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A longa e dura caminhada até ao Santuário de Fátima

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A longa e dura caminhada até ao Santuário de Fátima Empty A longa e dura caminhada até ao Santuário de Fátima

Mensagem por Admin Dom maio 10, 2009 10:08 am

A longa e dura caminhada até ao Santuário de Fátima

00h30m

LEONOR PAIVA WATSON, PEDRO CORREIA

foto Pedro Correia/JN
A longa e dura caminhada até ao Santuário de Fátima Ng1147247
Há caminhadas para Fátima que duram uma semana




Peregrinos caminham na beira da estrada à mercê da violência dos
condutores e sem quaisquer condições de segurança. Confiam uns nos
outros e na sua fé para não se perderem durante o caminhoEstão
quase sozinhos os peregrinos. Confiam uns nos outros, pedindo para que
o grupo a que pertencem não os abandone, caso falhem as forças. São
milhares e percorrem quilómetros na beira da estrada, de noite e de
dia, a engolir o pó levantado pela violência de condutores. Querem
chegar a Fátima. Ao Santuário. À casa de Nossa Senhora. Entre as
localidades não se vê um caixote do lixo e muito menos um polícia. O
caminho é duro e longo. A luta contra o sol, a chuva ou contra o sono é
terrível. Não se podem perder. Movem-se pela sua fé. Só ontem e
hoje, Fernando Pirata, 48 anos e líder de um grupo de 30, já leva quase
60 quilómetros no corpo e diz-nos que é sempre assim: "A fé e a
ausência de segurança. De um lado, os caminhos de Deus; do outro, os do
diabo". Fala quem sabe, afinal, este homem faz este mesmo percurso há
13 anos, desde que nessa altura decidiu acompanhar uma irmã ao
Santuário. Encontrou nessa primeira caminhada a sua missão:
ajudar os peregrinos. "Continuem, continuem, que eu tenho que ir
acompanhar a senhora Maria", diz-nos. A senhora Maria, de passo curto,
fica sucessivamente para trás. Foi abandonada pelo anterior grupo e foi
o de Fernando Pirata que a resgatou. Estava só e perdida. Ao
seu lado vão passando dezenas de pessoas de outros grupos. Fracos
chinelos nos pés, cobertos com pensos higiénicos, um chapéu e o
telemóvel para se falar à família. Todos dizem ao que vão. "Olhe
menina, o meu nome é Laura e venho pagar uma promessa. A gente promete
e tem que cumprir, não é?". Ao lado, passa uma senhora com um adesivo
na boca, põe o dedo em riste para avisar que vai em silêncio.As bolhas nos pésMuitos
já cambaleiam. As bolhas nos pés são a grande ameaça. Que o diga
Cristina que só vai ver as suas tratadas depois do almoço, em
Albergaria-a-Velha, para onde ainda faltam oito quilómetros. É Fernando
Pirata quem a trata. Lava-lhe os pés, desinfecta-os, massaja-os,
rebenta-lhe as bolhas, protegendo-as com compressas. Assim faz a todos
os peregrinos do seu grupo e a todos os outros que precisam.Ele
próprio precisará mais tarde. Precisamente daqui a quatro dias. É que
Fernando Pirata faz de pés descalços os últimos 20 quilómetros antes de
chegar ao Santuário. O asfalto escaldará. Andará três meses a
tirar alcatrão dos pés, mas fá-lo. Não para pagar promessa, não para
pedir nada, apenas porque sim, para caminhar, "para ter um tempo de
silêncio". É uma missão que leva ao pormenor.Regras para evitar acidentesO
seu grupo, por exemplo, caminha de noite e de manhã, para evitar o sol
e as horas de maior trânsito. E depois há regras. A primeira é que
ninguém pode, em circunstância alguma, atravessar a estrada. "Julgam
que ainda podem correr, mas a verdade é que o corpo já não tem forças
para isso. O risco de atropelamento é muito grande", explicaTudo
isto faz e planeia para "recarregar baterias. Para ajudar os peregrinos
e todos os que necessitam. Muitos são abandonados pelos grupos. Há
poucas instituições de apoio. Não há polícia, não há segurança". "Para
mim é uma missão. É uma forma de agradecer a vida", pormenoriza.O
mesmo pensa António Santos, de 34 anos, membro do grupo de Fernando
Pirata. Garante que "não trocaria uma peregrinação a Fátima por nenhuma
outra viagem do Mundo" e acrescenta que "enquanto se caminha,
encontram-se as respostas para todas as perguntas que nos assaltam
durante o ano". Vai a Fátima "só para caminhar, só para agradecer". E
agradecer o quê? "Estar vivo".Ao lado, a fumar um cigarrinho
numa pausa merecida, após 23 quilómetros só nesta manhã, está Miguel
Nora, de 34 anos e membro da mesma equipa. Garante que também não vai
pedir nada, "apenas agradecer, já que em casa, na confusão dos dias,
nem sempre dá para o fazer". "Este é um tempo só para pensar", reitera.E
são muitos os que na mesma pausa merecida - acompanhada de um almoço
generosamente oferecido pelo senhor José e pela dona Maria da
Purificação, da Padaria Central de Albergaria-a-Velha - revelam que não
foram pedir nada à Nossa Senhora. Apenas agradecer. E sentir o ambiente
"indescritível" do Santuário.Mas são muitos também os que vão
pagar promessa. Como dizia a senhora Laura que encontramos na estrada
há uns oito quilómetros, "se a gente promete, a gente tem que cumprir".
E assim prometeu Fernanda Mendes, de 59 anos. Bem disposta durante toda
a caminhada deste dia, conta que a razão da sua ida a Fátima tem que
ver com uma promessa que fez relativa à saúde de uma familiar muito
querida. Mas ressalva: "Independentemente do que possa vir a acontecer,
eu virei sempre". Há dois dias, antes da caminhada começar, Fernanda
estava alegre, motivada. Dois dias depois continua com força. Custa-lhe
apenas "a luta contra o sono".Vencer os limites do corpoO
mesmo com a sua filha Sónia, de 34 anos, que chega a adormecer por
breves instantes enquanto caminha. Mas não lhe passa pela cabeça deixar
de continuar. "Eu era daquelas pessoas que pensava que jamais faria uma
peregrinação. Até que um dia, por causa desta nossa familiar, pensei em
vir. Andei meses a pensar nisso até que decidi. Agora sou incapaz de
não vir", revela.A peregrinação faz-se, afinal, de persistência.
De resistência. Que o diga o senhor Luís, o mais crescido do grupo,
que, com 72 anos e as pernas muito tortas, recusa ajuda para caminhar e
sobe heroicamente a íngreme ladeira que vai dar às Diocesanas que os
albergarão esta noite. A mesma força de espírito tem um outro membro do
grupo que fica retirado enquanto os restantes vão almoçar. Está a pão e
água. E hoje ainda só estamos em Albergaria-a-Velha, falta a Mealhada,
Coimbra, Pombal e Fátima, que é como quem diz: faltam quatro dias. Ao
lado do grupo, num esforço hercúleo está José Paulo, o condutor da
carrinha de apoio. Anda de carro, mas o seu esforço não é menor. Faz
inúmeras viagens de trás para a frente para ver se está tudo bem, para
verificar se algum peregrino teve um percalço. José Paulo carrega com
as malas, com a água, com a fruta. E o mais difícil é não adormecer ao
volante. " Estou desempregado e assim faço alguma coisa de útil", atira
sem rodeios. Só nesta manhã, até à chegada a Albergaria-a-Velha, deve
ter feito mais de 300 quilómetros.Fernando Pirata não aceitaria
falhas. Não fosse ele o homem dos pormenores, tais como guardar numa
saquinha bordada todos os pedidos à Nossa Senhora, que vai recolhendo
na beira da estrada. Para entregar depois na capela das Aparições, onde
já entrará com os pés em sangue. Comove? Comove. Porquê isto? Porque
sim. A fé é de cada um e, como traduz um peregrino, "não se vê,
sente-se, mas não se explica".
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