia aceite receber alguns dos detidos em causa mostra que à boa vontade americana há que responder com espírito de solidariedade. Em boa hora a tomou! A bola agora está assim também no campo europeu.
António Vitorino
Jurista
Era grande a expectativa sobre o primeiro discurso do novo Presidente dos EUA. Uns esperavam uma frase histórica que simbolizasse a abertura de um novo ciclo político na América e no mundo, outros esperavam uma exaltação do significado da chegada à Casa Branca de um americano com origens africanas, outros esperavam uma peça de oratória ao melhor nível das que Obama proferiu na campanha.
Provavelmente todos terão ficado desiludidos com o discurso do novo Presidente, que manifestamente preferiu uma intervenção na linha da sua própria personalidade: contida e eficaz.
No fundo, Obama disse apenas duas coisas essenciais, uma para o mundo e outra para os americanos.
Falando para fora, Obama manifestou a ideia clara de que a América está disposta a actuar em conjunto com os aliados, com os amigos e com todos os que aceitem o diálogo numa base de respeito mútuo. Partindo de uma afirmação de humildade (a América está disposta a escutar e a aprender com os outros), deixou também uma indicação clara para o futuro: partenariado significa que caberá também aos outros assumir responsabilidades que a magnitude dos problemas não permite sejam exclusivamente imputadas aos EUA. Espera--se que esta passagem do discurso não tenha sido apressadamente lida nas capitais europeias e em Bruxelas...
Falando para os americanos, Obama alertou os seus concidadãos para que a ultrapassagem da crise não está ao virar da esquina, vai exigir tempo e esforços, comportar tentativas e erros, eventualmente até correcções de rumo e sobretudo, ao sair da crise, estaremos a entrar num novo paradigma de que ainda não conhecemos bem todos os contornos.
Mas é neste ponto do seu discurso que o Presidente americano define o cerne do seu mandato e daquilo por que vai ser julgado daqui a quatro anos: a fidelidade aos valores que definem a identidade americana, valores esses que sofrerão a adaptação necessária aos tempos conturbados que vivemos mas que serão acautelados naquilo que têm de mais essencial!
Por isso, a frase que a mim pessoalmente mais me marcou foi aquela em que se refere à América como uma nação jovem mas que tem que se deixar de criancices. Com inspiração na Bíblia (em São Paulo), Obama sintetiza desta forma que os tempos que aí vêm vão exigir sentido da responsabilidade, a recusa de aventuras ou de soluções que só na aparência são fáceis e que iludir a gravidade dos problemas só pode agravá-los ainda mais.
Com este pano de fundo e baseado em tal síntese, Obama menorizou o legado de Bush não apenas naquilo que os oito anos anteriores tiveram de mais controverso, mas sobretudo na medida em que contribuíram para o agravamento da situação global em que vivemos.
Mas o novo Presidente americano sabe que as primeiras semanas serão um teste decisivo à sua capacidade de assumir a proclamada vontade dos EUA de voltarem a liderar. Uma liderança baseada numa postura diferente, mas uma liderança que também tem de dar as suas provas para reconstruir a confiança no plano interno e na cena internacional.
Um bom exemplo deste sentido de equilíbrio entre rotura com práticas inaceitáveis do passado e a assunção de soluções responsáveis deu-o no primeiro dia em funções ao determinar a suspensão por quatro meses dos processos dos detidos em Guantánamo e anunciando o encerramento do campo até ao final do ano.
A suspensão até 20 de Maio visa permitir à nova Administração não apenas a revisão individual dos casos pendentes (cerca de 250 detidos) mas das próprias regras (muito controversas) das comissões militares de julgamento e seus procedimentos.
O prazo para o encerramento do campo revela a complexidade das situações individuais dos detidos, entre os que serão libertados, os que serão colocados sob custódia de outros Estados e os que serão levados a julgamento. Há quem na Europa pense que este foi um problema criado pelos americanos e que cabe aos americanos resolvê-lo. A iniciativa do ministro dos Negócios Estrangeiros português ao propor que a União Europeia aceite receber alguns dos detidos em causa mostra que à boa vontade americana há que responder com espírito de solidariedade. Em boa hora a tomou! A bola agora está assim também no campo europeu.
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