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Mensagem por Vitor mango Sex Dez 03, 2010 12:52 am

visto de fora
O prisioneiro espanhol
por Paul Krugman, Publicado em 03 de Dezembro de 2010 | Actualizado há 8 horas
Espanha não pode desvalorizar o euro para se tornar competitiva. Nos Estados Unidos, os republicanos querem aprisionar voluntariamente o país numa ratoeira semelhante


EUA e Espanha: o mesmo mal com saídas diferentes
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O melhor que se pode dizer da Irlanda neste momento é que felizmente há poucas. Por si só, não pode prejudicar assim tanto as perspectivas da Europa. O mesmo se pode dizer da Grécia ou de Portugal, em geral considerado a próxima peça do dominó. O problema é Espanha. Os outros são tapas; Espanha é a pièce de résistance.

O mais extraordinário, do ponto de vista dos Estados Unidos, é a semelhança da história de Espanha com a nossa. Tal como nos Estados Unidos, ali houve uma bolsa imobiliária de grande escala, acompanhada por uma subida em flecha da dívida do sector privado. Tal como os Estados Unidos, Espanha entrou em recessão com o esvaziamento dessa bolha, e com isso houve um aumento de grande escala do desemprego. Além disso, tal como os Estados Unidos, Espanha viu a sua dívida pública aumentar devido à queda do rendimento e aos custos habitualmente associados à recessão.

No entanto, ao contrário dos Estados Unidos, Espanha está à beira de uma crise de endividamento. O nosso governo não está a ter dificuldade em financiar o défice, com taxas de juro a longo prazo para a dívida federal abaixo dos 3%. Já o custo da dívida de Espanha nas últimas semanas subiu muito, reflectindo os receios de incumprimento.

Porque é que Espanha está em tão maus lençóis? Numa palavra, por causa do euro. Espanha esteve entre os países que adoptaram o euro com mais entusiasmo, em 1999, quando a moeda foi criada. Durante algum tempo as coisas pareceram correr bem: os fundos europeus entravam em Espanha, estimulavam o consumo privado, e a economia teve um crescimento rápido.

A propósito: durante os anos bons o governo espanhol foi um modelo de responsabilidade fiscal e financeira: ao contrário do que aconteceu com o grego, apresentou superavits e, ao contrário do que aconteceu com o irlandês, tentou seriamente (embora com êxito apenas parcial) regular os seus bancos.

No final de 2007, a dívida pública espanhola não ultrapassava metade da da Alemanha, e mesmo agora os seus bancos não estão em situação nem de longe semelhante aos da Irlanda.

No entanto, sem que ninguém se apercebesse, os problemas cresciam. Durante o boom, tanto os preços como os salários aumentaram mais depressa que no resto da Europa, o que ajudou a alimentar um enorme défice comercial. Depois, quando a bolha rebentou, Espanha ficou com custos que tornaram o país menos competitivo. E agora? Se ainda tivesse a velha moeda, como os Estados Unidos - ou como o Reino Unido, que tem várias características em comum com Espanha -, podia voltar a tornar a sua indústria competitiva. No entanto, estando presa ao euro, essa possibilidade não está em aberto. Pelo contrário, tem de conseguir uma desvalorização interna: cortar salários e preços até os seus custos ficarem alinhados pelos dos seus vizinhos.

Ora a desvalorização interna não é fácil. Para começar é lenta: em geral são precisos anos a fio de desemprego para baixar salários. Além disso, a descida dos salários representa uma descida dos rendimentos, enquanto a dívida se mantém. Isto significa que a desvalorização interna agrava o endividamento do sector privado.

O que isto representa para Espanha são más perspectivas económicas para os próximos anos. A recuperação da América tem sido decepcionante, especialmente em termos de emprego - mas pelo menos tem havido algum crescimento, com o PIB a regressar aproximadamente a valores semelhantes aos anteriores à crise, e é razoável prever que o défice voltará a ficar controlado. Espanha, por outro lado, não recuperou nada, e a falta de recuperação faz recear pelo futuro fiscal do país.

E se tentasse sair da ratoeira abandonando o euro e regressando à peseta? Estará a preparar-se para o fazer? A resposta a ambas as perguntas é que provavelmente não. Espanha estaria melhor se nunca tivesse adoptado o euro, mas tentar sair criaria uma enorme crise bancária, porque os depositantes correriam aos depósitos noutras moedas. A não ser que de qualquer maneira essa crise aconteça, o que parece plausível na Grécia e cada vez mais na Irlanda, mas menos provável ou até impossível em Espanha, é difícil imaginar um governo espanhol disposto a correr o risco que representaria sair da moeda única. O país está de facto prisioneiro do euro, sem grandes alternativas.

Nos Estados Unidos temos a sorte de não ter sido apanhados numa ratoeira semelhante. Continuamos com a velha moeda, com a flexibilidade que isso permite. A propósito, isto também acontece com o Reino Unido, com défices e dívida pública comparáveis com os de Espanha, mas sem que os investidores pressintam a possibilidade de incumprimento.

O nosso problema está em que há uma facção política poderosa a tentar manietar a Reserva Federal, na realidade, a tentar anular a única vantagem que temos sobre os pobres espanhóis. Os ataques dos republicanos à Fed - com as suas exigências de que pare de promover a recuperação económica e em vez disso se concentre em fortalecer o dólar e em combater perigos imaginários de inflação - equivalem a uma exigência de que nos encerremos voluntariamente na prisão espanhola. Esperemos que a Fed não lhes dê ouvidos. As coisas nos Estados Unidos estão mal, mas podiam estar muito pior. Se a facção dura conseguir o que quer, é o que acabará por acontecer.


Economista Nobel 2008

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Mensagem por Vitor mango Sex Dez 03, 2010 12:56 am


Nos Estados Unidos temos a sorte de não ter sido apanhados numa ratoeira semelhante. Continuamos com a velha moeda, com a flexibilidade que isso permite. A propósito, isto também acontece com o Reino Unido, com défices e dívida pública comparáveis com os de Espanha, mas sem que os investidores pressintam a possibilidade de incumprimento.
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