Seis meses de Obama

Seis meses de Obama
Quem esperava que Obama resolvesse todos os problemas do mundo já se desiludiu.

Oque mudou no mundo e na América quando fazem seis meses desde que Obama tomou posse como presidente americano? A resposta é mista. Alguma coisa mudou. A saída de cena de George Bush fez com que o mundo sentisse um enorme alívio. A tensão era grande, e o descrédito da América ainda maior, e bastou a chegada de Obama para se respirar um ar novo e mais puro. Contudo, para além desse ganho, o que sobra? É verdade que Obama é muito melhor relações públicas do que Bush, e provoca um sentimento de simpatia onde quer que vá, o que é um bom princípio. Só que não chega. Seja nas relações internacionais, se-ja no interior da América, não é suficiente existir um presidente simpático e bem intencionado. A realidade é muito mais complexa do que isso. Se fizermos um zoom, focando-nos sobre os problemas do mundo, vamos chegar à triste e sombria conclusão que as coisas não mudaram muito. No Iraque, já com o calendário de saída das tropas americanas definido por Obama, regressaram as bombas e os atentados, e é provável que as coisas piorem. No Irão, houve tumultos e protestos, mas o mais certo é tudo continuar na mesma, com a linha dura de presidente e ayatollas a manterem a hostilidade, dificultando qualquer negociação com Obama. No Afeganistão, as escaramuças prosseguem, e não há vencedores nem vencidos à vista. Do outro lado da fronteira, no Paquistão, o equilíbrio é instável e perigoso, e ninguém pode prever com que cores se irá escrever o futuro. Em Israel, os duros que estão no poder fazem concessões mínimas a um futuro estado palestiniano e continuam a permitir a expansão dos colonatos. Quanto aos palestinianos, os sinais de mudança do Hamas são infinitesimais, e não chegam para ser optimista. Apesar do discurso de Obama no Cairo significar uma grande mudança da política americana quanto ao Médio Oriente, os resultados até agora são minúsculos.

E então se olharmos para a Coreia do Norte, onde a provocação do ditador é crescente, podemos concluir que Obama não mudou o mundo. Nem o seu país. Na América, os planos apresentados para a regulação financeira e para a reforma do sistema de saúde vão gerar grande oposição do Congresso e não se sabe se serão aprovados. E a crise económica não dá mostras de ter terminado.

Quem esperava um milagre, quem esperava que Obama fosse o Capitão América, um super-herói que conseguia resolver todos os problemas, já terá tido a sua desilusão. O mundo não muda em seis meses.
Domingos Amaral, Director da 'GQ'

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