O princípio de Deus
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O princípio de Deus
O princípio de Deus
13 September 08 08:00 AM
Tínhamos saído da costa mediterrânica há algumas horas e seguíamos pela ‘estrada dos sudaneses’ em direcção a Ajila, no grande deserto líbio. A nossa intenção era filmar uma pequenina mesquita de terra, do século VII, uma relíquia no meio do nada. Mas não é dela que vos quero falar, nem do motivo que levou ao nome da estrada, embora este pareça óbvio.
Recordarei para sempre esta viagem porque, mal a noite caiu, se desencadeou no firmamento um baile de luz e som como nunca mais verei. Não era da insolação, que o Sol já se retirara há uma hora. Não era do calor, que este se escondera com o astro. Já não era da paisagem, imensa e imensamente repetitiva, das areias que nos acompanhavam desde Sirt. Não. Foi, simplesmente, inusitado. Durante quarenta minutos, os raios de uma trovoada contínua dançaram nos céus, como bailarinos no maior dos palcos.
Não eram como os de cá, na vertical ou na diagonal. Eram de todas as posições e desenhos imagináveis e surgiam de qualquer lugar, sem ordem aparente. Esta coreografia cósmica foi acompanhada por um concerto de trovões. Depois, tudo acabou sem consequência. As comportas do céu não se abriram. Não caiu uma só gota de água.
Conto-vos isto porque me pus no lugar de um berbere que por ali passasse há dois ou três mil anos. Que pensaria daquele espectáculo? Racionalmente, que os raios eram deuses ou que a jam session era, em si mesma, uma manifestação de deus. Não podia pensar de outra maneira. Não possuía conhecimentos para outras conclusões. Que me perdoem os ateus militantes, mas a religião começou pela procura da razão num mundo de inexplicáveis.
Vem esta conversa a propósito do arranque do hiper-acelerador de partículas europeu, o LHC. O nosso berbere não podia saber que a Lua que via, não era a que estava a ver, mas a que lá estivera 1,25 segundos antes. Ou que o Sol da manhã nascera oito minutos antes dele lhe pôr a vista em cima. Pela mesma razão, os actuais telescópios gigantes não vêem apenas mais longe, mas mais para trás. Fazem rewind.
Como nós, quando olhamos o infinito, visitamos, o passado porque as projecções que vemos nos chegam à velocidade da luz. O LHC simula a aventura do recuo nos limites de uma máquina superpotente. O seu objectivo é ‘regressar’ até aos 13 mil e 700 milhões de anos, ao bilionésimo de segundo que sucedeu ao big bang, e encontrar o princípio de tudo, o bosão de Higgs, também apelidado de ‘partícula de Deus’.
Os cientistas não sabem se o conseguirá. «Sabemos que vai permitir notícias excitantes, só não sabemos quais», diz um deles. «Se nos der uma cosmologia consistente, deixar--se-á menos à religião para explicar», resume Weinberg, Nobel da Física. É verdade. Mas a racionalidade que move os cientistas não é distinta da do berbere que precisou de Deus para perceber. Ambas ilustram que, por vezes, a Humanidade é capaz de dar o seu melhor
13 September 08 08:00 AM
Tínhamos saído da costa mediterrânica há algumas horas e seguíamos pela ‘estrada dos sudaneses’ em direcção a Ajila, no grande deserto líbio. A nossa intenção era filmar uma pequenina mesquita de terra, do século VII, uma relíquia no meio do nada. Mas não é dela que vos quero falar, nem do motivo que levou ao nome da estrada, embora este pareça óbvio.
Recordarei para sempre esta viagem porque, mal a noite caiu, se desencadeou no firmamento um baile de luz e som como nunca mais verei. Não era da insolação, que o Sol já se retirara há uma hora. Não era do calor, que este se escondera com o astro. Já não era da paisagem, imensa e imensamente repetitiva, das areias que nos acompanhavam desde Sirt. Não. Foi, simplesmente, inusitado. Durante quarenta minutos, os raios de uma trovoada contínua dançaram nos céus, como bailarinos no maior dos palcos.
Não eram como os de cá, na vertical ou na diagonal. Eram de todas as posições e desenhos imagináveis e surgiam de qualquer lugar, sem ordem aparente. Esta coreografia cósmica foi acompanhada por um concerto de trovões. Depois, tudo acabou sem consequência. As comportas do céu não se abriram. Não caiu uma só gota de água.
Conto-vos isto porque me pus no lugar de um berbere que por ali passasse há dois ou três mil anos. Que pensaria daquele espectáculo? Racionalmente, que os raios eram deuses ou que a jam session era, em si mesma, uma manifestação de deus. Não podia pensar de outra maneira. Não possuía conhecimentos para outras conclusões. Que me perdoem os ateus militantes, mas a religião começou pela procura da razão num mundo de inexplicáveis.
Vem esta conversa a propósito do arranque do hiper-acelerador de partículas europeu, o LHC. O nosso berbere não podia saber que a Lua que via, não era a que estava a ver, mas a que lá estivera 1,25 segundos antes. Ou que o Sol da manhã nascera oito minutos antes dele lhe pôr a vista em cima. Pela mesma razão, os actuais telescópios gigantes não vêem apenas mais longe, mas mais para trás. Fazem rewind.
Como nós, quando olhamos o infinito, visitamos, o passado porque as projecções que vemos nos chegam à velocidade da luz. O LHC simula a aventura do recuo nos limites de uma máquina superpotente. O seu objectivo é ‘regressar’ até aos 13 mil e 700 milhões de anos, ao bilionésimo de segundo que sucedeu ao big bang, e encontrar o princípio de tudo, o bosão de Higgs, também apelidado de ‘partícula de Deus’.
Os cientistas não sabem se o conseguirá. «Sabemos que vai permitir notícias excitantes, só não sabemos quais», diz um deles. «Se nos der uma cosmologia consistente, deixar--se-á menos à religião para explicar», resume Weinberg, Nobel da Física. É verdade. Mas a racionalidade que move os cientistas não é distinta da do berbere que precisou de Deus para perceber. Ambas ilustram que, por vezes, a Humanidade é capaz de dar o seu melhor
Vitor mango- Pontos : 117576
pêpê- Pontos : 0
Re: O princípio de Deus
O PRINCÍPIO DE DEUS, parece-me um título ambíguo.
Para aqueles que acreditam em Deus, isto é, para quem tem fé, o principio físico de Deus não existe porque Deus não tem princípio nem fim.
Para aqueles que não acreditam em Deus, o principio de Deus seria qualquer coisa como um princípo filosófico que daria origem a tudo, incluindo a expansão do Universo que agora se pretende de alguma forma recriar.
Existe no entanto um problema insolúvel. Supondo que o Universo teve origem num BIG BANG e que ainda se encontra em expansão, poderemos pensar que, a exemplo do que acontece com uma explosão de uma granada, a expansão vai acabar por parar e os elementos a que deu origem voltarão a ser aglutinados, absorvidos, por uma força centrípeta semelhante à força que deu origem ao BIG BANG. Teríamos assim, uma repetição das condições iniciais do Universo e, atendendo ao que aconteceu na primeira vez, voltaríamos a ter uma nova explosão e assim sucessivamente até à eternidade.
Teríamos, assim, vários universos sem nunca chegarmos a saber qual a sua origem.
Este pensamento, embora partindo de premissas diferentes, levar-nos-ia a um mesmo ponto.
O princípio de tudo.
Para aqueles que acreditam em Deus, isto é, para quem tem fé, o principio físico de Deus não existe porque Deus não tem princípio nem fim.
Para aqueles que não acreditam em Deus, o principio de Deus seria qualquer coisa como um princípo filosófico que daria origem a tudo, incluindo a expansão do Universo que agora se pretende de alguma forma recriar.
Existe no entanto um problema insolúvel. Supondo que o Universo teve origem num BIG BANG e que ainda se encontra em expansão, poderemos pensar que, a exemplo do que acontece com uma explosão de uma granada, a expansão vai acabar por parar e os elementos a que deu origem voltarão a ser aglutinados, absorvidos, por uma força centrípeta semelhante à força que deu origem ao BIG BANG. Teríamos assim, uma repetição das condições iniciais do Universo e, atendendo ao que aconteceu na primeira vez, voltaríamos a ter uma nova explosão e assim sucessivamente até à eternidade.
Teríamos, assim, vários universos sem nunca chegarmos a saber qual a sua origem.
Este pensamento, embora partindo de premissas diferentes, levar-nos-ia a um mesmo ponto.
O princípio de tudo.
Vagueante- Pontos : 1698
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