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Mensagem por Vitor mango Ter Ago 19, 2008 6:41 am

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Quando liguei o televisor, a SIC Notícias transmitia em directo imagens históricas: no limiar da porta de um banco, um homem e uma mulher eram usados como escudos, com armas apontadas ao pescoço e à cabeça. À volta, no escuro da noite, viam-se carros e carrinhas da Polícia, ambulâncias e dezenas de agentes de capacetes na cabeça e armas aperradas. Parecia o cenário de um filme americano. Com a vantagem de se perceber que era real.
Subitamente, porém, o pivô de serviço disse que as imagens eram «constrangedoras» – e que por isso a transmissão ia ser interrompida. Liguei avidamente para o outro canal de notícias nacional: a RTPN. Esta continuava a transmitir em directo do local. Mas passados uns minutos o pivô afirmou que se estava num «impasse» – e que iam mudar de tema. Voltei à SIC Notícias, na esperança de que os responsáveis tivessem caído em si, retomando a transmissão dos acontecimentos que mantinham o país inteiro em suspenso. E não me enganei. Mais: já não era só a SIC Notícias mas também a SIC generalista que emitiam imagens em directo e em simultâneo. Alguém tinha posto ordem na casa.

Fiquei preso ao televisor até ao desfecho. E constatei mais uma vez que é no directo que a televisão atinge o seu máximo esplendor.
Trabalhei na RTP entre 1977 e 1980 – e uma das coisas de que me apercebi foi da força e importância do directo em TV. Com a invenção do directo, pela primeira vez na história da Humanidade as pessoas puderam passar a assistir em tempo real a acontecimentos ocorridos à distância.
No directo não há hipótese de reescrever a realidade, de a remontar, de a retocar. Não se podem emendar os erros. Mas, até por isso, o directo tem uma pujança inigualável. Tem a força da verdade.
O tema do directo em TV tocou-me tanto que escrevi sobre ele um longo texto – que a RTP publicaria mais tarde sob a forma de opúsculo.

O directo em televisão atingiu o cume da emoção e da crueza informativa na transmissão do ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque. Como, após o choque do primeiro avião contra uma das torres, os canais de televisão começaram a transmitir ininterruptamente do local, pudemos assistir àquele terrível acontecimento exactamente ao mesmo tempo que as coisas iam sucedendo: vimos o segundo avião aproximar-se da outra torre e chocar contra ela, vimos as duas torres ruir. Foram momentos inesquecíveis.
Na quinta-feira da semana passada, quando a SIC Notícias interrompeu a emissão, fiquei estupefacto: como é possível? Como é possível interromper uma transmissão em directo com esta força noticiosa e esta carga humana? Era como se, a meio do directo do 11 de Setembro, o pivô de um canal dissesse: não transmitimos mais, porque as imagens são demasiado chocantes.

Penso que, com o avanço do ‘politicamente correcto à portuguesa’, começamos a confundir tudo.
Considero altamente condenável um certo tipo de jornalismo que não respeita as pessoas, que explora a desgraça, que não hesita em lançar lama sobre os cidadãos para fazer uma boa manchete, que viola a privacidade, que não deixa as pessoas em paz. Todos vimos o que aconteceu recentemente, por exemplo, no caso Maddie, com as cambalhotas da informação, as suspeitas lançadas sem fundamento, a exploração do tema à saciedade com o único objectivo de fazer crescer audiências ou vender jornais.
Mas uma coisa é explorar a desgraça (ou manipular a informação) e outra é fugir da notícia, não perceber quando se tem em mãos um material único, imagens que vão correr mundo – porque é a própria ficção transformada em realidade.
Aquelas imagens do assalto ao banco significavam o directo no seu apogeu. Dificilmente no tempo das nossas vidas os canais portugueses voltarão a ter imagens com a mesma força.

A razão apontada pela RTPN para suspender a transmissão, dizendo que se estava num «impasse», foi ainda mais extraordinária. Com a tensão que se vivia, a qualquer momento os acontecimentos podiam precipitar-se – como precipitaram. A única atitude possível era, portanto, manter as imagens no ar. Aguentar o directo. Não havia outra forma de dar a notícia e transmitir o acontecimento em tempo real. Ao abandonar o local, o canal de notícias voltou costas à notícia.
Cabe aqui uma palavra à ERC, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, cujo presidente elogiou o trabalho das televisões por usarem planos afastados e imagens desfocadas.
Lamento dizer, mas a ERC – que se tornou uma espécie de ASAE da comunicação social – está cada vez mais longe da realidade. Se fosse a ERC a mandar, nunca se teriam transmitido imagens do Holocausto, dos homens esqueléticos nos campos de concentração nazis, dos montes de cadáveres, das valas comuns.
E algumas das grandes fotografias do património da Humanidade não teriam sido publicadas. Recordo um oficial vietnamita a executar um guerrilheiro vietcong com um tiro na cabeça. A foto é do momento do disparo, vendo-se o esgar de sofrimento e o pavor da vítima. Ninguém tapou o rosto do executado ou do executor – com o que a foto perderia nove décimos do valor.
Recordo ainda crianças (uma das quais nua) a fugir numa estrada a uma explosão de napalm. As crianças aparecem de frente para a câmara e ninguém lhes tapou o rosto. Se isso tivesse acontecido, toda a carga dramática da imagem teria desaparecido. Ambas as fotos ganharam o prémio da World Press Photo, que não consta ser uma instituição sensacionalista.

A questão é esta: não deve explorar-se gratuitamente a miséria ou a desgraça. É altamente condenável fazê-lo. Mas também não é boa prática esconder a realidade, camuflá-la. «Sob a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia» – escreveu criticamente Eça.
E não deve esconder-se a realidade, até por uma razão: porque é pedagógica. A imagem da execução do vietcong (que foi objecto de reservas sobre os métodos usados para a conseguir, mas isso é outra história), provocou-me logo em jovem um violentíssimo sentimento de repulsa, prevenindo-me contra o horror das execuções sumárias.
As imagens do Holocausto levaram-me a reflectir sobre os malefícios do fanatismo ideológico, das movimentações cegas de massas, da concentração de poder no Estado.
A imagem do napalm alertou-me para a monstruosidade dos bombardeamentos indiscriminados.

Com o devido respeito, a decisão de interromper as transmissões de TV no dia do sequestro ao banco só pode ter resultado de uma grande confusão. E os elogios da ERC mostram que ainda está para perceber o que é informação.
Já agora: não seria útil dar umas aulas de Português a alguns pivôs? Cito uma frase dita por um deles naquela noite: «Os dois assaltantes foram abatidos, mas desconhece-se o seu estado de saúde». Importa-se de repetir?

P. S. - Disse-se, de uma forma generalizada, que a operação policial foi um êxito. É certo que os atiradores da PSP mostraram uma pontaria exímia. Mas uma acção que acaba com mortes não pode considerar-se um êxito. Mesmo que os mortos sejam assaltantes de bancos.
Vitor mango
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Mensagem por Vitor mango Ter Ago 19, 2008 6:44 am

Amigo saraiva do SOl
Nao concordo consigo
nem um pouco
Porque tive uma experiencia no Brasil altamente negativaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Havia directos em tudo que era sangue
Tudo era espetaculo
Felizmente Portugal nao gosta de sangue
Porra Saraiva ate as touradas a picar o touro a gente devia banir
Nao vamos levantar fantasias para os loucos

e

No programa ( sangue diario de 60 minutos ...
Porque matou a sua familia toda ?
respondeu o tipo
So queria matar a minha sogra ...e quizeram-se meter á frente .....kaloi é o problema ?
Vitor mango
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Mensagem por Vitor mango Ter Ago 19, 2008 6:46 am

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