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Mensagem por Viriato Sex maio 22, 2009 2:10 am

Ver a Bela Vista

por Fernanda Câncio - DN

O assunto estará talvez um pouco gasto. Ainda há quem o refira em debates e colunistas a fazer dele tema (como Maria José Nogueira Pinto ontem no DN), mas arrefeceu. De tal maneira arrefeceu que nem sabemos se o reforço policial lá permanece - já não há "directos" da frente da esquadra a horas certas nem especialistas sortidos a fazer comparações com a "revolta grega" ou com os subúrbios em chamas da França em 2005.

Ainda bem: significa que o bairro voltou à normalidade. É dessa normalidade que é preciso falar. Muito do que se ouviu e leu sobre a Bela Vista (até sobre o próprio nome do bairro, chamando-lhe "enganador") demonstra uma coisa simples: muita gente não sabe do que fala. Soa presunçoso dizer isto, mas de facto não se pode concluir outra coisa quando se ouve e lê que o bairro "não tem condições" ou "foi deixado à sua sorte, degradado e maltratado". Entendamo-nos: o bairro da Bela Vista foi construído nos anos 70, logo a seguir ao 25 de Abril (tinha sido em parte planeado antes, o Estado Novo também fazia bairros sociais, caso haja gente esquecida). Atendendo a isso, está em razoável bom estado - muito melhor estado que grande parte da cidade de Lisboa, por exemplo. Os apartamentos são espaçosos e apreciados pelos locatários, e, o que é muito importante, o bairro faz parte de Setúbal, não se distingue da restante malha urbana nem está num descampado qualquer afastado de tudo. Tem escolas de todos os ciclos do ensino obrigatório, algumas recém construídas e outras em reconstrução, um supermercado, um mercado novo e um parque verde (o parque da Bela Vista) criado há poucos anos. Tem campos de jogos, pátios comunitários (que servem vários prédios) e, pelo menos no bairro azul, uma magnífica vista de mar (que deu o nome ao bairro). Tem transportes públicos, esquadra e recolha de lixo. Tem ainda várias instituições lá sediadas, entre as quais a Associação Cristã da Mocidade, que tem piscina e oferece um conjunto de actividades para crianças e jovens. Tudo isto no bairro, no seu espaço físico. É isto um "gueto", um lugar "abandonado à sua sorte", como tanta gente o disse e descreveu? Não parece. Não é.

Como explicar então a criminalidade, a delinquência, os ditos gangues, as armas e cocktails molotov, os carros e contentores incendiados, o desafio à polícia, perguntam--me. Acrescento: como explicar o abandono escolar, o discurso das desculpas - "Sou filho do gueto, não tenho hipótese, vou ser discriminado, por isso nem tento" -, a revolta, a raiva, o sentimento de exclusão? Pois, não é fácil. E quem diz de explicar diz de solucionar. Não se resolve decerto com a política anti-janelas partidas, como sugere o director do i, nem com o fim dos apoios sociais, como defende tanta gente - era melhor deixar existir bairros da lata e gente a morrer à fome? -, nem com toneladas de repressão, mesmo se obviamente a polícia deve actuar nos casos de polícia. Não se resolve tratando todo o bairro como criminoso e excluído. Não decerto falando dele como um problema, como se viver ali, nascer ali, crescer ali já equivalesse a opróbrio e sentença. Lamento: aquele bairro, em si, não explica nada, não desculpa nada.
Viriato
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