A minha prima Hermenegilda não usa cuecas
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A minha prima Hermenegilda não usa cuecas
A minha prima Hermenegilda não usa cuecas
A minha prima Hermenegilda, mulher ainda vistosa, apesar de não saber a idade, não usa cuecas. Há muitos anos. Diz ela que lhe provoca uma terrível dor na coluna a partir da terceira vértebra. Esta particularidade no dress code da minha prima Hermenegilda, coisa insignificante, está no segredo dos mais íntimos, apesar daquele jantar na Embaixada, em Setembro do ano passado. Foi a contra-gosto. Ela é uma mulher de esquerda à antiga, daquelas que vê o capitalismo a desmoronar-se todos os dias e a revolução a despontar no fio horizonte. Foge a sete pés dessas feiras de vaidades, mas não quis fazer a desfeita ao seu último namorado, um cabotino socialista (ela sempre disse que a ideologia e a política ficam à porta do quarto), assessor de um qualquer ministério. O jantar, onde desfilou meia centena de pessoas, foi uma estopada, como ela previa, mas no fim deu-lhe para ficar à conversa com o senhor embaixador. Frente a frente, na varanda, cada um no seu sofá. Ela, que nunca leu John le Carré e despreza histórias de espionagem, entre cigarros e copos de tinto, falou pelos cotovelos, como sempre, enquanto cruzava e descruzavas as pernas esguias. Consta, que depois das despedidas, o senhor embaixador dirigiu-se à sua secretária, sentou-se, retirou a caneta de tinta permanente do bolso interior do casaco, e anotou num bloco: «Hermenegilda. Perigosa esquerdista. Segundo ela, nas próximas eleições a extrema-esquerda vai ter uma vitória eleitoral estrondosa. Usa cuecas pretas.». Não sei se o senhor embaixador transmitiu estas notas aos seus superiores, como é seu dever, mas se o fez, enganou-se: a minha prima Hermenegilda, como sabem, não usa cuecas.
Por Tomás Vasques
A minha prima Hermenegilda, mulher ainda vistosa, apesar de não saber a idade, não usa cuecas. Há muitos anos. Diz ela que lhe provoca uma terrível dor na coluna a partir da terceira vértebra. Esta particularidade no dress code da minha prima Hermenegilda, coisa insignificante, está no segredo dos mais íntimos, apesar daquele jantar na Embaixada, em Setembro do ano passado. Foi a contra-gosto. Ela é uma mulher de esquerda à antiga, daquelas que vê o capitalismo a desmoronar-se todos os dias e a revolução a despontar no fio horizonte. Foge a sete pés dessas feiras de vaidades, mas não quis fazer a desfeita ao seu último namorado, um cabotino socialista (ela sempre disse que a ideologia e a política ficam à porta do quarto), assessor de um qualquer ministério. O jantar, onde desfilou meia centena de pessoas, foi uma estopada, como ela previa, mas no fim deu-lhe para ficar à conversa com o senhor embaixador. Frente a frente, na varanda, cada um no seu sofá. Ela, que nunca leu John le Carré e despreza histórias de espionagem, entre cigarros e copos de tinto, falou pelos cotovelos, como sempre, enquanto cruzava e descruzavas as pernas esguias. Consta, que depois das despedidas, o senhor embaixador dirigiu-se à sua secretária, sentou-se, retirou a caneta de tinta permanente do bolso interior do casaco, e anotou num bloco: «Hermenegilda. Perigosa esquerdista. Segundo ela, nas próximas eleições a extrema-esquerda vai ter uma vitória eleitoral estrondosa. Usa cuecas pretas.». Não sei se o senhor embaixador transmitiu estas notas aos seus superiores, como é seu dever, mas se o fez, enganou-se: a minha prima Hermenegilda, como sabem, não usa cuecas.
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