"José Sócrates é agressivo comigo por causa do meu marido" (Judite de Sousa)
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"José Sócrates é agressivo comigo por causa do meu marido" (Judite de Sousa)
"José Sócrates é agressivo comigo por causa do meu marido"
Em plena campanha eleitoral, a directora-adjunta de Informação da RTP, Judite de Sousa, publica um livro onde reflecte sobre a relação entre políticos e jornalistas.
Cândida Santos 13 de Set de 2009
Mantém há 12 anos um programa semanal de entrevistas na televisão pública. Conhece de perto a relação do poder político com os média. Sabe bem qual é a importância de uma imagem. A propósito do lançamento do livro "A Vida É Um Minuto" (Oficina do Livro) fala dos protagonistas da vida política. Na RTP diz-se atacada por todos os lados e não poupa críticas ao primeiro-ministro e a Manuela Moura Guedes.
O livro que acaba de publicar é sobre a relação entre a comunicação social e o poder político. Que relação é essa?
Uma relação tensa, que opõe as lógicas do poder às lógicas do contra-poder. É uma relação de amor - jornalistas e políticos actuam no mesmo espaço - e de ódio - em tudo o mais têm interesses completamente antagónicos. Daí falar de uma relação tensa, ambivalente, conflituosa e incompreendida.
Por parte dos políticos.
Os políticos pensam que quando as coisas correm bem o mérito é deles e quando correm mal a culpa é da comunicação social. Veja-se o que aconteceu com o caso Freeport, em que a comunicação social foi apontada pela autoria de uma campanha negra e constituindo-se como um poder oculto.
Já lá vamos. No seu livro diz que os políticos não usam linguagem mediática e não o fazem com transparência. São todos assim?
Há uns que sabem melhor do que outros e têm esse talento natural.
Está a pensar em alguém?
No Francisco Louçã.
Apesar de Paulo Portas conhecer por dentro o funcionamento da comunicação social.
À partida, Paulo Portas teria as melhores condições para saber falar para os média. Talvez por saber como são os bastidores da profissão, isso se tenha virado contra ele.
Este livro levanta questões sobre a comunicação moderna. Mas não conta histórias dos bastidores, que certamente haverá. Espera vir a fazê-lo mais tarde?
Não conto muitas. Não posso.
Não pode porquê? Tem medo de perder alguns entrevistados?
Não seria sério da minha parte estar agora a contar histórias picantes de bastidores. Isso poderia inviabilizar a minha actividade profissional enquanto autora e coordenadora de um programa semanal. Poderia perder a relação de confiança entre mim e os entrevistados. Também não era o objectivo deste livro. A partir de casos da actualidade, procurei reflectir sobre os problemas que se colocam entre os jornalistas e o poder político.
Não está a responder. Coloca a hipótese de escrever as suas memórias de televisão?
Quero fazer como fazem as minhas colegas americanas, tipo Barbara Walters, que só com 88 anos publicou o seu livro de memórias. Eu penso fazê-lo mais cedo, pois não acredito que chegue até tão tarde (risos).
Não é com certeza inocente o facto de publicar este livro em período eleitoral.
É oportuno. O livro reúne textos avulsos que já tinha escrito sobre a profissão em si mesma. Depois, fixei a atenção sobre acontecimentos marcantes que davam suporte àquilo que queria dizer em função da minha experiência profissional. Este livro só fazia sentido se saísse nesta altura.
Os políticos nem sempre reagem muito bem às notícias que lhe são adversas. Sente muito isso enquanto directora de Informação da RTP?
Sinto.
Sente-se pressionada?
Não. Uma coisa é as pessoas darem conta do seu mal estar. O problema é que em relação à RTP a coisa piora. Historicamente, os governos tendem a ver a RTP como estando ao serviço das oposições, e estas acham que a RTP está ao serviço do Governo. Sem ironia, temos um lugar reservado no céu. Levamos pancada de todos os lados. Dos governos, das oposições, dos opinadores. O dr. Pacheco Pereira vê-me, e ao José Alberto Carvalho, ao José Rodrigues dos Santos e à Fátima Campos Ferreira como atrasados mentais, e a RTP como sendo uma caixa de ressonância do governo PS. Pensa que somos uma espécie de servos da gleba do feudalismo. Por outro lado, a ERC estabeleceu umas quotas, uma coisa impensável e que não vejo em mais lado nenhum, nem os dirigentes norte-coreanos se lembrariam de tal.
O 'caso Freeport' é revelador da relação conflituosa que existe entre o poder político e os média.
Foi e é um caso que gerou muito mal estar entre o poder político e a comunicação social. O ambiente ficou muito crispado.
Mas, neste caso, o primeiro-ministro reagiu de forma imediata, ao contrário do que fez com a questão da licenciatura e o caso da Independente. Terá aprendido a lição ao saber usar o tempo dos média?
Na história da licenciatura esteve um mês calado. Um político, quando está no centro do furacão, não pode fazer isso. Nesse caso permitiu a especulação sobre a história, que não era positiva. No 'caso Freeport' reagiu imediatamente, mas em condições comunicacionais que ele próprio definiu. A primeira vez que respondeu em condições que não foram pré-definidas fê-lo na entrevista à RTP, em Abril. Aí reagiu mal. Não o fez de forma distendida, normal e solta.
A partir das eleições europeias mudou de atitude.
Só depois da derrota nas europeias, em que o mundo lhe cai em cima, é que surgiu um homem mais ponderado e distendido. As perguntas têm que ser feitas. A entrevista do primeiro-ministro em Abril foi uma má entrevista, sobretudo como ele disse o que disse. Se no dia a seguir à entrevista as pessoas falam do meu tom agressivo em vez de falarem na entrevista, significa que fiz mal o meu papel.
Não é essa a sua característica.
Durante muitos anos as pessoas achavam que eu era agressiva. Nunca o fui. Os jornalistas não têm que ser agressivos. Devem fazer o seu trabalho com rigor, honestidade, e, sobretudo, com independência e respeito pela verdade. Têm que obedecer à neutralidade, objectividade, credibilidade e à verdade.
A agressividade é uma característica de Manuela Moura Guedes. Revê-se naquele estilo?
Ela nunca fez uma entrevista a José Sócrates. Nas duas vezes que foi questionado, em televisão, sobre o 'caso Freeport' foi na RTP. Este facto é inultrapassável, e por isso não aceito nenhuma crítica à RTP sobre o caso.
Isso não está em causa.
Está, está. Aquilo que constato é que Sócrates, em situação de entrevista, só foi questionado sobre o 'caso Freeport' nesta casa. Qualquer suspeita que se faça sobre o trabalho dos jornalistas da RTP relativamente ao primeiro-ministro é difamação, inveja ou outra coisa qualquer.
O afastamento de Manuela Moura Guedes nesta altura pode ter consequências nos resultados eleitorais?
Não tenho a certeza disso.
A correr mal, pode acontecer a quem? Ao primeiro-ministro?
Eu perguntei-lhe isso. O que vai determinar o voto dos portugueses é a situação económica do país. Embora os problemas suscitados pela liberdade de imprensa sejam muito caros às pessoas.
Acha aceitável e oportuna a decisão tomada pela administração da TVI de acabar com o Jornal Nacional a menos de um mês das eleições legislativas?
Não sei se foi oportuna. Não conheço a administração da TVI. Vi-os uma ou duas vezes. Não foram muito espertos acabar com o Jornal três semanas antes das eleições. Se fosse assessora deles ter-lhes-ia dito para não o fazerem.
Encontra alguma semelhança entre este caso e o de Marcelo Rebelo de Sousa quando este saiu da TVI?
O PSD tem os seus telhados de vidro. São casos diferentes, na medida em que Marcelo era comentador, e, neste caso, tratou-se do fim de um telejornal. Mas na essência são semelhantes. O caso Marcelo foi muito grave. Foi silenciado.
Não se pode dizer o mesmo de Manuela Moura Guedes?
No caso do jornal da TVI, o que se sabemos é que a administração acabou com ele. Com Marcelo foi algo mais do que isso. Sabemos que foi um ministro do Governo de então que publicamente se insurgiu contra os seus comentários.
Bom, neste caso também houve ministros que manifestarem a sua discordância com o Jornal.
Perguntei a Sócrates até que ponto o facto de num congresso do PS ter feito declarações em que se insurgia contra aquele órgão de comunicação social poderia ter influenciado o accionista a tomar esta decisão. Respondeu que não. Que não tinha nada a ver com a atitude dos espanhóis. A pergunta também deverá ser feita aos espanhóis. É preciso perguntar-lhes até que ponto se sentiram condicionados por um ambiente político e em função disso tomaram a decisão. Podemos também admitir que os espanhóis não gostavam do jornal e simplesmente acabaram com ele.
O que acha daquele jornal?
Mesmo quando cometemos os maiores erros, fazemos disparates, tudo isso é aceitável em democracia. Mas não me revia. O meu estilo de fazer jornalismo não é aquele. É saudável que haja diferentes estilos. Tenho o meu. Não quero ter o estilo de Manuela Moura Guedes. Nunca percebi porque razão é que os jornalistas da imprensa escrita consideravam - mas já não consideram - que aquele é que era o estilo padrão e toda a gente deveria ser assim.
José Sócrates também nunca foi muito simpático consigo nas entrevistas que lhe deu. Sabe qual é a razão?
É por causa do meu marido. Há muito sectarismo e mesquinhice na política. Sou jornalista há 30 anos. Já era a Judite de Sousa antes de ser casada com Fernando Seara. Não admito que ponham em causa o meu profissionalismo e a minha independência por estar casada com um político.
O que a leva a pensar que a antipatia de Sócrates tenha a ver com o seu marido?
Nunca mo disse, mas alguns amigos dele do PS também estão intrigados. Na última entrevista que me deu foi mais simpático, mas fez um grande esforço. Conheço José Sócrates há muitos anos, entrevistei-o muitas vezes quando foi ministro do Ambiente. Na entrevista de Abril tive que lhe fazer perguntas difíceis mas necessárias sobre o 'caso Freeport'. Foi muito agressivo. Até fiquei um pouco zangada. Mas passou-me.
Há até quem ache, e na entrevista que refere as pessoas fizeram essa leitura, que José Sócrates fala consigo como se fosse seu patrão.
Senti que foi agressivo, mal educado, arrogante e toda a gente pensou isso. O Fernando Madrinha escreveu no Expresso que, se estivesse no meu lugar, se tinha levantado e ia embora. A única pessoa em Portugal que disse que eu fui mole com ele foi a Manuela Moura Guedes. Mas como nunca o entrevistou não sabemos como ela se comportaria.
Aconteceu alguma coisa entre o seu marido e o primeiro-ministro que tivesse levado a essa mudança?
Como nunca aconteceu nada entre nós, sou levada a crer que Sócrates deve ser daquele tipo de pessoas que emprenha pelos ouvidos. Quem gravita à sua volta, em São Bento, deve dizer-lhe assim: "aquela Judite de Sousa, casada com o Fernando Seara, que é do PSD, que derrotou a tua madrinha de casamento em Sintra..." (risos) Não encontro motivo ele para ser agressivo comigo e não o vejo a ser agressivo com mais nenhum jornalista.
O que pensa o seu marido sobre isso?
Diverte-se imenso. Há um mês entrevistei o António Costa e ele perguntou-me porque é que o primeiro-ministro embirra comigo. Disse-lhe que deve olhar para mim e ver um homem sem cabelo do PSD (risos). Costa riu-se imenso.
Se tivesse que entrevistar Fernando Seara para as autárquicas fá-lo-ia?
Recusava. O país não está preparado. Adorava um dia entrevistá-lo. Tenho a certeza que provavelmente seria a entrevista mais difícil da vida dele e provavelmente também a minha. Mas o país não ia perceber. Não podemos dar passos que se voltem contra nós.
Qual é a sua relação com Manuela Moura Guedes? Foram colegas na RTP.
Nenhuma.
E com José Eduardo Moniz? Moniz chegou a convidá-la para directora de informação da TVI.
Isso foi há dez anos. Não tenho nenhuma relação. No passado fui muito amiga da Manuela. A partir do momento em que foram para a TVI desencadearam uma relação de amigo-inimigo. Tenho muita consideração por colegas da TVI e da SIC. É uma estupidez que a guerra entre televisões contamine as relações pessoais. A Manuela e o Zé foram para a TVI, cada qual com problemas mal resolvidos com a RTP e aos quais eu sou completamente alheia. A Manuela constituiu na TVI um exército de fiéis, que pelos vistos agora abandonam o barco como se fossem ratinhos. A nossa relação de amizade, que era profunda, sólida e consistente, tinha a ver com as coisas fundamentais da vida. A partir de determinada altura, a Manuela dizia mal dos colegas em todas as entrevistas que dava, e dizia mal de mim. Diz que eu sou a entrevistadora do regime, mas o regime não acha isso de mim.
José Sócrates
"Tivemos sempre uma relação cordial. A partir do momento em que a minha relação com o meu marido se tornou oficial mudou de atitude. Sou levada a crer que Sócrates emprenha pelos ouvidos"
Francisco Louçã
"Se recuássemos dois ou três mil anos Louçã era o Cícero da Grécia Antiga. Joga bem na casa da democracia e nas entrevistas e debates"
Paulo Portas
"Talvez por saber como são os bastidores do jornalismo perdeu espontaneidade"
Manuela Ferreira Leite
"Peca pela autenticidade e às vezes é muito agressiva"
Jerónimo de Sousa
"É muito genuíno, muito afável. É uma das pessoas que gosto muito de entrevistar"
Cavaco Silva
"Soube utilizar a comunicação social a favor da sua carreira política. Quando perdeu as eleições para Jorge Sampaio geriu as intervenções e preparou meticulosamente o regresso"
Obama
"Faz o pleno. Fala bem, tem boa imagem, é genuíno. É o Cícero Contemporâneo"
Manuela Moura Guedes
"Diz mal de todos os colegas. Nunca entrevistou o primeiro-ministro. Se o fizesse, não sei como reagiria e se manteria o tom agressivo. Não me revejo no seu jornal. A minha escola de jornalismo não foi aquela. Os grandes nomes mundiais em que me revejo não têm aquele estilo"
O livro que acaba de publicar é sobre a relação entre a comunicação social e o poder político. Que relação é essa?
Uma relação tensa, que opõe as lógicas do poder às lógicas do contra-poder. É uma relação de amor - jornalistas e políticos actuam no mesmo espaço - e de ódio - em tudo o mais têm interesses completamente antagónicos. Daí falar de uma relação tensa, ambivalente, conflituosa e incompreendida.
Por parte dos políticos.
Os políticos pensam que quando as coisas correm bem o mérito é deles e quando correm mal a culpa é da comunicação social. Veja-se o que aconteceu com o caso Freeport, em que a comunicação social foi apontada pela autoria de uma campanha negra e constituindo-se como um poder oculto.
Já lá vamos. No seu livro diz que os políticos não usam linguagem mediática e não o fazem com transparência. São todos assim?
Há uns que sabem melhor do que outros e têm esse talento natural.
Está a pensar em alguém?
No Francisco Louçã.
Apesar de Paulo Portas conhecer por dentro o funcionamento da comunicação social.
À partida, Paulo Portas teria as melhores condições para saber falar para os média. Talvez por saber como são os bastidores da profissão, isso se tenha virado contra ele.
Este livro levanta questões sobre a comunicação moderna. Mas não conta histórias dos bastidores, que certamente haverá. Espera vir a fazê-lo mais tarde?
Não conto muitas. Não posso.
Não pode porquê? Tem medo de perder alguns entrevistados?
Não seria sério da minha parte estar agora a contar histórias picantes de bastidores. Isso poderia inviabilizar a minha actividade profissional enquanto autora e coordenadora de um programa semanal. Poderia perder a relação de confiança entre mim e os entrevistados. Também não era o objectivo deste livro. A partir de casos da actualidade, procurei reflectir sobre os problemas que se colocam entre os jornalistas e o poder político.
Não está a responder. Coloca a hipótese de escrever as suas memórias de televisão?
Quero fazer como fazem as minhas colegas americanas, tipo Barbara Walters, que só com 88 anos publicou o seu livro de memórias. Eu penso fazê-lo mais cedo, pois não acredito que chegue até tão tarde (risos).
Não é com certeza inocente o facto de publicar este livro em período eleitoral.
É oportuno. O livro reúne textos avulsos que já tinha escrito sobre a profissão em si mesma. Depois, fixei a atenção sobre acontecimentos marcantes que davam suporte àquilo que queria dizer em função da minha experiência profissional. Este livro só fazia sentido se saísse nesta altura.
Os políticos nem sempre reagem muito bem às notícias que lhe são adversas. Sente muito isso enquanto directora de Informação da RTP?
Sinto.
Sente-se pressionada?
Não. Uma coisa é as pessoas darem conta do seu mal estar. O problema é que em relação à RTP a coisa piora. Historicamente, os governos tendem a ver a RTP como estando ao serviço das oposições, e estas acham que a RTP está ao serviço do Governo. Sem ironia, temos um lugar reservado no céu. Levamos pancada de todos os lados. Dos governos, das oposições, dos opinadores. O dr. Pacheco Pereira vê-me, e ao José Alberto Carvalho, ao José Rodrigues dos Santos e à Fátima Campos Ferreira como atrasados mentais, e a RTP como sendo uma caixa de ressonância do governo PS. Pensa que somos uma espécie de servos da gleba do feudalismo. Por outro lado, a ERC estabeleceu umas quotas, uma coisa impensável e que não vejo em mais lado nenhum, nem os dirigentes norte-coreanos se lembrariam de tal.
O 'caso Freeport' é revelador da relação conflituosa que existe entre o poder político e os média.
Foi e é um caso que gerou muito mal estar entre o poder político e a comunicação social. O ambiente ficou muito crispado.
Mas, neste caso, o primeiro-ministro reagiu de forma imediata, ao contrário do que fez com a questão da licenciatura e o caso da Independente. Terá aprendido a lição ao saber usar o tempo dos média?
Na história da licenciatura esteve um mês calado. Um político, quando está no centro do furacão, não pode fazer isso. Nesse caso permitiu a especulação sobre a história, que não era positiva. No 'caso Freeport' reagiu imediatamente, mas em condições comunicacionais que ele próprio definiu. A primeira vez que respondeu em condições que não foram pré-definidas fê-lo na entrevista à RTP, em Abril. Aí reagiu mal. Não o fez de forma distendida, normal e solta.
A partir das eleições europeias mudou de atitude.
Só depois da derrota nas europeias, em que o mundo lhe cai em cima, é que surgiu um homem mais ponderado e distendido. As perguntas têm que ser feitas. A entrevista do primeiro-ministro em Abril foi uma má entrevista, sobretudo como ele disse o que disse. Se no dia a seguir à entrevista as pessoas falam do meu tom agressivo em vez de falarem na entrevista, significa que fiz mal o meu papel.
Não é essa a sua característica.
Durante muitos anos as pessoas achavam que eu era agressiva. Nunca o fui. Os jornalistas não têm que ser agressivos. Devem fazer o seu trabalho com rigor, honestidade, e, sobretudo, com independência e respeito pela verdade. Têm que obedecer à neutralidade, objectividade, credibilidade e à verdade.
A agressividade é uma característica de Manuela Moura Guedes. Revê-se naquele estilo?
Ela nunca fez uma entrevista a José Sócrates. Nas duas vezes que foi questionado, em televisão, sobre o 'caso Freeport' foi na RTP. Este facto é inultrapassável, e por isso não aceito nenhuma crítica à RTP sobre o caso.
Isso não está em causa.
Está, está. Aquilo que constato é que Sócrates, em situação de entrevista, só foi questionado sobre o 'caso Freeport' nesta casa. Qualquer suspeita que se faça sobre o trabalho dos jornalistas da RTP relativamente ao primeiro-ministro é difamação, inveja ou outra coisa qualquer.
O afastamento de Manuela Moura Guedes nesta altura pode ter consequências nos resultados eleitorais?
Não tenho a certeza disso.
A correr mal, pode acontecer a quem? Ao primeiro-ministro?
Eu perguntei-lhe isso. O que vai determinar o voto dos portugueses é a situação económica do país. Embora os problemas suscitados pela liberdade de imprensa sejam muito caros às pessoas.
Acha aceitável e oportuna a decisão tomada pela administração da TVI de acabar com o Jornal Nacional a menos de um mês das eleições legislativas?
Não sei se foi oportuna. Não conheço a administração da TVI. Vi-os uma ou duas vezes. Não foram muito espertos acabar com o Jornal três semanas antes das eleições. Se fosse assessora deles ter-lhes-ia dito para não o fazerem.
Encontra alguma semelhança entre este caso e o de Marcelo Rebelo de Sousa quando este saiu da TVI?
O PSD tem os seus telhados de vidro. São casos diferentes, na medida em que Marcelo era comentador, e, neste caso, tratou-se do fim de um telejornal. Mas na essência são semelhantes. O caso Marcelo foi muito grave. Foi silenciado.
Não se pode dizer o mesmo de Manuela Moura Guedes?
No caso do jornal da TVI, o que se sabemos é que a administração acabou com ele. Com Marcelo foi algo mais do que isso. Sabemos que foi um ministro do Governo de então que publicamente se insurgiu contra os seus comentários.
Bom, neste caso também houve ministros que manifestarem a sua discordância com o Jornal.
Perguntei a Sócrates até que ponto o facto de num congresso do PS ter feito declarações em que se insurgia contra aquele órgão de comunicação social poderia ter influenciado o accionista a tomar esta decisão. Respondeu que não. Que não tinha nada a ver com a atitude dos espanhóis. A pergunta também deverá ser feita aos espanhóis. É preciso perguntar-lhes até que ponto se sentiram condicionados por um ambiente político e em função disso tomaram a decisão. Podemos também admitir que os espanhóis não gostavam do jornal e simplesmente acabaram com ele.
O que acha daquele jornal?
Mesmo quando cometemos os maiores erros, fazemos disparates, tudo isso é aceitável em democracia. Mas não me revia. O meu estilo de fazer jornalismo não é aquele. É saudável que haja diferentes estilos. Tenho o meu. Não quero ter o estilo de Manuela Moura Guedes. Nunca percebi porque razão é que os jornalistas da imprensa escrita consideravam - mas já não consideram - que aquele é que era o estilo padrão e toda a gente deveria ser assim.
José Sócrates também nunca foi muito simpático consigo nas entrevistas que lhe deu. Sabe qual é a razão?
É por causa do meu marido. Há muito sectarismo e mesquinhice na política. Sou jornalista há 30 anos. Já era a Judite de Sousa antes de ser casada com Fernando Seara. Não admito que ponham em causa o meu profissionalismo e a minha independência por estar casada com um político.
O que a leva a pensar que a antipatia de Sócrates tenha a ver com o seu marido?
Nunca mo disse, mas alguns amigos dele do PS também estão intrigados. Na última entrevista que me deu foi mais simpático, mas fez um grande esforço. Conheço José Sócrates há muitos anos, entrevistei-o muitas vezes quando foi ministro do Ambiente. Na entrevista de Abril tive que lhe fazer perguntas difíceis mas necessárias sobre o 'caso Freeport'. Foi muito agressivo. Até fiquei um pouco zangada. Mas passou-me.
Há até quem ache, e na entrevista que refere as pessoas fizeram essa leitura, que José Sócrates fala consigo como se fosse seu patrão.
Senti que foi agressivo, mal educado, arrogante e toda a gente pensou isso. O Fernando Madrinha escreveu no Expresso que, se estivesse no meu lugar, se tinha levantado e ia embora. A única pessoa em Portugal que disse que eu fui mole com ele foi a Manuela Moura Guedes. Mas como nunca o entrevistou não sabemos como ela se comportaria.
Aconteceu alguma coisa entre o seu marido e o primeiro-ministro que tivesse levado a essa mudança?
Como nunca aconteceu nada entre nós, sou levada a crer que Sócrates deve ser daquele tipo de pessoas que emprenha pelos ouvidos. Quem gravita à sua volta, em São Bento, deve dizer-lhe assim: "aquela Judite de Sousa, casada com o Fernando Seara, que é do PSD, que derrotou a tua madrinha de casamento em Sintra..." (risos) Não encontro motivo ele para ser agressivo comigo e não o vejo a ser agressivo com mais nenhum jornalista.
O que pensa o seu marido sobre isso?
Diverte-se imenso. Há um mês entrevistei o António Costa e ele perguntou-me porque é que o primeiro-ministro embirra comigo. Disse-lhe que deve olhar para mim e ver um homem sem cabelo do PSD (risos). Costa riu-se imenso.
Se tivesse que entrevistar Fernando Seara para as autárquicas fá-lo-ia?
Recusava. O país não está preparado. Adorava um dia entrevistá-lo. Tenho a certeza que provavelmente seria a entrevista mais difícil da vida dele e provavelmente também a minha. Mas o país não ia perceber. Não podemos dar passos que se voltem contra nós.
Qual é a sua relação com Manuela Moura Guedes? Foram colegas na RTP.
Nenhuma.
E com José Eduardo Moniz? Moniz chegou a convidá-la para directora de informação da TVI.
Isso foi há dez anos. Não tenho nenhuma relação. No passado fui muito amiga da Manuela. A partir do momento em que foram para a TVI desencadearam uma relação de amigo-inimigo. Tenho muita consideração por colegas da TVI e da SIC. É uma estupidez que a guerra entre televisões contamine as relações pessoais. A Manuela e o Zé foram para a TVI, cada qual com problemas mal resolvidos com a RTP e aos quais eu sou completamente alheia. A Manuela constituiu na TVI um exército de fiéis, que pelos vistos agora abandonam o barco como se fossem ratinhos. A nossa relação de amizade, que era profunda, sólida e consistente, tinha a ver com as coisas fundamentais da vida. A partir de determinada altura, a Manuela dizia mal dos colegas em todas as entrevistas que dava, e dizia mal de mim. Diz que eu sou a entrevistadora do regime, mas o regime não acha isso de mim.
José Sócrates
"Tivemos sempre uma relação cordial. A partir do momento em que a minha relação com o meu marido se tornou oficial mudou de atitude. Sou levada a crer que Sócrates emprenha pelos ouvidos"
Francisco Louçã
"Se recuássemos dois ou três mil anos Louçã era o Cícero da Grécia Antiga. Joga bem na casa da democracia e nas entrevistas e debates"
Paulo Portas
"Talvez por saber como são os bastidores do jornalismo perdeu espontaneidade"
Manuela Ferreira Leite
"Peca pela autenticidade e às vezes é muito agressiva"
Jerónimo de Sousa
"É muito genuíno, muito afável. É uma das pessoas que gosto muito de entrevistar"
Cavaco Silva
"Soube utilizar a comunicação social a favor da sua carreira política. Quando perdeu as eleições para Jorge Sampaio geriu as intervenções e preparou meticulosamente o regresso"
Obama
"Faz o pleno. Fala bem, tem boa imagem, é genuíno. É o Cícero Contemporâneo"
Manuela Moura Guedes
"Diz mal de todos os colegas. Nunca entrevistou o primeiro-ministro. Se o fizesse, não sei como reagiria e se manteria o tom agressivo. Não me revejo no seu jornal. A minha escola de jornalismo não foi aquela. Os grandes nomes mundiais em que me revejo não têm aquele estilo"
Expresso
BUFFA General Aladeen- Pontos : 4887
Vitor mango- Pontos : 118184
Re: "José Sócrates é agressivo comigo por causa do meu marido" (Judite de Sousa)
José Sócrates
"Tivemos sempre uma relação cordial. A partir do momento em que a minha relação com o meu marido se tornou oficial mudou de atitude. Sou levada a crer que Sócrates emprenha pelos ouvidos"
Ao ler esta declaração, fiquei incrédulo!Então a D. Judite não mede o que diz? Qualquer pessoa levaria isto, não para a área política, mas para o campo sentimental! Será????????
Joao Ruiz- Pontos : 32035
Re: "José Sócrates é agressivo comigo por causa do meu marido" (Judite de Sousa)
realmente tem toda a razão, joão ruiz.
de há uns tempos, a esta parte, esta jornalista caíu do pedestal em ke a colokei quando assentou arraiais na RTP.
hoje kuase ke a detesto.
aqueles dentinhos ........ são insuportáveis.
por detrás do sorriso estão os dentes.... pois.
de há uns tempos, a esta parte, esta jornalista caíu do pedestal em ke a colokei quando assentou arraiais na RTP.
hoje kuase ke a detesto.
aqueles dentinhos ........ são insuportáveis.
por detrás do sorriso estão os dentes.... pois.
BUFFA General Aladeen- Pontos : 4887
Re: "José Sócrates é agressivo comigo por causa do meu marido" (Judite de Sousa)
Vitor mango escreveu:Gostei
Gostei da entrevista e nada tenho a ver com a judite ou com o marido a quem o Scolari largou uma boca ordinaria
E porque Gostei
Porque percebi um pouco do veu que esta por detras de cada entrevistador
Vitor mango- Pontos : 118184
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