Vagueando na Notícia


Participe do fórum, é rápido e fácil

Vagueando na Notícia
Vagueando na Notícia
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Morangos para o pequeno-almoço

Ir para baixo

Morangos para o pequeno-almoço Empty Morangos para o pequeno-almoço

Mensagem por Vitor mango Qui Ago 22, 2013 12:25 am

Morangos para o pequeno-almoço
 
Nos anos que antecederam a libertação dos escravos nos Estados Unidos da América, existiam várias rotas de fuga para os escravos que tentavam chegar ao Canadá, onde estariam a salvo. Muitas famílias ajudavam os escravos a esconder-se, alimentando-os e enviando-os para a próxima família da cadeia de solidariedade. Uma lei proibia a ajuda aos escravos e quem o fizesse arriscava-se a ser preso e obrigado a pagar multas avultadas. Mesmo assim, muitos eram os que continuavam a ajudar, e muitos milhares de pessoas conseguiram, desta forma, alcançar a liberdade. Esta é uma de muitas histórias sobre o Underground Railroad que consistia num grupo de pessoas que ajudava os escravos a conseguir a liberdade antes da Guerra Civil Americana. Desta organização faziam part e os Quakers, um grupo religioso originário do cristianismo, com uma forte implantação nos Estados Unidos da América.
 
♥♥♥♥
 
Por volta das cinco e meia de uma manhã de verão no sul do Ohio, a luz já forte do sol acordara Lucinda Wilson, uma rapariga de treze anos. Sentou-se imediatamente e, de seguida, ao sair da cama, lembrou-se: “Os morangos na colina já devem estar prontos para serem colhidos”. Lucinda tinha vindo a observar com ansiedade a colina coberta de morangos silvestres. Era com grande alegria que planeava agora surpreender a família com um cesto cheio de morangos maduros e deliciosos para comerem ao pequeno-almoço.
Vestiu-se rápida mas silenciosamente para não acordar a irmã. Lucinda tinha dormido nessa noite na cama grande, uma vez que a irmã Mary, de dezassete anos, estava a passar alguns dias com uma amiga numa quinta vizinha, e Ruth, de quinze anos, dormia numa pequena alcova no enorme quarto do andar de cima. A casa da família Wilson ficava a alguma distância da estrada principal, e havia um caminho longo e estreito desde o portão até à porta de entrada. Como este caminho parecia demasiado longo, Lucinda decidiu seguir por um atalho em direção à colina dos morangos, que se estendia ao longo da estrada principal. Este atalho, que começava junto à capoeira, era praticamente invisível devido ao crescimento emaranhado dos arbustos.
Lucinda correu até à rua e começou a subir a colina. Ali estavam os morangos, vermelhos e deliciosos. Começou a colhê-los rapidamente, mas o fundo do cesto não estava ainda coberto quando ouviu uma voz a chamá-la da estrada principal.
Sobressaltada, olhou para baixo e viu dois homens a cavalo. Não os conhecia e a sua primeira reação foi de alerta, pois a sua casa pertencia ao Underground Railroad. Estava certa de que estes homens eram caçadores de escravos. No momento seguinte, Lucinda viu que tinha razão. O homem que a chamara, de tez morena e mal-humorado, voltou a dirigir-lhe a palavra:
— Viste duas raparigas negras a passar por aqui? Duas raparigas de dezassete ou dezoito anos? Temos a certeza de que elas levam apenas alguns minutos de avanço.
Lucinda acenou com a cabeça. Respondeu-lhes honestamente que tinha chegado nesse instante e que não tinha visto ninguém para além deles. Os cavaleiros seguiram caminho. Mas Lucinda não pensou mais nos morangos. Tinha a certeza de que as duas raparigas iriam para sua casa e de que aqueles homens as apanhariam mesmo à sua porta, a não ser que conseguisse avisá-las antes. Discretamente, olhou para os caçadores de escravos para se certificar de que nenhum deles estava a olhar para trás. Então, precipitou-se para a estrada e desatou a correr para casa.
Em poucos instantes, estava no terreiro da quinta e entrou em casa de rompante. Mal abriu a porta das traseiras, ouviu a voz da mãe na parte da frente da casa. As raparigas já lá estavam, e os homens chegariam dentro de breves instantes. Sem fôlego, foi ter com a mãe e as raparigas ao vestíbulo. A porta ainda estava aberta.
— Fechem a porta! Fechem a porta rapidamente! Eles vêm aí! — disse, ofegante.
No momento em que proferia estas palavras, viu um cavalo a aparecer. A mãe fechou a porta, trancou-a e olhou desesperadamente em volta, à procura de um esconderijo para as duas raparigas. Estas choravam apavoradas, pois tinham a certeza de que seriam arrastadas de volta e de que nunca mais seriam livres.
— Rápido! Vão lá para cima! — disse Emily Wilson.
Correram pelas escadas acima e entraram no quarto onde Ruth já estava a vestir-se. Esta, espantada, olhou para as quatro pessoas que tinham entrado de rompante.
— Lucinda, veste a camisa de noite, põe a touca e mete-te na cama outra vez — disse a mãe.
A mãe pegou nas roupas de Mary que estavam debaixo da almofada, e atirou-as a uma das fugitivas.
— Veste isto e deita-te na cama com a minha filha. Fica do lado da parede, de costas para a porta. Cobre bem a cara com a touca.
As raparigas obedeceram imediatamente, e Emily Wilson levantou a tampa de uma arca grande feita de verga, que estava encostada à parede. Felizmente, estava quase vazia.
— Mete-te aí dentro — disse ela à outra rapariga, que obedeceu de imediato e se encolheu de modo a que a arca pudesse ser fechada.
Fez-se ouvir uma forte pancada na porta da frente.
— Ruth, veste o roupão, senta-te em cima da arca e tapa-a o mais possível. Os caçadores de escravos estão quase a chegar.
A mãe olhou de relance o quarto, para se certificar de que não havia indícios da presença das raparigas negras, e apressou-se a descer as escadas para abrir a porta.
— Bom dia, minha senhora! Nós andamos à procura das duas escravas que estão aqui — disse um dos homens.
— A sério!? Como sabe que temos duas escravas aqui escondidas? — retorquiu ela.
— Porque estávamos mesmo no seu encalço e temos a certeza de que não passaram daqui. Por isso, vai ter de nos deixar revistar a casa.
— Estejam à vontade! Mas garanto-vos que vai ser uma perda de tempo.
— Veremos! — respondeu o homem.
Começaram a revistar todas as divisões da casa. Emily Wilson deixou-os abrir as portas e procurar à vontade até chegarem ao quarto das raparigas. Aí, pôs-se à frente deles.
— As minhas três filhas dormem aqui e ainda é muito cedo. Peço-lhes que não entrem no quarto.
— Podem estar tanto aqui como em qualquer outro lugar — disse um dos homens. De seguida, abriu a porta e entrou.
Ali estavam as três raparigas, duas na cama, tapadas até às orelhas, a outra sentada sobre a arca, de roupão, como se tivesse sido apanhada de surpresa. No entanto, lá dentro, a fugitiva aterrorizada tremia de tal modo que Ruth tinha a impressão de que os homens deviam ver a arca a abanar. Sentou-se o mais pesado que conseguiu e cobriu a arca com o roupão. Um pouco embaraçados, os homens deram uma vista de olhos rápida pelo quarto, abriram o guarda-vestidos e, como não encontrassem nada, saíram novamente, balbuciando um pedido de desculpas.
— Bem — disse um deles quando saíram do último quarto — parece que aquelas raparigas, afinal, já passaram por aqui. É melhor apressarmo-nos e talvez ainda as possamos apanhar.
— Eu avisei-os de que seria uma perda de tempo — disse Emily Wilson calmamente.
De forma hospitaleira, ofereceu-lhes o pequeno-almoço, o que eles recusaram de imediato, pois estavam com pressa. Partiram a cavalo, e só então as raparigas sentiram-se livres para poderem sair dos seus esconderijos.
— Ainda bem que decidi ir apanhar morangos para o pequeno-almoço. Ainda há tempo de voltar lá e encher o meu cesto. Afinal, vamos mesmo ter morangos para o pequeno-almoço! — disse Lucinda.
As duas raparigas ficaram tranquilamente em casa durante todo o dia. De madrugada, uma carroça coberta levou-as para outra casa de Quakers. Daqui, sem grandes riscos, foram levadas no dia seguinte, pois soube-se que os dois caçadores de escravos tinham perdido o seu rasto e declararam que as duas escravas fugitivas haviam desaparecido.
 
Anna Curtis
 
M. Clark; E. Briggs; C. Passmore (eds.)
Lighting Candles in the Dark
Philadelphia, FGC, 2001
(Tradução e adaptação)
________________________________________________________

_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Morangos para o pequeno-almoço Batmoon_e0
Vitor mango
Vitor mango

Pontos : 117523

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos