Na mouche...
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Extracto de um texto escrito para o “Le Monde Diplomatique” (edição portuguesa) de Janeiro, num dossier sobre a Esquerda e o Poder em que participaram também José Neves, André Freire e António Abreu
(...) Conservadorismo, populismo e motim
As forças de esquerda ficam assim entrincheiradas na sua própria personagem. E é natural que assim seja. Quem não tem na sua agenda a participação no poder dispensa‑se de procurar as alternativas. Porque as alternativas só nascem da necessidade, da expectativa do exercício do poder. Mesmo os movimentos revolucionários só ganharam densidade na sua proposta quando o poder se tornou uma realidade provável.
Ao contrário do que parece, a recusa do poder, a cultura de contrapoder, não fortalece a construção de alternativas, nem é mais democrática nem mais participativa. Tem um efeito perverso, não apenas na forma como os destinatários dessas supostas alternativas olham para os seus supostos portadores, mas neles próprios. Sem o horizonte próximo da conquista do poder ou da influência directa no poder, as forças de esquerda transformam‑se ou em «partidos‑fortaleza», ou em «partidos‑megafone» ou em caos sem direcção política.
No primeiro caso, a defesa de uma identidade e a resistência em defesa das conquistas do passado substitui a construção de um programa ou de uma agenda. O conservadorismo, em vez de ser eficaz na defesa de direitos conquistados, está condenado à derrota sistemática. Porque o que não conquista definha, o que não cria deixa de pensar, o que só resiste está condenado a perder na luta pela hegemonia política. E é da derrota que estas forças se alimentam. A cultura de seita, a defesa da pureza ideológica e o ressentimento ocupam o lugar do combate político que conta.
No segundo caso, a conquista das sobras do desespero da acumulação de derrotas, apanhando o protesto e a insatisfação de cada momento, dispensa a apresentação de propostas exequíveis. O populismo torna‑se demasiado sedutor. A insatisfação pode criar movimentos pontuais, mas sem horizonte não tem rumo. E, na realidade política actual, ficará dependente de uma lógica mediática que não controla, privilegiando o episódio em detrimento da solidez da proposta política.
No terceiro caso, menos evidente a curto prazo mas mais preocupante a médio prazo, a ausência de uma verdadeira agenda política dá lugar ao protesto sem rumo, confundido fenómenos de revolta sem destinatário com redes sociais imaginárias e a estetização da violência com uma contracultura que, na realidade, se limita a copiar a cultura dominante da opressão e do medo.
São três becos sem saída: o conservadorismo, o populismo e o motim resultam da ausência de perspectivas de transformação e da convicção generalizada de que o poder é apenas uma miragem.
(...)
(...) Conservadorismo, populismo e motim
As forças de esquerda ficam assim entrincheiradas na sua própria personagem. E é natural que assim seja. Quem não tem na sua agenda a participação no poder dispensa‑se de procurar as alternativas. Porque as alternativas só nascem da necessidade, da expectativa do exercício do poder. Mesmo os movimentos revolucionários só ganharam densidade na sua proposta quando o poder se tornou uma realidade provável.
Ao contrário do que parece, a recusa do poder, a cultura de contrapoder, não fortalece a construção de alternativas, nem é mais democrática nem mais participativa. Tem um efeito perverso, não apenas na forma como os destinatários dessas supostas alternativas olham para os seus supostos portadores, mas neles próprios. Sem o horizonte próximo da conquista do poder ou da influência directa no poder, as forças de esquerda transformam‑se ou em «partidos‑fortaleza», ou em «partidos‑megafone» ou em caos sem direcção política.
No primeiro caso, a defesa de uma identidade e a resistência em defesa das conquistas do passado substitui a construção de um programa ou de uma agenda. O conservadorismo, em vez de ser eficaz na defesa de direitos conquistados, está condenado à derrota sistemática. Porque o que não conquista definha, o que não cria deixa de pensar, o que só resiste está condenado a perder na luta pela hegemonia política. E é da derrota que estas forças se alimentam. A cultura de seita, a defesa da pureza ideológica e o ressentimento ocupam o lugar do combate político que conta.
No segundo caso, a conquista das sobras do desespero da acumulação de derrotas, apanhando o protesto e a insatisfação de cada momento, dispensa a apresentação de propostas exequíveis. O populismo torna‑se demasiado sedutor. A insatisfação pode criar movimentos pontuais, mas sem horizonte não tem rumo. E, na realidade política actual, ficará dependente de uma lógica mediática que não controla, privilegiando o episódio em detrimento da solidez da proposta política.
No terceiro caso, menos evidente a curto prazo mas mais preocupante a médio prazo, a ausência de uma verdadeira agenda política dá lugar ao protesto sem rumo, confundido fenómenos de revolta sem destinatário com redes sociais imaginárias e a estetização da violência com uma contracultura que, na realidade, se limita a copiar a cultura dominante da opressão e do medo.
São três becos sem saída: o conservadorismo, o populismo e o motim resultam da ausência de perspectivas de transformação e da convicção generalizada de que o poder é apenas uma miragem.
(...)
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