O Magalhães de Barreto
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O Magalhães de Barreto
O Magalhães de Barreto
12 Março 2009
Tenho por António Barreto o respeito que nos deve merecer quem se dedica a pensar Portugal – e o faz com devoção e rigor. Enquanto editor da revista K, privei com ele e publiquei algumas das excelentes matérias que produziu para a revista.
Desse tempo ficou-me a ideia de uma incompatibilidade primária entre o sociólogo e as novas tecnologias. Recusou o telemóvel durante anos, e fazia questão de tornar público esse ódio de estimação...
Não surpreende, portanto, que chegado a 2009, António Barreto proclame nas páginas da Ler: «Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal». Diz mais: o Magalhães «foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura».
Ora, que António Barreto mantenha essa má relação com a tecnologia parece-me divertido e compõe a personagem. Mais grave é vê-lo falar do que não sabe. Desta vez, o sábio demitiu-se.
A introdução no sistema de ensino, com maiores ou menores problemas de produção e distribuição, do computador Magalhães, é talvez a mais relevante medida social deste Governo no que à educação diz respeito. Equipara as famílias pobres às médias – aquelas onde o computador e a internet estão já ao nível do televisor ou do DVD. Ou seja: coloca potencialmente todos os alunos num patamar semelhante de acesso à informação. Misturar este facto com a cultura do livro nas escolas é mais ou menos o mesmo que relacionar a nossa atávica iliteracia com o advento da televisão ou da rádio…
Do Magalhães ao livro vai a distância da terra à lua – porque não será a ausência de computadores que aproximará os estudantes dos livros, mas também não será a sua existência que os afastará. Pelo menos, convenhamos, dará acesso à informação - logo, à possibilidade da escolha.
A Internet, as novas tecnologias, estão a mudar a forma como vivemos, como consumimos informação, como nos relacionamos uns com os outros. Podemos criticar, estranhar ou mesmo rejeitar o “processo revolucionário em curso”, mas ele é não apenas imparável como irreversível. Não ver isto é como não ver. Ponto. Neste quadro, o “processo Magalhães” só é comparável, do meu ponto de vista, à electrificação dos caminhos, das aldeias, do país. É a abertura de uma óbvia e inteligente porta para o futuro.
O resto, como desde sempre, é tarefa dos pais e dos educadores. Não lê quem tem ou não tem Magalhães – lê quem quer, quem pode, e quem foi estimulado para a leitura. Assim foi, assim será.
De Pedro Rolo Duarte
PS – De passagem: não foi por ter um telemóvel aos 7 anos, um computador e internet aos 8, e uma playstation aos 9, que o meu filho deixou de ser, como é, um compulsivo leitor de livros (como eu nunca fui...). E não é por ter acesso permanente à net na sua escola, aos 13 anos, que ele deixa de andar sempre com um livro debaixo do braço.
12 Março 2009
Tenho por António Barreto o respeito que nos deve merecer quem se dedica a pensar Portugal – e o faz com devoção e rigor. Enquanto editor da revista K, privei com ele e publiquei algumas das excelentes matérias que produziu para a revista.
Desse tempo ficou-me a ideia de uma incompatibilidade primária entre o sociólogo e as novas tecnologias. Recusou o telemóvel durante anos, e fazia questão de tornar público esse ódio de estimação...
Não surpreende, portanto, que chegado a 2009, António Barreto proclame nas páginas da Ler: «Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal». Diz mais: o Magalhães «foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura».
Ora, que António Barreto mantenha essa má relação com a tecnologia parece-me divertido e compõe a personagem. Mais grave é vê-lo falar do que não sabe. Desta vez, o sábio demitiu-se.
A introdução no sistema de ensino, com maiores ou menores problemas de produção e distribuição, do computador Magalhães, é talvez a mais relevante medida social deste Governo no que à educação diz respeito. Equipara as famílias pobres às médias – aquelas onde o computador e a internet estão já ao nível do televisor ou do DVD. Ou seja: coloca potencialmente todos os alunos num patamar semelhante de acesso à informação. Misturar este facto com a cultura do livro nas escolas é mais ou menos o mesmo que relacionar a nossa atávica iliteracia com o advento da televisão ou da rádio…
Do Magalhães ao livro vai a distância da terra à lua – porque não será a ausência de computadores que aproximará os estudantes dos livros, mas também não será a sua existência que os afastará. Pelo menos, convenhamos, dará acesso à informação - logo, à possibilidade da escolha.
A Internet, as novas tecnologias, estão a mudar a forma como vivemos, como consumimos informação, como nos relacionamos uns com os outros. Podemos criticar, estranhar ou mesmo rejeitar o “processo revolucionário em curso”, mas ele é não apenas imparável como irreversível. Não ver isto é como não ver. Ponto. Neste quadro, o “processo Magalhães” só é comparável, do meu ponto de vista, à electrificação dos caminhos, das aldeias, do país. É a abertura de uma óbvia e inteligente porta para o futuro.
O resto, como desde sempre, é tarefa dos pais e dos educadores. Não lê quem tem ou não tem Magalhães – lê quem quer, quem pode, e quem foi estimulado para a leitura. Assim foi, assim será.
De Pedro Rolo Duarte
PS – De passagem: não foi por ter um telemóvel aos 7 anos, um computador e internet aos 8, e uma playstation aos 9, que o meu filho deixou de ser, como é, um compulsivo leitor de livros (como eu nunca fui...). E não é por ter acesso permanente à net na sua escola, aos 13 anos, que ele deixa de andar sempre com um livro debaixo do braço.
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