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"Tenho mais poder no Abrupto que como secretário de Estado"

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Mensagem por Vitor mango Dom Jul 27, 2008 1:02 pm



"Tenho mais poder no Abrupto que como secretário de Estado"

JOÃO CÉU E SILVA Texto
e RODRIGO CABRITA Foto
É um dos barões do PSD e um dos 'tubarões' do comentário político nacional. Antes de pertencer à família social-democrata, andou pela extrema- -esquerda e por isso o PCP não lhe facilita as investigações nos seus arquivos secretos. Lançou um novo livro - O Um Dividiu- -Se em Dois - em que escalpeliza os conflitos da década de 60, que lhe têm ocupado os dias de travessia no deserto por conta dos desvios populistas

no seu partido
Onde é que se sente mais rei? Na Internet, com o seu blogue Abrupto, ou na Marmeleira, com o seu arquivo de investigação?

Eu não tenho muito feitio para me sentir rei. Sigo há muitos anos uma recomendação do poema de Ricardo Reis que diz "no dia em que fores rei de ti próprio, a tua primeira decisão deve ser abdicar".

Nos seus livros nunca aparece a sua data de nascimento nem o local...

Penso que há livros que a têm. Nunca quis ser mais novo do que sou nem de outro sítio que o Porto.

Faz vida em Lisboa. Sente saudades do Porto ou sente-se libertado por ter saído de lá?

Não há cidade em que me sinta tão bem como no Porto. Sabe, há uma convenção no teatro japonês em que nalgumas peças as personagens não tiram os pés do chão porque quando o fazem estão a representar fantasmas ou pessoas que já morreram. Eu tenho a mesma sensação em relação à minha cidade, que quando estou fora do Porto tiro os pés do chão. Sou inteiramente feito pelo Porto e só lá é que me sinto bem, porque é uma cidade que tem um carácter muito especial e único no País. Tem uma tradição liberal diferente, porque as ideias sobre a liberdade, a individualidade e a democracia não chegaram de comboio nem pelo telégrafo de Paris. É uma cidade que sempre resistiu à autoridade, particularmente à que considerava ilegítima. Nunca tive uma relação assim com Lisboa!

Quando regressa não o olham como sulista?

Mas eu não sou lisboeta e as pessoas sabem isso. O que aconteceu nos últimos anos é que houve um conjunto de pessoas que para fazer política no Porto assumiram o discurso mais provinciano, que é o de "coitadinho do Porto, Lisboa tira-te tudo". Esta política foi seguida por todos os partidos e é das coisas que mais apoucam a minha cidade. Quem acha isso trata-me como se eu fosse lisboeta, mas garanto que conheço melhor e sou mais do Porto que muito dos que têm este discurso.

Que até é mais frequente no seu PSD…

E pelos do PS também, pelos dirigentes do Futebol Clube do Porto e por uma elite que ainda o usa. É, infelizmente, transversal no plano político.

E porquê?

É a resposta fácil aos problemas da cidade. A eleição-surpresa de Rui Rio é o exemplo de que a cidade é capaz de fazer isto contra tudo e contra todos!

Manuela Ferreira Leite poderá regressar ao poder. Pacheco Pereira também poderá?

Isso para mim é uma pergunta retórica. Sei lá, não penso sobre isso! Não acho muito provável eu chegar ao poder, ela sim. Nem sequer sou capaz de pensar isso a partir da formulação da pergunta.

Foi um dos seus primeiros apoiantes. Qual é o papel que deseja após esta sua travessia do deserto no PSD que vai surgir pós-eleições?

Não faço a mínima ideia nem tenho nenhuma espécie de antecipação sobre esse assunto. Eu apoiei a candidatura… Antes até disso, combati a liderança de Luís Filipe Menezes porque achava que era uma tragédia para o partido. Apoiei Ferreira Leite praticamente desde o início e sempre lhe manifestei completa disponibilidade para o que ela entendesse ser necessário, ao mesmo tempo que lhe disse que se pedia a minha opinião - como fez porque nós somos amigos e falámos com muita frequência - o que poderia dizer era que eu não deveria fazer parte de nenhum órgão do partido porque isso seria uma maior dificuldade para ela no congresso. Não tenho dúvida nenhuma de que se paga um ónus pelo tipo de críticas que fiz... Veja a campanha de Santana Lopes - e de Menezes - em que grande parte foi feita contra mim e não contra Manuela Ferreira Leite e isso viu-se nos comícios e reuniões, eu era o principal visado. E não queria que ela pudesse vir a ter qualquer dificuldade suplementar num congresso em que já tinha muitas, se eu, por qualquer motivo, estivesse nas suas listas. Para além do mais, eu não actuo de forma diferente conforme estou nos cargos ou fora deles, por isso o tipo de colaboração que lhe daria antes é o mesmo tipo que lhe dou depois: inteiramente disponível. Mas essa disponibilidade não passa por nenhum cargo. A disponibilidade existe mas existe sempre e vem de uma concordância profunda sobre a estratégia, a maneira de actuar, a personalidade e as pessoas que estão à frente do partido. Existe sem qualquer espécie de vontade de qualquer cargo.

Mas que cargo é que vê para si?

Nenhum!

Mas está certo de que será convidado...

Não faço ideia. Nem perco cinco minutos a pensar sobre isso.

Mas não terá qualquer problema, caso Manuela Ferreira Leite o convide e se enquadre dentro dos seus interesses, em aceitar?

Não, não tenho nenhum problema em aceitar, mas isso terá de ser uma iniciativa inteiramente livre de Manuela Ferreira Leite, que sabe que eu estou com a direcção do partido, com lugar ou sem ele.

Mas apoiará qualquer decisão que Manuela Ferreira Leite tenha nos próximos tempos?

Não, não apoiarei qualquer decisão. Apoiarei as decisões em que concordo e tenho confiança e pela linha seguida elas serão no essencial decisões com que eu concordo. Quando não concordar com alguma e achar que é suficientemente importante para o dizer, também o direi.

No seu percurso há sempre momentos no poder. Sente-se atraído pelo poder?

Às vezes tenho mais poder por uma coisa que escrevo no meu blogue, o Abrupto, do que se for secretário de Estado de alguma coisa. Eu tenho uma ideia muito desapiedada do exercício do poder e, portanto, não sou muito atraído pela formalidade do poder.

Mas se estivesse no Governo...

As áreas do poder que mais me interessam são, chamemos-lhe assim, as da pesada. Essas em que há alguma coisa que se pode fazer e nas quais se pode mudar. Portanto não é matéria sobre a qual eu reflicta, se acontecer aconteceu, se não acontecer não aconteceu. Uma coisa lhe digo: não tenho nenhum farol nem nenhum fundo do túnel a dizer "quando deixares de fazer aquilo que fazes, vais fazer outra coisa qualquer e isso significa um upgrade". Tudo que escrevo neste momento faço- -o por gosto - estes livros têm muito trabalho e são à minha custa, pago tudo - mas também tenho uma noção de responsabilidade e se achar que tenho oportunidade de fazer alguma coisa bem e que me é solicitada, com certeza que sim, que tentarei. Mas estou muito longe…

É um homem feliz com o que faz?

Sim, sou feliz com o meu trabalho, sim.

Mas não seria infeliz na política...

Eu gosto imenso da política! Eu faço política todos os dias naquilo que escrevo e que penso. As pessoas acham que a política é aquela que se faz formalmente. Eu reconheço que houve circunstâncias em que aquilo que disse e escrevi teve um papel! Isso denota mais influência e mais poder do que às vezes a coisa formal de tomar uma decisão de despacho. A maioria do poder hoje é aquilo que os americanos chamam high dispatching, o "despacho alto", e vi isso a funcionar muito bem no Parlamento Europeu. Não tenho muitas ilusões! Acho que objectivamente ajudei o PSD a mudar nos últimos tempos! Qualquer análise objectiva mostra que, contra todas as probabilidades no meio de um processo tumultuário, eu contribuí para que o PSD hoje seja uma organização sadia.

Ao lerem-se os seus livros e ao saber-se o seu partido político, fica-se com a impressão de que é como a melancia: vermelho por dentro e de outra cor por fora. Sente-se assim?

Não. Nem é vermelho por dentro, nem é verde por fora. Eu publiquei o primeiro livro muito novo (As Lutas Operárias contra a Carestia de Vida em Portugal), em 1971, que foi apreendido pela censura, e o despacho fazia-me um elogio que ao fim de tantos anos ainda gosto de ler: "Uma das razões por que este livro deve ser retirado é que contém textos simples sobre problemas como a carestia de vida, que podem ser considerados subversivos." A minha área de interesse sempre foi esta, a história do movimento operário, dos movimentos radicais e a história do Partido Comunista. É evidente que na sua origem estava uma intencionalidade política, porque o livro era escrito contra o regime ditatorial, mas também escrito contra a cultura do PCP. Se eu tivesse feito como muitos dos meus antigos colegas esquerdistas, escrito sobre a vida urbana, o fascismo e o Estado Novo, ninguém diria que era verde por fora e vermelho por dentro. Como eu escrevo utilizando uma metodologia histórica sobre estes temas, parece que há uma espécie de maldição e uma suspeição. Isso é-me bastante indiferente, mas reconheço que se eu escrevesse sobre coisas mais pacíficas pareceria menos esquerdista.

Quando fala nesses nomes de esquerdistas que mudaram, quem é que está a citar?

Toda a gente mudou, não querem é admitir! Mas isso também não tem mal nenhum, ainda bem que mudaram, porque havia uma certa tendência em algum esquerdismo em vésperas do 25 de Abril para a violência. Se não se desse em 1974, haveria algumas organizações de extrema-esquerda que caminhavam claramente, em parte por desespero e em parte pelo ar do tempo, para uma violência do género das Brigadas Vermelhas italianas. A democracia foi fundamental em Portugal para fazer com que uma geração fizesse o seu caminho para a democracia com a sua identidade própria, pensando e actuando de forma diferente dos velhos democratas de antes do 25 de Abril, e hoje tem um papel predominante nos media, na vida pública e política. Se formos à bancada do PS, encontramos imensa gente que veio do MES e do MRPP. Se formos à do PSD, encontra-se muito mais gente do que eu que também veio daí. Foi por isso que quando Mário Soares precisou de aliados foi buscá-los à extrema-esquerda e o mesmo aconteceu com o PSD.

E ainda acredita na luta de classes?

A luta de classes é uma coisa que hoje vejo de um ponto de vista analítico, e se me disser que eu penso que a conflitualidade social é inapagável das sociedades democráticas, eu penso, sim. Porque há sempre mecanismos de exclusão, quem seja mais pobre e quem tenha mais e quem tenha menos. Não é preciso ser marxista para se o afirmar.

Então Marx não estava tão errado assim!

Esses autores trazem uma ganga tão grande de política e de simplismos que é sempre difícil falar sobre eles. Marx desvalorizou a conflitualidade que vem de factores de mentalidade e culturais, que é o pano de fundo das sociedades democráticas e elas não a eliminaram, antes dão-lhe um enquadramento institucional que faz com que a conflitualidade, sem deixar de existir, perca aquele aspecto de luta de classes.

Acha que Portugal tem mais a ganhar com a direita ou com a esquerda?

Tenho muita dificuldade em considerar essa classificação útil nos dias de hoje. Eu acho que há uma transversalidade de muitas questões e um grau de complexidade na vida política que faz com que o quadro esquerda e direita esteja ultrapassado. Eu próprio tenho muitas ideias que são de esquerda e muitas ideias que são de direita e não acho que sejam conflituais. Tenho uma noção muito elitista da cultura que tradicionalmente é da direita. Tenho uma visão dos costumes que me aproxima mais de uma tradição que vem da esquerda. Portanto, prefiro não dizer o que é melhor, se é a direita se é a esquerda, mas tentar discutir o que é melhor em termos substantivos.

Vamos ter eleições brevemente. A "direita" vai tirar a maioria à "esquerda"?

Pode tirar-lhe a maioria e pode ganhar as eleições. Eu acho que as pessoas estão a menosprezar uma circunstância fundamental, que é o clima em que as eleições de 2009 se vão realizar, numa altura em que os portugueses mais estarão a sofrer com a crise económica e social. E o que é que vai pensar o português que vota nessa altura? Vai votar sem grandes expectativas, cansado de promessas, farto que lhe prometam que há luz ao fim do túnel e de perceber que não sairá tão facilmente dele.

As próximas eleições vão, então, decidir-se pela bolsa e não pelo mérito do PSD?

Eu acho que isso não é uma distinção sem sentido, porque quando uma pessoa vota numa eleição vota sempre com o coração e com a bolsa. E ambos são mecanismos muito legítimos para votar. Mas a verdade é que a bolsa, em período eleitoral, transporta política. É verdade que o coração, em período eleitoral, transporta política e eu não vejo que o facto de as pessoas votarem pela bolsa tenha menos dignidade, particularmente num país pobre em que as pessoas estão a conhecer dificuldades. Espero que votem pela bolsa, de uma forma que tenha significado político.

E como estará o PS nessa altura?

Os portugueses vão ter um primeiro-ministro que construiu todo o seu discurso numa espécie de falso optimismo, que vai chegar de baraço ao pescoço e fazer campanha eleitoral dizendo: eu não pude fazer o que disse por causa da conjuntura internacional. O que é uma mentira e em 2009 vai ser comparado com os números de 2005, do Governo de Santana Lopes, e em muitos aspectos vão estar piores. O que espero que o PSD faça é que não prometa mundos e fundos e diga apenas que "neste contexto de dificuldades há opções diferentes". Se o PS vai chegar às eleições de 2009 com uma ruptura da confiança, se o PSD aparecer apresentando mais segurança, seriedade e capacidade de defrontar a situação difícil que se vive, o eleitorado muda. Se não for assim, se as coisas estiverem parecidas, se houver hesitação, o eleitorado tenderá a votar no PS.

Porque é que compara com Santana Lopes?

É a comparação que faz o primeiro-ministro, com os números que recebeu, e é com eles que tem de ser confrontado nas eleições de 2009.

Se tivesse uma varinha de condão, o que faria a Santana Lopes?

Eu nunca tive nenhuma animosidade pessoal com o dr. Santana Lopes, que até acho que é uma pessoa que gosta da vida, e eu gosto de pessoas que gostam da vida, e é uma pessoa que tem um certo hedonismo pessoal que acho saudável na política. Discordo é radicalmente do político, não é por animosidade pessoal, mas por discordância política e por ter a noção de que esse desvio que aconteceu no PSD, quer com Santana Lopes quer com Luís Filipe Menezes, punha em causa os fundamentos do PSD. O desvio populista está bom para um partido de natureza diferente daquele para que o PSD foi fundado e, portanto, combati-o. E combati muitas vezes solitário. Da primeira vez, apenas com meia dúzia de pessoas, quase todas mulheres, porque as mulheres portaram-se sempre melhor no PSD do que os homens. Da segunda vez, praticamente solitário.

Se o PS não tiver maioria, o Bloco de Esquerda irá fazer chantagem eleitoral?

Tenho a certeza que sim e que o PCP também fará. Não tenho dúvida de que quer o PCP quer o Bloco de Esquerda pressionarão um governo de Sócrates minoritário, dando-lhe apoio parlamentar. Mas atenção: os cenários de há três meses não são os cenários de hoje e mesmo que se considere que o PSD possa não ganhar as eleições, pode ficar perto e isso significa que pode não chegar uma aliança PS-BE ou os votos do PCP. Ainda é cedo para fazer este tipo de análise.|
Vitor mango
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Mensagem por Viriato Dom Jul 27, 2008 2:38 pm

O Abrupto chegou a ser uma referência. Não a que PP tenta atingir. Hoje não vale nada. É uma feira de vaidades, oca e sem substância. Os blog's têm ciclos. Não duram sempre. Sorry...
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Mensagem por Vitor mango Dom Jul 27, 2008 3:27 pm

Rui Aguiar escreveu:O Abrupto chegou a ser uma referência. Não a que PP tenta atingir. Hoje não vale nada. É uma feira de vaidades, oca e sem substância. Os blog's têm ciclos. Não duram sempre. Sorry...

Confesso que nunca li ...ou melhor passava a lingua por cima e aquilo tinha muita poesia e paleio em Ingles
e Mango tem Horror a ointyelectuais ( falsos ou caganeiros ...nisso concorco com o RON
Povo é povo ...er intelectual é para ....as tribunas
Vitor mango
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Mensagem por RONALDO ALMEIDA Dom Jul 27, 2008 3:35 pm

INTELECTUAIS saem a ESTALADA la do meu escritorio!!! Laughing Laughing Laughing
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