Vagueando na Notícia


Participe do fórum, é rápido e fácil

Vagueando na Notícia
Vagueando na Notícia
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

O contraditório mosaico feminino do Irã

Ir para baixo

O contraditório mosaico feminino do Irã Empty O contraditório mosaico feminino do Irã

Mensagem por Vitor mango Seg Dez 21, 2009 2:26 am

O contraditório mosaico feminino do Irã Imprimir E-mail
www.segs.com.br - Fonte ou Autoria é : Betânia Lins
20-Dez-2009

* Luis Eduardo Matta

(…) “A professora Mitra Rahmani, de 46 anos, entrou com seu carro, um vistoso Samand azul, no campus da Universidade Shahid Beheshti, na zona norte de Teerã (…).

Vestia um sóbrio conjunto de calça e blusão marrom de gabardina, que lhe cobria todo o corpo, e usava dois anéis de ouro, o metal das mulheres. A maquiagem era discreta: limitava-se a um batom muito leve, quase imperceptível, nos lábios. Ela ajeitou a enorme echarpe preta de seda grossa em torno do rosto, que adotara havia um bom tempo em substituição ao tradicional chador, deixando entrever algumas mechas dos brilhosos cabelos castanho-escuros (…). Levava nos braços duas pastas chatas com apostilas e programas de aula e um exemplar da revista feminina Zanan, além de dois livros, ambos edições francesas (…). Mitra sentou-se diante de um dos computadores conectados à rede e percorreu rapidamente alguns sites noticiosos iranianos a fim de saber notícias das eleições. A apuração parecia que entrara na reta final.

Neste trecho de “O véu” – meu sétimo livro, o primeiro lançado pela Primavera Editorial – somos apresentados a Mitra Rahmani, protagonista do núcleo iraniano, uma professora universitária, culta, independente, corajosa, autônoma e apaixonada por seu trabalho. Na obra, ela simboliza uma das muitas contradições que marcam o Irã contemporâneo. Desde a Revolução de 1979, quando a Sharia (a lei islâmica) passou a ser aplicada no país, as mulheres iranianas são obrigadas a cobrir a cabeça com um véu; seus depoimentos em um tribunal valem a metade do de um homem; são proibidas de exercer a magistratura; e as prostitutas e adúlteras podem ser punidas com o apedrejamento até a morte. Por outro lado, 60% das vagas nas universidades são ocupadas por mulheres, a força de trabalho feminina – que nos tempos pré-revolução não chegava a 15% do total –, atualmente gira em torno de 30%. As iranianas estão presentes em praticamente todas as atividades econômicas: na polícia, nos esportes, conduzindo ônibus nas ruas de Teerã, no parlamento e no poder executivo.

Recentemente, a ginecologista, professora universitária e ex-deputada Marzieh Vahid-Dastjerdi foi nomeada, pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, ministra da Saúde do novo governo eleito no polêmico pleito de junho de 2009. É a terceira mulher a ocupar um ministério na história do Irã. Durante a administração do presidente Mohammad Khatami (1997-2005), o país contou com uma vice-presidente, a cientista Masoumeh Ebtekar. Esssas são circunstâncias impensáveis em muitos dos países do Oriente Médio, como a Arábia Saudita, onde as mulheres não ocupam mais do que 5% do mercado de trabalho e são proibidas de votar, dirigir, andar de bicicleta e de manter contas individuais em bancos sauditas sem a autorização dos maridos.

No Irã contemporâneo existe uma crescente tomada de consciência por parte da sociedade, que visa abertura do regime, o abrandamento de regras, mais liberdade e igualdade; e as mulheres estão à frente desse movimento. Organizadas, politizadas e instruídas, elas constituem o principal agente de mudanças no país e têm atuado em várias frentes. Não apenas nos protestos, onde tomam cada vez mais parte, como, principalmente, em pequenas, porém significativas transgressões do dia a dia, como deixar partes do cabelo à mostra, vestir roupas coloridas, maquiar-se, comunicar-se com o mundo via internet e se misturar livremente a rapazes em festas clandestinas que costumam varar noites – embaladas por ritmos ocidentais, álcool e muita sensualidade. Assim, elas vão ocupando cada vez mais espaço na sociedade e, com isso, minando aos poucos os alicerces da República Islâmica, desafiando sua ideologia e fazendo com que a opressão perca sua legitimidade e sua própria razão de existir.

Luis Eduardo Matta

Considerado uma das vozes mais criativas e originais da nova literatura nacional, Luis Eduardo Matta nasceu no Rio de Janeiro, em 1974, cidade onde atualmente reside. De origem libanesa católica parte de pai, Luis Eduardo Matta passou a infância e a adolescência entre o bairro carioca de Copacabana e uma chácara em Maricá, no interior do Estado do Rio de Janeiro. Desde 1990 se dedica a estudos sobre política internacional com foco no Oriente Médio. Um dos pioneiros e principais nomes do thriller não-policial no Brasil, iniciou sua carreira literária em 1993, aos 18 anos, com o romance Conexão Beirute-Teeran (Editora Chamaeleon), prefaciado pelo embaixador e intelectual libanês Mansour Challita, um dos maiores especialistas em Oriente Médio no Brasil, de quem Matta foi grande amigo.

Sua produção intensificou-se a partir dos anos 2000, com a publicação de outros thrillers, como Ira implacável (Razão Cultural Editora) e “120 horas” (Editora Planeta). Em 2007, estreou na literatura juvenil, publicando Morte no colégio, pela Coleção Vaga-Lume e Roubo no Paço Imperial e O rubi do Planalto Central pela Coleção Olho no Lance, ambas da Editora Ática. Como contista, participou das antologias de literatura fantástica Território V: Vampiros em guerra e Dimensões.BR. A ficção de Luis Eduardo Matta é caracterizada pelas tramas de mistério e suspense muito elaboradas, pela linguagem clara e elegante, pela precisão histórica e geográfica e por uma leitura diferenciada do gênero “thriller”. Com um forte perfil multicuturalista, as obras de Matta são ambientadas em diferentes países com interação entre personagens brasileiros e de outras nacionalidades, principalmente árabes, israelenses, iranianos, hispanos-americanos e naturais da chamada Europa Latina.

Em 2003, inspirado nas idéias do crítico literário paulista José Paulo Paes expostas no livro A aventura literária, Luis Eduardo Matta publicou um manifesto em prol de uma literatura de entretenimento brasileira, que apelidou de literatura popular brasileira (LPB). Nos vários ensaios que escreveu destaca-se, ainda, a defesa contundente de uma reformulação no ensino de literatura no Brasil e da democratização da leitura entre a população brasileira. O escritor mora no Rio de Janeiro. A gradativa consolidação da carreira literária de Luis Eduardo Matta tem materializado o sonho do autor: ver surgir um thriller genuinamente brasileiro. Com abordagem contemporânea e estilo ágil, sutil e refinado, Matta confere ao thriller uma fisionomia brasileira sem despojá-lo das características fundamentais do gênero universal.

Mais informações sobre o autor podem ser obtidas na entrevista concedida ao blog da Primavera Editorial. Link: http://aprimaveraeditorial.wordpress.com/2009/09/21/385/. O endereço do site do autor é www.lematta.com
Vitor mango
Vitor mango

Pontos : 117530

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos