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Darwin

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Mensagem por Viriato Seg Fev 16, 2009 2:19 am

Darwin

leonel.moura@mail.telepac.pt

Passaram ontem duzentos anos do nascimento de Charles Darwin. Trata-se de um dos maiores cientistas da história. A "Origem das Espécies", a sua obra-prima, representa uma colossal revolução no conhecimento da vida. Mas apesar do século e meio dessa publicação e após muita controvérsia, debate e, sobretudo, aprofundamento científico, Darwin continua a ser relativamente pouco conhecido e as suas teorias não tiveram ainda as implicações sociais e culturais que seria de esperar.

O evolucionismo, nascido com Darwin, demonstra que toda a vida actual descende de um único organismo primordial, o qual se foi desenvolvendo e evoluindo segundo princípios de radical aleatoriedade. Ou seja, utilizando um sistema de reprodução assente na duplicação e combinação de genes, a vida cria cópias de si mesma, por vezes fiéis, por vezes com ligeiras alterações, quer por efeito de recombinação, mutação ou mesmo erro. Nesses casos, se essas alterações tornarem o novo organismo mais bem adaptado ao meio ambiente, ele tenderá a ter algumas vantagens de reprodução e portanto evoluir, mas se, pelo contrário, as transformações o tornarem menos bem adaptado, terá maior dificuldade em passar os seus genes para as próximas gerações e extinguir-se-á.

A simplicidade desta teoria, hoje plenamente demonstrada por via do extraordinário desenvolvimento da genética, gera grande incomodidade na maioria das pessoas. Desde logo pela aparente total ausência de finalidade. Para quem acha que nada acontece sem alguma razão ou intento, aceitar que tudo se deve ao acaso não é pacífico. E não só para aqueles que advogam convicções religiosas, já que este indeterminismo atinge de forma brutal praticamente todos os princípios que a filosofia elaborou ao longo dos séculos e que, no essencial, ainda regem os nossos comportamentos e visões do mundo. Não é de facto fácil aceitar que as belas asas de uma borboleta, a elegância de um leopardo ou a parcimónia de um urso panda, são fruto do mero acaso.

Mas assim é. O aleatório é uma tremenda força no universo. Num jogo muito primário, mas altamente eficaz, em que se umas coisas combinam evoluem, se não combinam ou combinam mal, perecem.

Mas, claro, aquilo que mais preocupa a maioria das pessoas é o papel do homem. No tempo de Darwin foi sobretudo a questão da nossa descendência directa do macaco, bem ilustrada através das caricaturas da época e que hoje perdura no debate religioso, mas igualmente em muita gente que não aceita ser filho de uma criatura menor. Mas a genética contemporânea foi bastante mais longe. Até recentemente o homem estava colocado no topo de uma árvore da vida em que todos os ramos pareciam concorrer para realizar essa maravilha que efectivamente somos. Mas hoje já não estamos no topo da árvore. Pelo contrário, encontramo-nos no canto de um dos três grandes ramos, sendo que os outros dois, de distintos tipos de bactérias, são impressionantes em muitos aspectos. São os organismos mais antigos, mais resilientes e, apesar da sua pequena dimensão, aqueles cuja massa existe em maior quantidade no planeta.

Caso o homem, através de poluição, aquecimento global ou guerra atómica, consiga destruir o planeta e provocar a extinção da sua própria espécie e de muitas outras, as bactérias irão seguramente sobreviver.

Assim, a superioridade do homem, face a todas as restantes formas de vida, diz exclusivamente respeito ao critério de avaliação. A inteligência é um dado muito importante para nós, mas para outros é a sobrevivência, o que, como se sabe por algum comportamento humano, pode não significar a mesma coisa.

Mas não posso deixar de focar uma outra implicação da teoria de Darwin e da genética. Um pai pode aprender muita coisa na vida, ganhar muitas capacidades e talentos, mas mesmo que o faça antes de procriar não consegue passar nada disso para os genes dos seus filhos. Nem sequer normas sociais e comportamentos estabelecidos ao longo de gerações têm tradução genética. Também aqui o aleatório prevalece.

É por isso que o papel daquilo a que chamamos cultura é tão importante. Cada geração só consegue passar para a geração seguinte os seus conhecimentos e princípios éticos através do ensino, da informação, da conduta, do exemplo. E esta também é uma lição maior de Darwin.
Viriato
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