Fafe

Fiéis ameaçam recorrer ao Vaticano para ficar com padre

por ELISABETE SILVA, com Lusa
Hoje


Paroquianos manifestaram-se em Braga, mas arcebispo recusou alterar decisão. Movimento Nós Somos Igreja considera que há falta de respeito pela vontade do povo de Deus.

"Há uma falta de consideração da hierarquia católica pelo povo de Deus." É desta forma que Ana Vicente, do movimento Nós Somos Igreja, vê o afastamento do padre José Peixoto Lopes da paróquia de Fafe. A decisão levou ontem três centenas de fiéis a invadir o Paço Episcopal de Braga, mas o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, garante que não volta atrás com a decisão. O povo ameaça recorrer ao Vaticano.

"Esta manifestação é a prova de que o povo de Deus quer participar na Igreja. Tem de haver mais diálogo entre as estruturas da Igreja e os fiéis", realçou ao DN Ana Vicente.

"Os fiéis não querem ser tratados como crianças. São adultos na sua fé", diz esta católica, que quer saber "por que razão as pessoas não são consultadas" nestas decisões, mas considera que a manifestação de ontem prova que "a religião continua a ser muito importante na vida das pessoas". "Porém, isto não significa que se verifique uma obediência cega", salientou.

Ontem D. Jorge Ortiga justificou a decisão de afastar o padre Peixoto Lopes de Fafe - onde está há 25 anos - com a "alegada necessidade de fazer rotatividade dos padres". Joana Sousa, uma das três paroquianas que o bispo recebeu e a porta-voz dos paroquianos de Fafe, explicou que entregou ao arcebispo um abaixo-assinado com 6701 assinaturas a pedir a permanência do padre Peixoto Lopes. "Mas o senhor arcebispo mandou logo arquivar", afirmou.

A comissão que quer a continuidade do padre em Fafe recusa desistir e admite mesmo apelar ao Papa. "A comissão ainda vai reunir, provavelmente no próximo fim- -de-semana, mas uma das hipóteses que equacionamos é recorrer ao Vaticano", assegurou Joana Sousa.

Ana Vicente não acredita que o Vaticano intervenha neste caso, considerando que seria desrespeitar a decisão de um arcebispo. "A rotatividade não obedece a regras de tempo. Se foi decidido que o padre terá de sair, então o sacerdote terá de respeitar a decisão superior", referiu.

Também D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, salientou que "o padre prometeu obediência", mas compreende que a população se manifeste contra a decisão de D. Jorge Ortiga.

"Eu compreendo até porque qualquer um de nós já passou por situações iguais", disse ao DN, acrescentando que as relações com a Igreja devem ter como base o diálogo.

Contactado pelo DN, D. Jorge Ortiga recusou fazer quaisquer comentários sobre os protestos dos fiéis ou explicar as razões que o levaram a afastar agora o sacerdote.

O padre Peixoto Lopes vai abandonar uma paróquia que tem um património avaliado em 25 milhões de euros. Esta inclui duas igrejas, uma capela, uma residência paroquial e mais dois alojamentos para padres, capelas mortuárias e uma tipografia.

Os manifestantes ontem não pouparam elogios ao trabalho deste padre. "Fez obras importantíssimas para a terra", realçou à lusa Emília Pereira, uma das paroquianas. José Leite lembrou que o padre chegou a vender um apartamento pessoal para co-financiar obras da Igreja Católica: "É um grande homem."

In DN