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À sombra das raparigas em flor...

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Mensagem por BUFFA General Aladeen Sex Mar 13, 2009 1:00 pm

Escrito por Luis Nogueira

À Lúcia e a todos os que como ela têm dúvidas e perplexidades, com ternura.

Tens quinze anos, vives de costas para a morte, não sabes e espero que nunca venhas a saber o que é ter que baixar a voz num café depois de olhar em volta a ver se se avistam caras sinistras, caras pouco habituais de olheiros e ouvideiros da benemérita PIDE ou da rebaptizada DGS. Espero...

Espero que nunca te forcem a levantar o braço, saudação fascista, isso a que os mais irreverentes chamávamos "pata no ar", para saudar o mandão que entra na sala de aula. Eu fui severamente advertido logo no primeiro dia de aulas da primeira classe. Era obrigado a fazê-lo: Ovar, um dia baço em Outubro de 1945.

Espero que nunca sejas obrigada, mesmo só abrindo e fechando a boca, a fingir que cantas pérolas literárias deste jaez:

A o-es-te da Eu-ro-pa
e jun-ti-nh'ao o-ce-a-no
fi-ca o nos-so Por-tu-gal
Qu'ri-do tor-rão Lu-si-ta-no

Eu tive que fingir. Todos os sábados à tarde. Era obrigatório e ai de quem faltasse!

Só nunca adquiri, nem enverguei, graças a intrincadas desculpas, o uniforme da "Bufa". "Bufa" era como os desuniformizados chamávamos à Mocidade Portuguesa... instituição de cujo penúltimo comissário foi um tal Baltazar (ou Balta-Zero, como lhe chamavam) Rebelo de Sousa, pai do Marcelo que usa mesmo apelido, e por aí papagueia num regime onde o sangue dos crimes cometidos pelos pais, não cai, felizmente, sobre a cabeça dos filhos. Felizmente...

É que por se recusar a pertencer à Legião Portuguesa, outra instituição salazarista, o meu pai foi demitido da função pública de modo a que o seu "crime" caísse sobre as nossas cabeças: minha, de minha mãe, dos meus irmãos. Era bíblico e piedosamente cristão o Estado Novo.

Espero que não tenhas que ouvir, na tua adolescência de católica convicta ou por hábito familiar, o prior da freguesia atirar à cara e à indiferença da mor parte dos paroquianos: "Hitler é um enviado de Deus!" ou "Nós, sacerdotes, temos o dever de denunciar os que falam contra Salazar e a sua obra em prol da Nação". Eu ouvi, calei e perdi, talvez infelizmente, a crença.

Espero que, denunciada por um colega teu de Faculdade, não te obriguem a comparecer a interrogatórios na polícia política fazendo-te sentir, "fichada", vigiada, ofendida, tratada abaixo de cão pelas ratas cinzentas que mantinham o regime iníquo em que vivíamos. Eu passei por isso. Mas fui um felizardo: outros mais corajosos do que eu levaram porrada a sério e passaram meses ou anos nas "termas". Inclinemos a cabeça perante esses homens e mulheres: sem eles esta mensagem teria que te ser entregue por mão própria e no maior segredo.

Espero que tu, ou alguém que ames, ou que simplesmente te seja próximo, não tenha que participar contra vontade numa guerra, nauseabunda como todas as guerras, para defender os interesses de meia dúzia de potentados e manter a viva paranóia nacionalista da cáfila que governava este país.

Espero que, se leres esta crónica saída já depois do 25 de Abril, compreendas porque na amável discussão que tivemos ontem eu tanto tenha insistido na necessidade de que os jovens da tua bela geração saibam como era "antes" e porque é que nós, jovens encanecidos deste tempo, tanto nos preocupamos em comemorar e manter vivo o significado da data. É, acredita-me, uma forma de vos presentearmos, de fazer com que vocês compreendam o que é viver em Democracia. Uma democracia, imperfeita, tintada de um neo-liberalismo repugnante, beata, cortadora de direitos básicos devidos aos cidadãos, mas que, ao menos por enquanto, não nos pode impedir de lhe chamar estes e outros (piores) nomes. Se isso vier a acontecer há-de haver gente (como tu, espero, como eu...) para lutar contra esse "impedimento".

E por fim espero que não te zangues se te explicar porque chamei a este escrito "À SOMBRA DAS RAPARIGAS EM FLOR": porque tu és uma "rapariga em flor" e porque é o título de um livro de Marcel Proust escrito a partir daquilo a que o autor chama "memória involuntária". Pequenas frases, pequenas palavras a desencadearem memórias como esta que aqui te deixo.



http://www.freipedro.pt/tb/300498/opin1.htm
BUFFA General Aladeen
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À sombra das raparigas em flor... Empty Re: À sombra das raparigas em flor...

Mensagem por BUFFA General Aladeen Sex Mar 13, 2009 1:03 pm

Eu sou BUFA.



Eu não sou BIFA.
BUFFA General Aladeen
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À sombra das raparigas em flor... Empty Re: À sombra das raparigas em flor...

Mensagem por Vitor mango Sex Mar 13, 2009 1:05 pm

BIFA escreveu:Eu sou BUFA.



Eu não sou BIFA.

ehpah BUfa nisso
Vitor mango
Vitor mango

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À sombra das raparigas em flor... Empty Re: À sombra das raparigas em flor...

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