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AS POBRES VIDAS DOS RICOS...............

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Mensagem por RONALDO ALMEIDA Sáb Dez 13, 2008 10:48 am

As pobres vidas dos ricos...ou como eu passo os meus tempos livres...

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Parte 1

coitados



In revista Sábado

[b]A VIDA PRIVADA DOS MUITOS RICOS

Dos portões da herdade de Américo Amorim até à casa principal são três quilómetros de estrada sempre a andar. Embora esteja

bem resguardada por velhos eucaliptos e uma cintura de edifícios térreos, os turistas podem parar e ver-lhe o pátio de calçada portuguesa e o alpendre gigante coberto de madeira maciça. Até nisso se vê a raça do patrão da cortiça portuguesa. Em qualquer canto parece encontrar um bom negócio, mesmo se for no sítio privilegiado e isolado onde passa uma boa parte dos fins-de-semana e das férias com a família e os amigos. A cinco quilómetros e meio da casa, ainda mais para dentro da propriedade, abriu um hotel rural com 12 quartos a 200 euros a noite e uma filosofia igual à sua: o maior prazer na vida é poder acordar de madrugada, no silêncio total da planície alentejana, e sair para caçar.

O Monte do Peral é uma imensidão de terra com 5.500 hectares a 40 quilómetros de Évora, para sul, e é também uma espécie de manual no qual se pode ler com os olhos como é que os multimilionários portugueses gostam de levar a vida: de caçadeira ou carabina ao ombro, longe dos centros financeiros e dos locais da moda onde as estrelas do jet set nacional lutam pelas páginas de abertura das revistas cor-de-rosa.

Não há sinais de riqueza à vista, mas ela existe e está espalhada pelos cantos da propriedade. Além da cortiça e dos campos de cultivo, milhares de veados, gamos, javalis, coelhos e perdizes passeiam-se tranquilamente debaixo dos sobreiros à espera que abra a época de caça e que Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal a seguir a Belmiro de Azevedo - com uma fortuna avaliada em mais de mil milhões de euros -, traga consigo os amigos para as batidas de fim-de-semana.

A lista é extensa e impressiona pela quantidade de fortunas: os filhos do recém-falecido patriarca António Champalimaud (que, juntos, têm 1.100 milhões de euros), Vasco Mello (filho de José Manuel de Mello, cujo património ascende a 700 milhões), Patrick Monteiro de Barros (655 milhões), os irmãos António Manuel Gonçalves e Fernando Manuel Gonçalves (mais de 400 milhões juntos), - Ilídio Pinho (mais de 300 milhões), Joaquim Carlos Silveira (200 milhões), Diogo Vaz Guedes (179 milhões), ]osé Manuel Espírito Santo (150 milhões), Adalberto de Oliveira e Jorge Quintas (ambos da família Quintas, com 195 milhões), Fernando Guedes (135 milhões), Ricardo Salgado (130 milhões) e muitos mais. Alguns são bastante mediáticos, como o ex- -presidente do Benfíca Manuel Vilarinho, por exemplo. Mas nem todos são multimilionários. Há também gestores e advogados de topo entre os hóspedes habituais do Peral: o vice-presidente do PSD, Manuel Dias Loureiro; o deputado social-democrata Tavares Moreira; o presidente da PT, Miguel Horta e Costa; o presidente da Companhia das Lezírias, Salter Cid; o ex-presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, Mira Amaral; o agora ministro da Economia, Álvaro Barreto; e os advogados )orge Neto e Proença de Carvalho. "Facilmente se reúnem ali dois terços do PIE português", diz uma pessoa próxima do distinto grupo de caçadores que, também por uma questão de discrição, prefere não ser identificada.

Ao todo, um pequeno universo de dezenas de pesos pesados, donos da banca, da indústria e do imobiliário em Portugal costuma parar no Alentejo entre Outubro e Fevereiro, nos convívios das caçadas. "O normal é juntarem-se 15 a 20 casais, sendo que uns são mais assíduos que outros", diz a mesma fonte. Se não vão para o Monte do Peral, antigo reduto de Jorge de Mello, que o vendeu a Amorim por um milhão de euros, então vão para os 1.200 hectares da herdade da Espargosa, que llídio Pinho possui perto de Castro Verde, ou para a herdade do Belo, dos Champalimaud, ou para uma das outras propriedades do circulo de amigos mais abonado do País. Não faltam escolhas. E todas têm o conforto, sóbrio e sólido, de qualquer hotel rural de cinco estrelas, algumas até com piscina interior. "São casas bonitas e bem cuidadas, com muitos quartos e grandes salões de jantar", diz a mesma fonte,

QUEM VEM DO NORTE usa transporte aéreo. Esta facção inclui llídio Pinho, os Quintas, Fernando Guedes e os irmãos Gonçalves, que por sorte são proprietários da Heliportugal, uma das maiores empresas de helicópteros. Américo Amorim, ele próprio residente no Porto, não chega a ter um aeródromo particular, ao contrário do seu vizinho José Roquette, cuja herdade do Esporão está separada do Peral apenas por um rio. Basta-lhe um heliporto para as necessidades. Não é uma extravagância, mas a única forma de aproveitar bem o tempo. A viagem de carro do Porto demoraria mais de quatro horas e os fins-de-semana são de uma rotina violenta. A maioria das grandes famílias é muito poupada e nem sequer tem avião próprio. Prefere alugar pequenos jactos no aeródromo de Tires e só os usa para fora do País, quando vai de férias para Palma de Maiorca ou para a Sardenha.

Seja sábado, seja domingo, a alvorada dá-se às 7h00 da manhã, para aproveitar a luz do dia. A variante mais popular é a caça a salto, com batedores de matilhas a direccionarem as perdizes e a obrigarem-nas a levantar voo. Fechado o regime geral, em Janeiro e Fevereiro o entusiasmo vira-se para as batidas ao javali. O que nunca muda é o piquenique ao meiodia, em pleno campo, conhecido por "taco" e que tem direito a mesa e lugares sentados.

"Há normalmente uma estrutura preparada para essas refeições, com estrado e telhado", diz um dos frequentadores habituais. A ementa condiz com o programa ao ar livre e se não são peças de caça é cabrito ou feijoada, sendo que o serviço fica todo por conta dos empregados da casa. "Mas não se pense que há qualquer espécie de requinte. É tudo muito simples."

O requinte é uma coisa subtil entre os muito ricos. Está nas entrelinhas. Por mais simples que sejam, os jantares acabam por ter a sua solenidade. Em algumas herdades, como no Peral ou na Espargosa, é possível sentar toda a gente numa única mesa, muito comprida. E mesmo que se queira manter a frugalidade à refeição, é difícil fugir a hábitos caros, como beber os melhores vinhos do mercado. As circunstâncias ajudam: Fernando Guedes, o patrão da Sogrape, é dono do Barca Velha, simplesmente o mais conceituado dos vinhos tintos, e mesmo Américo Amorim, que não tem tradição na produção vinícola, ganhou uma garrafeira cobiçada pelos mais exigentes enólogos, ao ter adquirido há pouco mais de um ano a casa Burmester.

Como as perdizes acordam cedo na manhã seguinte, os serões raramente se prolongam para lá da meia-noite. Mas sobra sempre tempo suficiente para umas partidas de bridge, canasta, sueca ou king. As cartas arrastam invariavelmente para a mesa conversas de política e economia, em que se traça o estado geral da nação. "São inevitáveis", diz quem frequenta as herdades. "E muitas ideias de negócios nascem ali mesmo, à lareira." O espírito empreendedor dos empresários não tira folgas.

Apesar de desconhecidas do grande público, as caçadas são um velho ritual das famílias tradicionais da economia portuguesa. Já antes do 25 de Abril, os Champalimaud corriam atrás de perdizes na herdade do Belo. E os Mello faziam o mesmo no Peral. A diferença é que agora há uma leva de empresários do Norte que, ao comprar propriedades por atacado no Alentejo, se juntou ao grupo de Lisboa. E que interiorizou os mesmos códigos de conduta, cultivando uma postura espartana e uma aura de segredo em redor do modo como desfruta a vida. Nada de ostentação e exibicionismo. Isso é para as Lili Caneças deste mundo.

A generosidade das salas e a qualidade do que se bebe e se come contrasta com a simplicidade do serviço. Os empregados não andam fardados e não respeitam regras rígidas de protocolo e etiqueta. "Ao contrário do que as pessoas possam pensar, estas pessoas apreciam o trato fácil e familiar."

E é assim com tudo e em todo o lado. Ninguém quer cair no mau gosto de ser demasiado burguês. Instalado na Comporta, onde é proprietário de quase todos os terrenos da região, o clã Espírito Santo dá um exemplo da familiaridade com que trata os empregados. Uma familiaridade tão grande que as governantas mais antigas chegam a receber de presente moradias de praia.

NA REGIÃO DO PORTO, a única casa que se destaca é a de Américo Amorim, que vive com a mulher num palacete do século XIX, outrora propriedade do industrial Miguel Quina. Ilídio Pinho, que tem os seus activos espalhados pelo BES, pela Electricidade de Macau e por um punhado de outras empresas, ocupa uma moradia que, apesar de rodeada por um grande jardim, não destoa dos seus vizinhos de Vale de Cambra. E com os Viola, senhores todo-poderosos de Espinho, onde controlam o casino e a maioria dos negócios imobiliários da cidade, passa-se a mesma coisa. Ninguém diria, ao passar à porta, que aquela família não é apenas rica, é multimilionária.

Há casos extremos de humildade: accionista, em conjunto com a família, da Têxtil Riopele e representante da Jaguar em Portugal, com um património estimado em 300 milhões de euros, José Alexandre Oliveira sente-se perfeitamente no paraíso num simples apartamento do Porto. Aliás, não é um sentimento inédito. Belmiro de Azevedo, o número um absoluto da economia portuguesa, segue-lhe o exemplo. E Soares dos Santos, o patrão da Jerónimo Martins, idem: mora num andar na Estrela, em Lisboa, e mesmo para fazer férias costuma alugar casas na Ericeira e na Quinta do Lago. Não as comprou. Para quê ter mais se o que se tem chega para os gastos?

No fundo, existe uma escola de valores partilhada pela classe. "São homens educados para não se deslumbrarem pelo dinheiro e que incutem isso aos filhos", diz uma fonte ligada a algumas das famílias mais importantes do País. "No Vale do Ave, existem indivíduos com as garagens cheias de Ferraris, mas que em contrapartida devem dinheiro ao fisco e à segurança social.

A maioria dos grandes empresários abomina a ostentação. Quase todos dispensam motorista nas suas voltas privadas e andam normalmente de BMW e Mercedes." São modelos topo de gama - BMW série 7 e Mercedes série F -, mas tudo levaria a crer que, para um cidadão com mais de 100 milhões de euros, qualquer coisa abaixo de Maseratti fosse carro de pobre. Há como que uma profissão de fé franciscana entre os muito ricos portugueses.

Se há um sentimento de elitismo, é na cultura e nos pormenores que ele se revela e não em bólides encarnados, mansões sumptuosas ou etiquetas da Prada, da Yves Saint Laurent ou de outras grifes das revistas. Os senhores do PIB distinguem-se pela tradição e por essa espécie de segredo que parece rodear tudo o que fazem e em que tam

bém estão mergulhados, por solidariedade e decoro, os sítios onde vão às compras. Nenhum dos estabelecimentos que frequentam investe um tostão em publicidade. E essa é a melhor das etiquetas.

Na roupa e no calçado, quer em Lisboa, quer no Porto, a Rosa & Teixeira é um templo incontestado. Os homens da alta roda económica vão lá todos vestir-se dos pés à cabeça. "Vinham cá de calções, acompanhados pelos pais, e nunca deixaram de vir", conta um funcionário. Não há paralelo em Portugal. Excepto a Façonnable, que foi lançada por cá pela Rosa & Teixeira mas que tem agora uma rede de lojas própria, as marcas à venda em exclusivo pelo estabelecimento da Avenida da Liberdade contornam a lógica dos nomes sonantes da moda internacional, sendo as peças escolhidas a dedo em Itália, França e Inglaterra, nas feiras da especialidade. Os clientes habituais preferem o design contido dos sapatos da Todd's ou os fatos elegantes e discretos da Canali.

O PRONTO-A-VESTIR da Rosa & Teixeira não é mais caro do que um Hugo Boss ou um Giorgio Armani: consegue-se comprar um fato por 750 euros e um par de sapatos por 150. No entanto, os tecidos e o corte são irrepreensíveis. Além do mais, toda a elite põe o pé fora do esquema do pronto-a-vestir, encomendando fatos e camisas por medida ao mestre Gomes, o mais reputado alfaiate de Lisboa. Os Espírito Santo têm ainda um conforto acrescido: basta-lhes atravessar a rua para saírem do escritório e reabastecerem o guarda-roupa.

Enquanto os homens provam calças e escolhem gravatas na Rosa & Teixeira, as mulheres dobram a esquina do teatro Tivoli e passam horas no salão de cabeleireiro ou nos gabinetes privados da Ayer, o instituto de beleza mais clássico de Lisboa, onde nem sequer há um letreiro à porta.

Nem seria preciso. Ir à Ayer é uma herança que passa de mãe para filha. Só quem lá vai sabe que ele existe.

Não é que faltem centros de estética ultra-sofisticados em Lisboa, porque não faltam. Mas nunca seria a mesma coisa. No recato da Ayer, sem alarido, quase sem se dar conta, qualquer senhora pode reafirmar as linhas dos lábios com uma tatuagem definitiva como se fosse o mais ancestral e rotineiro dos tratamentos. São preciosidades, um modo de estar que tem que ver com a forma como as funcionárias sabem misturar a eficiência e a naturalidade refinada. Desde os anos 50, quando abriu as portas, que a casa de Jacqueline Arié foi acumulando camadas de charme e de verniz, mantendo intactos os interiores parisienses e a exclusividade do serviço de bar e das vitrinas de roupa bem ao gosto da nossa alta sociedade.

O mundo dos muito ricos é tão pequeno que, no microcosmos multimilionário de Lisboa, dá para percorrê-lo a pé em minutos. No eixo da Avenida da Liberdade, os almoços informais durante a semana encalham muitas vezes no Gambrinus, que, sendo um dos restaurantes mais reputados da capital, tem uma freguesia tão vasta e tão diversa que os banqueiros se confundem no meio de estrangeiros e artistas. "Não fazemos distinções dos nossos clientes. Tentamos tratá-los de forma igual, dos mais pobres aos mais ricos", diz o gerente Afonso Dário.
RONALDO ALMEIDA
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