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O 'musical sem música' que se estreou em Cannes

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O 'musical sem música' que se estreou em Cannes Empty O 'musical sem música' que se estreou em Cannes

Mensagem por LJSMN Qui Out 15, 2009 12:33 am

O 'musical sem música' que se estreou em Cannes


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'Morrer como Um Homem', de João Pedro Rodrigues, teve a sua estreia mundial em Maio deste ano, no Festival de Cannes. Conta a história de um travesti em final de carreira e estreia-se hoje em Portugal, depois de ter passado por outras mostras internacionais.

É difícil chegar a Morrer como Um Homem, a terceira longa-metragem de João Pedro Rodrigues, sem ideias pre- concebidas. Num primeiro momento havia o próprio título, e mais tarde o processo levantado por Carlos Castro, que acusou o realizador de plagiar o seu livro Ruth Bryden: Rainha da Noite, sobre o icónico travesti ("o tribunal já disse que ele não tinha razão," conta Rodrigues). Sabia-se então que o filme versava sobre um transformista, em fim de carreira, que decidia, literalmente, "morrer como um homem". Hoje, estreia-se em Portugal, depois de ter passado, em antestreia, no Queer Lisboa, e em festivais como Cannes, Toronto e Nova Iorque.

Para o realizador este reconhecimento internacional é importante. "Eu não faço filmes só para Portugal, faço filmes para o mundo. A participação nessas mostras revela que há vontade de ver os meus filmes lá fora, e que as pessoas começam a saber quem eu sou", explica o cineasta, que desde que se estreou com a curta Parabéns, leva os seus títulos aos festivais internacionais. E, apesar de nunca o ter sentido na primeira pessoa, concorda que muitas vezes "é preciso haver um reconhecimento lá fora para depois haver um reconhecimento cá dentro".

Voltemos ao filme propriamente dito. Começa com um soldado a morrer, e, de repente, uma aura marcial e militarista envolve o título: Morrer como Um Homem. "Quem pensa que vai ver um filme sobre a vida de um travesti, assiste ao início e pensa: 'afinal isto é um filme de guerra", brinca o realizador. Não é por acaso... "É uma espécie de falsa pista. Até porque aquele título pode ter vários significados. Mais à frente percebe-se porque é que o filme começou assim". E não é só a sequência inicial que poderá surpreender o espectador. "Jogámos sempre com esses equívocos", diz.

Esta vontade de lançar pistas contraditórias é transversal à obra do português, que se inspirou no final do seu anterior filme, Odete (2005), para criar essa "espécie de musical sem música" que é Morrer como Um Homem. "Nesse filme, uma rapariga era possuída por um rapaz", lembra. "Havia uma ideia de um género flutuante, de indefinição. Foi a partir daí que me comecei a interessar por este tema". Na altura, o realizador que já assistia a espectáculos de travesti desde os anos 80, não conhecia pessoalmente quase ninguém. "A pessoa que me deu os primeiros contactos foi a Jó Bernardo, foi ela quem me pôs em contacto com as primeiras pessoas. Depois fui conhecendo cada vez melhor o meio".

João Pedro não queria porém escrever sobre os espectáculos de travesti, mas antes sobre os respectivos bastidores, centrando-se "nas pessoas e na história que me foram contando". Partindo de histórias reais, o realizador quis evitar uma abordagem mais documental. "Há uma tendência para generalizar este filme como um retrato sociológico da transsexualidade ou do transformismo. Não o é", avisa. "O meu objectivo nunca foi ser realista. Eu parto, mais ou menos, de coisas realistas, mas o filme é muito onírico e mesmo fantasioso".

Este lado mais descolado da realidade é, de resto, comum à obra de João Pedro Rodrigues. Outra marca autoral é a utilização de não-actores nos seus filmes. Os vários transformistas, por exemplo, têm mesmo aquela profissão na vida real. É o caso de Tónia, o protagonista, interpretado por Fernando Santos, mais conhecido como Deborah Kristal. "A partir de um dado momento, a Tónia começou a ser feita a pensar no próprio Fernando, sem ele saber sequer disso", explicou o realizador. "Encontrámo-nos várias vezes, mas nunca lhe disse que estava a pensar nele até ao dia em que lhe dei a primeira versão do guião".

Em Morrer como Um Homem, no entanto, trabalhar com não-profissionais foi mais complicado que em títulos anteriores. "Foi difícil, porque eu nunca tinha estado numa situação deste género, com tantas personagens e com pessoas de proveniências diferentes e registos tão distintos. Era mais fácil pegar numa personagem ou duas, como nos filmes anteriores", confessa, sem se arrepender porém desta escolha.

DN

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