Compaixão pela dr.ª Manuela
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Compaixão pela dr.ª Manuela
Compaixão pela dr.ª Manuela
por Baptista Bastos
A falta de coincidência entre moral e política pertence ao breviário dos conhecimentos gerais. Porém, poucas vezes se assistiu a esta desgraça em que vivemos, e na qual o absurdo chegou ao ponto da alucinação. A partir deste momento parece que tudo é permitido. De há tempos a esta parte assistimos à lenta incineração da dr.ª Manuela Ferreira Leite, provocada pelos seus "companheiros." Querem correr com ela, porque já não faz falta, depois de a terem quase divinizado. As "distritais" do Porto, de Lisboa e de Faro não se calam na promoção das "directas"; e se este alarido não está, de forma alguma, associado à lucidez política, possui a marca indefectível de uma amarga indecência.
Notoriamente, a senhora não estava moldada para as peripécias em que se viu envolvida. O Pacheco Pereira, seu mentor e condestável, defendia o nada como única realidade, e outros apaniguados, na vã esperança de obterem uma qualquer mantença, foram-lhe no encalço, com jubiloso alvoroço.
Tem sido um triste espectáculo. O cerco e o esmagamento feitos à pobre senhora, por aqueles que, não há muito tempo, a incensavam, comportam algo de sórdido e de sinistro. E dão-nos a patética dimensão de uma pessoa que acabou por construir uma infelicidade pessoal, sem encontrar nenhum sucedâneo para se defender.
Seguindo os alvitres de um Rasputine com desmesurada ambição, a dr.ª Manuela procedeu a cisões e a exclusões que limitaram a duração do insensato projecto que defendia. É evidente que não procedeu à "unidade perdida", apenas pelo comovente facto de o PSD jamais ter sido um modelo de coesão. Dividir para governar não é aplicável a todos os momentos. O PSD é o que sempre foi: um agrupamento de interesses que se defende autonomamente, e que entre si se digladia para viver ou, melhor, para sobreviver. Seria, pois, desajuizado pensar-se que o PSD possui um desejo paradoxal de "unidade" quando tudo, nele, é absolutamente separável.
Este afã nas "directas" resulta dessa circunstância. Cortes de relações, cenas impróprias de gente rudimentarmente civilizada, ataques pessoais que, no fundo, constituem a negação de tudo - a confusão converteu-se em raiva. Pensam que correr com a dr.ª Manuela será a salvação. Engano. A avaliar pelos nomes que surgem na comunicação social nenhum deles configura uma regra de conduta, um destino, uma submissão sem reservas a um plano, a uma doutrina, a um projecto. Logo-assim um novo dirigente estar escolhido, e após breve trégua, os enredos, as intrigas, as conspirações, a insídia reanimar-se-ão.
A dr.ª Manuela Ferreira Leite suscita a minha compaixão porque se condenou a sofrer humilhações e vexames inomináveis. Mas a verdade é que essas violências, simbólicas e reais, ilustram a história do PSD.
por Baptista Bastos
A falta de coincidência entre moral e política pertence ao breviário dos conhecimentos gerais. Porém, poucas vezes se assistiu a esta desgraça em que vivemos, e na qual o absurdo chegou ao ponto da alucinação. A partir deste momento parece que tudo é permitido. De há tempos a esta parte assistimos à lenta incineração da dr.ª Manuela Ferreira Leite, provocada pelos seus "companheiros." Querem correr com ela, porque já não faz falta, depois de a terem quase divinizado. As "distritais" do Porto, de Lisboa e de Faro não se calam na promoção das "directas"; e se este alarido não está, de forma alguma, associado à lucidez política, possui a marca indefectível de uma amarga indecência.
Notoriamente, a senhora não estava moldada para as peripécias em que se viu envolvida. O Pacheco Pereira, seu mentor e condestável, defendia o nada como única realidade, e outros apaniguados, na vã esperança de obterem uma qualquer mantença, foram-lhe no encalço, com jubiloso alvoroço.
Tem sido um triste espectáculo. O cerco e o esmagamento feitos à pobre senhora, por aqueles que, não há muito tempo, a incensavam, comportam algo de sórdido e de sinistro. E dão-nos a patética dimensão de uma pessoa que acabou por construir uma infelicidade pessoal, sem encontrar nenhum sucedâneo para se defender.
Seguindo os alvitres de um Rasputine com desmesurada ambição, a dr.ª Manuela procedeu a cisões e a exclusões que limitaram a duração do insensato projecto que defendia. É evidente que não procedeu à "unidade perdida", apenas pelo comovente facto de o PSD jamais ter sido um modelo de coesão. Dividir para governar não é aplicável a todos os momentos. O PSD é o que sempre foi: um agrupamento de interesses que se defende autonomamente, e que entre si se digladia para viver ou, melhor, para sobreviver. Seria, pois, desajuizado pensar-se que o PSD possui um desejo paradoxal de "unidade" quando tudo, nele, é absolutamente separável.
Este afã nas "directas" resulta dessa circunstância. Cortes de relações, cenas impróprias de gente rudimentarmente civilizada, ataques pessoais que, no fundo, constituem a negação de tudo - a confusão converteu-se em raiva. Pensam que correr com a dr.ª Manuela será a salvação. Engano. A avaliar pelos nomes que surgem na comunicação social nenhum deles configura uma regra de conduta, um destino, uma submissão sem reservas a um plano, a uma doutrina, a um projecto. Logo-assim um novo dirigente estar escolhido, e após breve trégua, os enredos, as intrigas, as conspirações, a insídia reanimar-se-ão.
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