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'REZO A NOSSA SENHORA DE FÁTIMA PARA QUE A FLO RIDA NÃO SE REPITA' FERREIRA FERNANDES

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Mensagem por Admin Sáb Nov 01, 2008 3:54 am

'REZO A NOSSA SENHORA DE FÁTIMA PARA QUE A FLO RIDA NÃO SE REPITA'

FERREIRA FERNANDES na Virgínia
Pedir à Virgem na Virgínia. No centro das atenções da campanha para a presidência americana está o estado da Virgínia. Habitualmente republicano, este ano ameaça virar democrata e tornou-se crucial na campanha. É uma luso- -americana que está à frente da máquina eleitoral na Virgínia. Nancy Rodrigues só não quer que se repitam os problemas de contagem e recontagem de votos que foram escândalo em 2000, na Florida, durante o duro combate entre Bush e Gore. E reza todas as noites junto da imagem de Nossa Senhora que trouxe de Portugal quando tinha apenas seis anos.

Portuguesa Nancy Rodrigues manda nas eleições na Virgínia

Por estes dias, os repórteres que procuram as mais quentes notícias políticas da Virgínia não se dirigem ao Capitólio de Richmond, o palácio com colunas desenhado por Thomas Jefferson, de onde os exércitos do Sul foram comandados na Guerra da Secessão e que é hoje a sede do Parlamento estadual. É um discreto edifício vizinho que chama as atenções: aí, no átrio, esperam, além do enviado do DN, jornalistas de Américas tão distantes como a Califórnia e o Texas, enquanto uma mulher de cabelos curtos e grisalhos, de casaco vermelho, é entrevistada pela cadeia televisiva CBS.

Ela chama-se Nancy Rodrigues e é a patroa do Virginia State Board of Elections, o organismo que controla as eleições no estado onde, talvez, as presidenciais americanas se decidam. Nancy, a filha de um camponês de Penacova que emigrou para os Estados Unidos, diz: "Rezo todos os dias à Nossa Senhora de Fátima para que, na próxima semana, o mundo não olhe para mim como, em 2000, para aquela minha colega da Florida."

Há oito anos, as apertadas presidenciais na Florida obrigaram a contagens e recontagens e só 20 dias depois a encarregada estadual das eleições, Katherine Harris, anunciou a vitória de George W. Bush sobre Al Gore pelos 537 votos que acabaram por decidir, em mais de cem milhões, quem foi o Presidente. "Quem quer que seja o próximo presidente, quero que se saiba logo no dia 4. E que ganhe por muito. Os americanos precisam de um presidente confiante em ter sido largamente escolhido", diz, em português, Nancy Rodrigues.

Há dois meses, pensar-se-ia que a Virgínia, na costa atlântica dos Estados Unidos, não teria nenhum papel especial nestas eleições. O estado estava destinado a votar nas presidenciais, como quase sempre votou, pelos republicanos. Tem de se recuar até 1964, com Lyndon Johnson, para se ver os virginianos a escolher um democrata para a Casa Branca.

Em 2004, a campanha do democrata John Kerry não comprou tempo de antena televisivo na Virgínia, considerando que o estado estava ganho por Bush - como, de facto, foi. Mas, este Outubro, este foi um dos cinco estados onde Barack Obama mais gastou em anúncios. Nas suas belas estradas, as folhas outonais dos áceres distraem, com a paleta que vai do amarelo ao vermelho-sangue-de-boi, compensando o bombardeio constante de spots na rádio a favor do plano de saúde de Obama... Na terça-feira, no estádio de basebol Harbor Park, em Norfolk, a maior base naval americana do mundo, o governador Tim Kaine mostrou este orgulho local: "E agora, pela 9.ª vez no nosso estado, o próximo presidente da América: Barack Obama." Dois dias depois, Obama voltaria à cidade vizinha, Virginia Beach.

O estado da Virgínia, a porta do Sul da América, sabe o que são campos de combates. As suas estradas têm as bermas recheadas de marcos assinalando batalhas da Guerra da Secessão - Manassas, dos Sete Dias, Appomattox... Mas em votos a Virgínia tem sido uma paz de alma, conservadora. Eleitoralmente o que divide a América - de um lado, as áreas metropolitanas, democratas, do outro, as rurais, republicanas - fez a Virgínia republicana. Todas as 32 cidades americanas com mais de meio milhão de habitantes, todas elas, votam democrata. O republicano Texas, o estado dos Bush, elegeu na capital Dallas (um milhão e 300 habitantes) uma xerife democrata, de origem latina e lésbica. Sem nenhuma grande cidade, a Virgínia habituou os americanos a votar republicano.

Mas este ano as sondagens começaram a revelar um pendor para o candidato democrata, Barack Obama. O sistema americano dando todos os votos eleitorais de um estado ao candidato que o ganha, a possível perda dos 13 votos da Virgínia seria catastrófica para McCain. Mais uma vez estas presidenciais serão apertadas e para garantir o limiar que dá a vitória, 270 votos, nenhum dos candidatos se pode permitir desperdiçar os seus estados tradicionalmente seguros.

Ao tornar-se o que se chama em termos eleitorais americanos um batlleground, um campo de batalha, a Virgínia revolucionou o mapa eleitoral. E obrigou McCain a mudar a sua campanha, tentando ganhar a Pensilvânia, um estado hesitante, que ora vota democrata ora, republicano, e que em 2004 votou contra Bush. Ainda há dois meses, ser obrigado a pescar num estado democrata não estava nas contas de McCain.

A última sondagem CNN/Time na Virgínia, dá uma vantagem de nove pontos a Obama. A distância na Pensilvânia é ainda maior, de dez a 12 pontos para Obama, mas o facto de ela ter mais votos eleitorais que a Virgínia (21 contra 13) explica a aposta de McCain em torná-la a sua escolha de vida ou de morte. Como são ambas do Leste dos Estados Unidos, onde se conhecem primeiro os resultados, a Virgínia e a Pensilvânia podem apressar a leitura do desfecho eleitoral: se as duas votarem democrata, a eleição de Obama deve ser inevitável.

O primeiro indício da espectacular mudança na Virgínia apareceu com o forte aumento, este ano, de registos de eleitores: cerca de 450 mil novos possíveis eleitores, num total de cinco milhões. Uma média só ultrapassada, nos 50 estados americanos, pela vizinha Carolina do Norte. Este afluxo de novos eleitores não atemoriza Nancy Rodrigues: "Tenho 30 funcionários e montei um exército de 30 mil pessoas para o dia das eleições." Embora com uma população menor (7,2 milhões), a Virgínia é um pouco maior (102 mil quilómetros quadrados) que Portugal.

Na antecâmara do gabinete da chefe do Board of Elections, há um desenho a carvão de uma fila a votar: à cabeça, um negro deitando um papel para a urna de vidro. O desenho é datado, certamente a seguir à Guerra Civil, porque há soldados com a farda da União - um símbolo na cidade que foi a capital dos confederados do Sul contra a abolição da escravatura. Nancy, de 55 anos, diz que o pai, Albino Rodrigues, já falecido, gostaria de a saber a mandar "nesta coisa tão importante que é pôr gente comum, com o gesto secreto que é votar, a decidir quem nos governa".

Albino não tinha a quarta classe quando partiu, em 1926, de Penacova para a América. Em Newark, no estado de Nova Jérsia, destino comum dos portugueses, distribuía petróleo para o aquecimento nas casas. Nos Verões, no quintal, arredondava o salário fazendo caixotes para as mudanças dos portugueses de torna-viagem. Casou com Elvira, outra portuguesa, embora nascida em Belém, Brasil, por onde os pais passaram antes de chegar aos Estados Unidos. O casal teve duas filhas e formou ambas. Linda, a mais velha, em Estudos Portugueses - é hoje directora de um colégio na cidade de Nova Jérsia. "Comigo, o meu pai também falava sempre em português, mas chamava-me a minha americana", diz Nancy. Ela tirou Ciências Políticas em Williamsburg, na Virgínia. E por este estado ficou.

Nancy casou com um antigo cowboy de Montana, Michael. Durante anos fez lóbi junto do congresso estadual, em Richmond, para se legislar sobre questões relacionadas com tráfego. Ficou conhecida no meio político - entre democratas e republicanos, porque o estado, se votava sempre republicano nas presidenciais, é ecléctico na política interna. No ano passado, o governador democrata Tim Kaine convidou-a para dirigir o departamento eleitoral da Virgínia. A nomeação foi ao congresso e foi votada unanimemente: "O meu pai já tinha morrido há muito mas senti a sua alegria", diz Nancy, num português que é carregado na pronúncia, mas correcto.

Ela tem a primeira página do Diário de Notícias", do dia do seu nascimento, "Quinta-feira, 11 de Dezembro de 1952", com uma manchete que a faz rir: "A ameaça da crise política na América está afastada." Diz: "Nasci e tudo se compôs..." Para a actual crise, ela também tem remédio: "Quer ver?", e vai buscar uma camisola de árbitro de um jogo de basebol: "É isto que eu quero ser, árbitro. Nem que tenha de mostrar isto e isto" - e mostra um cartão vermelho e outro amarelo. Campeã das virtudes cívicas do voto, ela não votou este ano nas primárias, porque se o fizesse saber-se-ia se era democrata ou republicana.

Na Virgínia já foram presas quatro pessoas, em Hampton e Newport News, na região costeira, por abuso nos registos eleitorais: "É o único estado que já prendeu falsificadores de registos", conta Nancy Rodrigues. Há dias, na mesma região, apareceram panfletos, com pretensa assinatura do Board of Elections, dizendo que os republicanos deviam ir votar no dia 4 de Novembro (data correcta) e os democratas no dia 5: "Estou a trabalhar com a polícia estadual para atacar essas fraudes."

A região costeira é exactamente aquela onde a Virgínia se está a "nortificar". Três das quatro cidades mais populosas do estado, Virginia Beach, Norfolk e Chesapeake, estão na costa. A quarta cidade é Arlington, no Norte, de facto dormitório da vizinha capital federal, Washington - onde os funcionários têm poucas afinidades com a tradição rural da Virgínia. O estado tem 20% de negros, mas estes são mais do dobro (44%) em Norfolk. Aqui, no comício de Obama, na terça-feira, os organizadores tiveram de substituir parte da assistência da bancada que ficava por trás do orador - aquela que estava no enfiamento das câmaras televisivas - para a polvilhar mais de caras brancas.

No estádio viam-se também muitos cartazes - "Mulher de Soldado por Obama", "Famílias Militares por Obama" - que representavam a importante população militar do estado. Há 300 mil tropas estacionados nas 30 bases da Virgínia, um dos mais fardados estados da União.

Nas primeiras filas do comício, a negra Thalia Heides, empregada do escritório, diz: "Esta é a nossa hora. Ele vai realizar o sonho de Martin Luther King." Saiu do trabalho directamente para o estádio Harbor Park, tendo de esperar três horas e meia para assistir ao primeiro comício da sua vida, aos 41 anos. Está preparada para esperar mais duas horas quando, no dia 4, for votar "às seis e meia da manhã", ao abrir das urnas. E, como não é feriado, ir trabalhar a seguir. Também negra, Mary Lawrence, 62 anos, reformada, já votou. Quer guardar o dia para levar outras pessoas a votar: "Vamos todos obameeering [obamizar], eu, o meu filho e as minhas duas netas."

À saída do estádio, uma mulher com um cartaz dizendo: "Obama é como Hitler, ele hipnotiza." Dois outros homens, com cartazes maiores: "Atenção! Vocês, os pecadores, vão pagar!" Um jovem branco, com a namorada, dirige-se ao estrangeiro como a pedir desculpa do desvario: "Isto é medo. Lá dentro era esperança." Um cinquentão negro, de sobretudo elegante, solitário, não quer enfiar-se pela noite fora sem deixar a sua emoção: "Que noite! Que discurso!" O essencial do discurso de Obama, e que ele repetiria no dia seguinte no famoso anúncio de meia hora que passou em várias cadeias de televisão, era também sobre a responsabilidade que os homens e as mulheres têm na educação dos filhos: "Nenhum programa de Governo fecha a televisão quando se deve fechar, ou lê histórias quando os nossos filhos se deitam."

Mas talvez, como dizem os analistas, o que tem mais impacto na campanha de Obama seja o seu discurso contra a crise económica. Na semana passada fecharam seis lojas Burger King na Virgínia. O exemplo parece irrelevante se não ilustrasse uma verdade generalizada: a taxa de desemprego não pára de subir e é a mais alta desde há dez anos. Richmond, a capital, tem uma taxa de desemprego superior à média nacional.

Na esquina da Grace com a Rua 2, o Dementi Studio, estúdio fotográfico, guarda as provas de uma decadência. Nas paredes, as fotos da Broad Street, dos anos 20 aos 60, rua animada e intensa - essa mesma que, no quarteirão a seguir ao estúdio, é hoje um deserto de gente e com taipais nas vitrinas. A fotógrafa Terry Brown, 45 anos, branca, diz que quando era pequena vinha passear para a Broad. Ela assistiu ao comício de Barack Obama em Richmond: "A minha mãe nunca votou democrata. Agora falo-lhe de Obama, mas ela hesita" Hesita porquê? "Porque ele é negro." Uma dificuldade que talvez explique porque os vizinhos de Terry, nos subúrbios de Richmond, tenham quase todos, espetado no relvado, os cartazes "McCain-Palin".

Uma das fotos do Dementi Studios mostra uma multidão de homens, em 1924, numa praça de Richmond, olhando para um placard onde se marcava o evoluir dos pontos de um jogo longínquo entre os Yankees e os Cardinals. Todos aqueles homens, e eram centenas, tinham chapéu. Na esquina oposta ao estúdio, dentro do Gigi Hats, a negra Ernestine Epps-Locke teve de se reciclar no negócio e agora só vende chapéus domingueiros que as negras usam nos serviços religiosos. Belos, exagerados, com brilhantes Swarovski ou com rendas e caros - podem custar até 300 dólares - mas negócio raro. Ernestine sente-se ofendida quando lhe perguntam o que vai votar: "Tenho de ter um voto óbvio, é?"

Ao lado do estúdio, fica a sede do Partido Republicano em Richmond, um escritório permanente: até tem uma vitrina como uma colecção de elefantes, o símbolo do partido, em vários materiais, do marfim ao cristal. Os republicanos, no seu estado até agora fiel, não tinham necessidade de abrir sedes para as campanhas presidenciais: "Esta é a primeira vez que temos aqui um escritório de campanha", disse Rick Batten, do comité republicano de Williamsburg - o local da primeira colónia inglesa na Virgínia - quando Roberta, a mãe de McCain, de 96 anos, fez lá campanha pelo filho. John McCain foi piloto de caça no esquadrão de ataque 65, na base naval de Oceana, na vizinha cidade de Virginia Beach, antes de ir para a Guerra do Vietname, onde seria feito prisioneiro. "Rezem por um milagre", pediu Roberta - esta semana, em três dias, ela participou em oito comícios pela Virgínia fora. Os republicanos abriram 21 novas sedes, para tentar suster a ofensiva, de 70 sedes de campanha, de Obama.

Esta semana, no extremo ocidental do estado, já sobre os montes Apalaches, o pastor fundamentalista Mike Huckabee e um membro da direcção da National Rifle Association, a direitista associação de defesa do porte de arma, andaram em campanha por McCain. Há meses, durante as primárias republicanas, nesses condados agrícolas, Huckabee ganhou a McCain, tido por ali como esquerdista. Nessa altura, valeram a McCain a região norte e a costa, onde agora Barack Obama repousa a esperança de conseguir a viragem histórica da Virgínia democrata.
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