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A Indústria do Holocausto

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Mensagem por Vitor mango Qui Nov 03, 2011 10:17 am


A Indústria do Holocausto





A Indústria do Holocausto

Um Ato de Liberdade,
sobre três irmãos judeus que pegaram em armas contra os nazistas nas
florestas da Rússia, é um exemplo de como o holocausto virou um gênero
fácil, que serve a todo propósito – inclusive o unicamente mercantil

por Isabela Boscov

A Indústria do Holocausto Veja_defiance1Tuvia, Zus e Asael, os três irmãos Bielski,
escaparam por pouco do massacre de sua aldeia na Bielo-Rússia pelas
forças nazistas. Refugiaram-se então nas florestas próximas e, sem
planejá-lo, começaram a acolher sobrevivente após sobrevivente. Em pouco
tempo, haviam virado uma estranha milícia, integrada por um bom número
de idosos, mulheres e crianças. Mas resistiram a três invernos ao
relento nas altas latitudes, onde em outubro já se afunda na neve, e ao
fim da II Guerra devolveram cerca de 1.200 pessoas à segurança.
A experiência dos irmãos Bielski é mais uma entre as miríades de
trajetórias dos judeus europeus diante da máquina alemã de extermínio.
Cada uma delas é única e surpreendente, e, juntas, compõem um repertório
inesgotável – que filmes como Um Ato de Liberdade (Defiance,
Estados Unidos, 2008) tratam de pasteurizar. A história dos Bielski,
tirada do livro homônimo de Nechama Tec (superior à sua adaptação, e
disponível aqui pela Record), é uma combinação morosa de drama e ação,
pontuada por lugares-comuns e sobrepesada pelo espectro de tantas outras
narrativas sobre o extermínio. Narrativas que cada vez mais vêm se
tornando triviais ou equivocadas: Um Ato de Liberdade é só um
sintoma, e nem de longe o pior deles, de que o holocausto foi apropriado
pelo cinema e pela literatura como um gênero fácil que serve a todo
propósito, do entretenimento e do melodrama às argumentações políticas
claudicantes.

O diretor de Um Ato de Liberdade, Edward Zwick, disse ao jornal The New York Times
que, inicialmente, rejeitara a ideia de fazer "mais um filme sobre
vítimas". Em adolescente, explicou, ele aprendera a equacionar as
imagens de pilhas de cadáveres ou de esqueletos vivos agarrando-se às
cercas dos campos de concentração com uma passividade que lhe provocava
tanto fascínio mórbido quanto vergonha – vergonha do que ele supunha ser
a submissão que levara à morte 6 milhões de judeus, entre os quais
alguns de sua família. Na história dos Bielski, entretanto, havia "não
vítimas vestindo estrelas amarelas, mas guerreiros brandindo
submetralhadoras; e havia ira e resistência no lugar de submissão".
Zwick, é evidente, não pretendeu ofender a memória de ninguém, mas
exaltá-la. Porém, da mesma forma que A Vida É Bela, do italiano
Roberto Benigni, faz um elogio com jeito de insulto: se assim como os
Bielski (interpretados com heroísmo genérico por Daniel Craig, Liev Schreiber e Jamie Bell)
outros judeus tivessem se levantado, seu filme implica, talvez nem
tantos teriam perecido sob Adolf Hitler. E, intencionalmente ou não, Um Ato de Liberdade
se abre também para uma leitura contemporânea, que transporta sua
mensagem – os judeus têm de pegar em armas, ou então ser vitimizados –
diretamente para o contexto do atual conflito entre israelenses e
palestinos. Um contexto, aliás, muito mais complicado do que as
limitadas capacidades de discussão do filme poderiam abarcar.

Em um levantamento informal, a crítica Ella Taylor, do Village Voice, computou 170 novos filmes sobre o holocausto desde o lançamento de A Lista de Schindler, no fim de 1993. Eles incluem obras extraordinárias, como O Pianista, de Roman Polanski, e o nunca lançado aqui Fateless – e também desastres como O Menino do Pijama Listrado,
talvez o ponto mais baixo a que se chegou no tratamento do tema. No
mercado editorial, a voracidade por histórias referentes ao holocausto é
tamanha que já ensejou várias fraudes, perpetradas por espertalhões que
veem chance de lucro no sofrimento. No caso mais brando, o escritor
Herman Rosenblat teve de admitir que o romance iniciado com sua mulher
no horror do campo de Buchenwald e descrito em Angel at the Fence
não passa de uma invenção destinada a acrescentar pungência ao relato.
No caso mais extremo, a belga Misha Defonseca, autora de Sobrevivendo com Lobos, foi desmascarada como uma completa farsa: não só não viveu com uma matilha em sua fuga dos nazistas, como nem sequer é judia.

O
saldo mais óbvio dessa exploração sistemática do holocausto para
qualquer fim, inclusive o unicamente mercantil, é o que parecia ser
impossível: a quase exaustão do tema. Histórias antes ignoradas vêm à
tona e já soam velhas. Em Os Falsários, com estreia prevista
para breve no país, o protagonista (também verídico), um talentoso
falsário judeu, enfrenta um dilema terrível: se ajudar os nazistas a
forjar dólares e libras – o que equivale a financiar a vitória de Hitler
–, pode comprar mais tempo de vida para si. Ou pode arriscar a pele e
tentar retardar a operação. Dirigido por um austríaco descendente de
simpatizantes do nazismo, Os Falsários tem o peso do exame de consciência e lança um olhar sóbrio sobre a mais decidida forma de resistência – a sobrevivência.
Mas sua angústia profunda mal ressoa em um mercado tão saturado, em que
tem de disputar espaço com invenções ridículas como Um Homem Bom, em que Viggo Mortensen é um capitão da SS, a força de elite nazista, que não sabia mesmo que os judeus estavam sendo perseguidos.


A Indústria do Holocausto Veja_os_falsarios1
A produção austríaco-alemã Os Falsários: um filme sóbrio que, em um mercado tão saturado, não ressoa como poderia.

Essa
extração desordenada do filão do holocausto, porém, não tem apenas
turvado uma memória que, por necessidade civilizatória, deveria sempre
permanecer cristalina. Como Um Ato de Liberdade ilustra, na
base do contraexemplo, a recriação do sofrimento dos judeus na II Guerra
é crucial como argumento moral – é, na verdade, o mais completo e
paradigmático argumento moral já produzido pela história. Mas, quando
tingida com coloração política, ela só acrescenta à turbulência de um
mundo já tão complicado quanto o do Oriente Médio. O valor de lembrar o
holocausto está, justamente, em mantê-lo na sua dimensão absoluta e
imutável e tirar dele a única lição que pode oferecer: que ele nada tem a
ensinar e não constrói nem edifica, mas é apenas a substanciação do
mal.

Fonte: Revista Veja, 13 de maio de 2009.

Veja também:
>>Sob a névoa da guerra
>>Um astro em busca da reinvenção
>>Livro: O Zoológico de Varsóvia
>>Entrevista: Henrietta Braun
>>Vaticano diz que Pio XII protegeu judeus durante a guerra



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Postado por
Júlio








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1 comentários:






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Cassiano Dias
disse...

Eu vi o filme. E ele é muito bom, a crítica foi muito rigorosa. Sim,os
personagens principais falam inglês (alguns com sotaque para soarem
"estrangeiros"!), tem tb um ou dois personagens típicos e bem clichês da
cultura judaica (o "professor de religião" e o "intelectual"), mas como
participam pouco do filme, trapalham pouco. As cenas de lutas,
batalhas, são impecáveis, e a história é real e sensacional. Vale muito a
pena ver, ignorem as críticas. abs C





13 de maio de 2009 11:30

_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
A Indústria do Holocausto Batmoon_e0
Vitor mango
Vitor mango

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