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Guernica e a gaza e a diferença dos mortos - para completar um post

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Mensagem por Vitor mango Ter Nov 24, 2009 4:54 am

Guernica: a arte e o terror



Guernica e a gaza e a diferença dos mortos - para completar um post Guernica1
O mural de Guernica, Picasso, 1937
"Todos vocês sabem que na Espanha nós não nos situamos como meros observadores desinteressados..." - Hitler, em 29 de abril de 1937.

A segunda-feira negra de Guernica
Era uma 2ª feira, dia de feira-livre na pequena cidade da Biscaia. Das
redondezas chegavam as suas estreitas ruas os camponeses do vale de
Guernica, no país dos bascos, trazendo seus produtos para o grande
encontro semanal. A praça ainda estava bem movimentada quando, antes
das cinco da tarde, os sinos começaram os seus badalos. Tratava-se de
mais uma incursão aérea. Até aquele dia fatídico - 26 de abril de 1937
- Guernica só havia visto os aviões nazistas da Legião Condor passarem
sobre ela em direção a alvos mais importantes, situados mais além, em
Bilbao. Mas aquela 2ª feira foi diferente. A primeira leva de
Heinkels-11 despejou sua bombas sobre a cidadezinha precisamente às
16:45 horas. Durante as 2 horas e 45 minutos seguintes os moradores
viram o inferno desabar sobre eles. Estonteados e desesperados saíram
para aos arredores do lugarejo onde mortíferas rajadas de metralhadora
disparada pelos caças os mataram aos magotes. No fim da jornada
contaram-se 1.654 mortos e 889 feridos, numa população não superior a 7
mil habitantes. Quase 40% haviam sido mortos ou atingidos. A
repercussão negativa foi tão grande que os nacionalistas espanhóis
trataram logo de atribuí-la aos "vermelhos".

Hitler apóia Franco
Na realidade a tragédia começou oito meses antes, na noite de 25 de
julho de 1936, quando, entre um acorde e outro de uma ópera wagneriana,
Hitler decidiu-se a apoiar Franco. Na semana anterior o general
espanhol havia sublevado o exército contra o governo
republicano-esquerdista da Frente Popular. O Führer estava em Bayreuth
para prestigiar o tradicional festival musical quando recebeu uma carta
do caudilho. A solicitação era modesta. Tratava-se de saber se o
governo nazista contribuiria com uma dezena de aviões de transporte e
algumas armas. Hitler não hesitou. A vitória comunista na Espanha
provocaria, por estímulo, a "bolchevização" da França, e seu regime
ver-se-ia sitiado por ela e pela URSS de Stalin.
A Legião Condor


Guernica e a gaza e a diferença dos mortos - para completar um post Guernica2
Avião alemão da Legião Condor

Em pouco mais de três meses depois chegava à
Sevilha, a Legião Condor. Comandada pelo General Sperrle, ela
compunha-se de 4 esquadrões de bombardeios e outros 4 de combate, além
de unidades antiaéreas, antitanques e de panzers, num total de 6.500
homens. O acordo com os nacionalistas espanhóis concebia uma grande
autonomia das forças nazistas que subordinavam-se apenas ao Jefe del
Alzamiento, isto é ao próprio Franco. Madri, ainda em mãos dos
republicanos esquerdistas, estava, desde o princípio do levante de 18
de julho, submetida a bombardeios aéreos irregulares. Os estrategistas
da Luftwaffe de Goering, recém chegados à área do conflito, estavam
excitados em aplicar, de forma maciça, uma tática da terra arrasada.
Qual seria o efeito dos bombardeios concentrado? Levas de esquadrilhas
conduziriam tipos de bombas diferentes - das de fragmentação às
incendiarias -, que seriam lançadas em formações compactas,
ininterruptamente, sobre um alvo qualquer a ser designado.
A escolha de Guernica


Guernica e a gaza e a diferença dos mortos - para completar um post Guernica3
Sobrevivente dos bombardeios (foto de Robert Capa)

A escolha da pequena Guernica deveu-se a vários
motivos. A cidade era um alvo fácil, sem proteção antiaérea, além de
não ter uma população numerosa. Além disso abrigava um velho carvalho
(Guernikako arbola) embaixo do qual os monarcas espanhóis ou seus
legados, desde os tempos medievais, juravam respeitar as leis e
costumes dos bascos, bem como as decisões da batzarraks (o conselho
basco). Como o levante de Franco foi também contra a autonomia
regional, a destruição de Guernica serviria como uma lição a todos os
que imaginavam uma Espanha federalista ou descentralizada. Assim,
quando a notícia da dizimação provocada pelo bombardeamento
"científico" chegou aos jornais provocou um frêmito de horror em todos
os cantos do mundo. Quase todos os habitantes de cidades, em qualquer
lugar do planeta, sentiram instintivamente que estavam sendo
apresentados a um outro tipo de guerra, à guerra total, e que,
doravante, por vezes, seria mais seguro estar-se numa trincheira no
fronte, do que vivendo numa grande capital.

A Guernica de Picasso
Estéticamente quem melhor captou esse sentimento foi Pablo Picasso.
Vivendo em Paris desde o início do século, já era uma celebridade
quando o Governo da Frente Popular o procurou para que fizesse algumas
telas para arrecadar fundos para a República. A violência e a
indignação que causou o bombardeio fez com que ele se concentrasse por
5 meses numa grande tela, quase um mural (350,5 x 782,3). Sua primeira
aparição deu-se numa Exposição Internacional sobre a Vida Moderna em
Paris, no dia 4 de junho de 1937. O público virou-lhe as costas.


Não era algo belo de ser visto. Picasso, para retratar o clima
sombrio que envolvia o desastre, utilizou-se da cor negra, do cinza e
do branco. Como nunca a máxima de Giulio Argan segundo a qual a "arte
não é efusão lírica, é problema" tenha sido tão explicitada, como na
composição de Picasso. O painel encontra-se dominado no alto pela luz
de um olho-lâmpada - símbolo da mortífera tecnologia - seguida de duas
figuras de animais. No centro um cavalo apavorado, em disparada,
representa as forças irracionais da destruição. A direita dele,
impassível, um perfil picassiano de um touro imóvel. Talvez seja
símbolo da Espanha em guerra civil, impotente perante a destruição que
a envolvia. Logo a baixo do touro, encontramos uma mãe com o filho
morto no colo. Ela clama aos céus por uma intervenção. Trata-se da
moderna pietá de Picasso. Uma figura masculina, geometricamente
esquartejada, domina as partes inferiores. A direita, uma mulher, com
seios expostos e grávida, voltada para a luz, implora pela vida,
enquanto outra, incinerada, ergue inutilmente os braços para o vazio,
enquanto uma casa arde em chamas. Naquele caos a tecnologia aparece
esmagando a vida.

Uma obra-prima do século XX
Foi uma das grandes premonições histórico-estéticas do século. Dois
anos depois teria o início o martírio das populações de Varsóvia, de
Londres, de Berlim, de Hamburgo, de Leningrado, de Dresden, de Hiroxima
e de Nagasaki, que padeceriam, devido aos bombardeamentos em massa, dos
mesmos tormentos das imagens dilaceradas do quadro de Picasso.
Exatamente por não ter nenhum signo específico de agressão, nenhuma
suástica ou distintivo franquista ou falangista, a composição
transcendeu os acontecimentos da infausta Guerra Civil espanhola,
tornando-se um manifesto estético dos horrores provocados por uma
tecnologia a serviço da desumanização. Picasso pintou a obra-prima do
século, onde se misturam as contradições da nossa época: progresso e
violência, catástrofe e prosperidade.

O separatismo basco
Por concentrarem significativos investimentos ingleses e também por
abrigarem um classe empresarial empreendora e profundamente católica
(um censo de 1970 apontavam o País Basco e Navarra, em toda a Espanha,
como os maiores índices de freqüência às missas: 71,3%), os países
bascos não conheceram à época do franquismo uma repressão tão violenta
como a que se abateu sobre a Catalunha e Valência. Logo depois a Guerra
Civil, casas bancárias de Bilbao e de Biscaia expandiram-se para o
restante da Espanha, enquanto empresas bascas dedicadas ao comercio de
azeite passaram quase a monopoliza-lo em todo o país. Porém essa
relativa tolerância (exceção feita ao idioma basco, o euskara,
perseguido sem descanso pelos franquistas) para com os antigos anseios
autonomistas dos bascos, não fez com que eles desistissem de manter um
governo basco no exílio, na vizinha França mais propriamente.


Em 1957, um significativo grupo de estudantes bascos,
militantes do PNV (Partido Nacional Vasco), que viajaram para lá, a
titulo de estudos, depois de entrevistarem-se com José Maria Leizaola,
chefe do governo Euzkadi (Basco) no exílio, com quem se desentenderam,
decidiram-se pela opção armada. Ao contrário de Leizaola, que não
simpatizava com a linha da ação violenta, os jovens bascos acreditavam
que com o apoio do proletariado, da nova geração que formava no
estertor do franquismo, e num clero cada vez mais combativo era
possível retomar as bandeiras do separatismo, dando-lhe uma conotação
pró-socialista.
Guernica e a gaza e a diferença dos mortos - para completar um post Guernica4
Um comunicado do ETA (foto de 1982)



Surgimento do ETA
Bartolomé Bennassar, ao analisar o caso basco ("Pais basco: génesis de
una tragedia, in Historia de los españoles. Vol II, Cap. 12, 1989),
identifica no desentendimento entre PNV e o ETA, um típico caso de
conflito de gerações, onde os mais jovens rebelam-se contra o imobismo
dos mais velhos, no caso, os integrantes do PVN (em sua grande maioria
ex-veteranos da Guerra Civil de 1936-1939). Como não poderia deixar de
acontecer, a nova geração estimulada pelos feitos revolucionários que
então corriam o mundo (a Revolução Cubana ocorrera em janeiro de 1959),
decidiu-se fundar, no dia 31 de julho de 1959, uma nova agremiação
identificada com a luta armada revolucionária: o ETA (Euzkadi Ta
Azkatasuna = Pátria basca e liberdade).

Para arrancar o movimento autonomista do imobilismo em que e
encontrava, decidiram-se por ações espetaculares contra o regime
franquista. Além de ampla panfletagem e distribuição de jornais
clandestinos, no dia 18 de julho de 1961 praticaram um atentado a bomba
contra um trem carregado de veteranos franquistas em San Sebastian,
dando início a fase mais violente da luta. Portanto, há quarenta anos
que os atentados fazem parte do cotidiano dos espanhóis. O mais
espetacular deles todos foi quando o ETA, ainda na época franquista,
explodiu uma poderosa bomba no carro do Primeiro Ministro Almirante
Carreiro Blanco, em Madri.



As divisões do separatismo basco
Vitor mango
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