Decretado recolher obrigatório na cidade de Concepción

Decretado recolher obrigatório na cidade de Concepción

por DN.pt, com Lusa e AFP
Hoje


Foi decretado recolher obrigatório na cidade chilena mais afectada pelo sismo de magnitude 8,8 que assolou o país no sábado e fez mais de 700 vítimas mortais. Em Concepción há 48 pessoas presas nos escombros de um edifício que equipas de socorro tentam resgatar.

Concepción, situada mais de 400 quilómetros a sul de Santiago, foi uma das regiões mais afectadas pelo violento sismo que assolou o Chile no passado sábado e provocou pelo menos 711 mortos, de acordo com o mais recente balanço divulgado pelas autoridades.

Na noite de domingo, foi imposto em Concepción o regime de recolher obrigatório. A área metropolitana de Concepción é a segunda mais populosa do Chile, com cerca de 900 mil habitantes, e foi a mais afectada pelo sismo do passado sábado. Ontem, um grande supermercado da cidade foi alvo de pilhagens e a polícia teve de intervir com gás lacrimogéneo.

"Estado de excepção" para as regiões mais afectadas

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, decretou ainda "o estado de excepção" nas duas regiões mais afectadas pelo sismo - Maule e Biobio -, que significa a suspensão das liberdades constitucionais e continuará em vigor durante trinta dias com o objectivo de "garantir a ordem pública e acelerar a distribuição de ajuda".

O presidente-eleito do Chile, Sebastián Piñera, declarou que, devido ao sismo, a situação do país está "complicada" no que diz respeito à ordem pública, o que justifica a intervenção do exército para apoiar as operações em curso.

"Com uma catástrofe desta amplitude, sem água nem electricidade, a população está legitimamente angustiada, e perde o sentido da ordem pública", disse à imprensa o presidente-eleito, que será investido no próximo dia 11 de Março, sucedendo à presidente Michelle Bachelet.

"Por este motivo, é preciso recorrer a todos os recursos, e as nossas forças armadas estão preparadas para contribuir em tempo de crise e catástrofe", acrescentou Piñera.

48 pessoas vivas presas nos escombros de um edifício

Quarenta e oito pessoas ainda estão presas nos escombros de um edifício de 14 andares que ruiu sábado em Concepción, disse um bombeiro à France Presse.

"Haverá cerca de 48 pessoas presumivelmente vivas", declarou Ignacio Carrizo, chefe de uma das equipas de socorro.

Na altura do sismo, com uma magnitude de 8,8 na escala de Richter, estavam mais de 100 pessoas no edifício e até agora foram retirados oito mortos do local, segundo a mesma fonte.

Alguns moradores conseguiram sair pelos seus próprios meios e outros foram ajudados pelos bombeiros.

No local, estão equipas especializadas com cães a trabalhar sob o olhar e o encorajamento de dezenas de curiosos.

"Vamos continuar a trabalhar intensamente até conseguirmos salvar as pessoas", afirmou um outro bombeiro, Francisco Contreras.

Americanos estimam 15 a 30 milhões em danos

Os danos causados no Chile pelo forte sismo que abalou o país no sábado podem ascender a um montante entre 15 e 30 mil milhões de dólares, segundo os cálculos da sociedade norte-americana EQECAT, especializada em riscos devido a catástrofes.

A firma considera que o custo pode ser equivalente a 10 a 15 por cento do produto interno bruto (PIB) chileno.

Mais de metade dos prejuízos registados está concentrada na região da capital, Santiago, uma zona muito urbanizada.

Apesar de o sismo com uma magnitude de 8,8 ter provocado mais de 700 mortos, o facto de o Chile ter adoptado e concretizado normas de construção antissísmica "diminuiu o potencial de destruição", nota a EQECAT.

Sismo foi 700 a 800 vezes mais forte que o do Haiti

O sismo registado sábado na costa chilena teve a mesma magnitude do quinto mais forte jamais registado e superou o de Lisboa, em 1755, numa lista liderada precisamente pelo Chile, onde convergem duas placas tectónicas.

Com uma magnitude de 8.8 na escala de Richter, o sismo de sábado provocou pelo menos 711 mortos e também é o quinto mais forte desde 1900.

O sismo que atingiu o Chile foi ainda 700 a 800 vezes mais forte que o do Haiti, em Janeiro, de 7,0 graus. E tem uma dimesões histórica: é dos maiores de sempre. "Por cada grau de magnitude, a energia libertada multiplica-se por 30", explicou ao DN Luís Matias, professor do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa. A energia libertada terá sido de cem milhões de toneladas. A bomba nuclear que dizimou Hiroxima tinha apenas seis.





In DN

Governo pede ajuda internacional após catástrofe

por Lusa
Hoje


O balanço do sismo de sábado no Chile subiu hoje para 711 mortos, segundo uma nova estimativa do gabinete nacional de emergência, divulgada no dia em que o governo chileno pediu oficialmente ajuda internacional.

"O número atualizado é de 711 mortos", disse à imprensa a diretora daquele gabinete, Cármen Fernandez.

A presidente chilena, Michelle Bachelet, anunciou domingo um balanço de 708 mortos, mas advertiu que ele ia certamente aumentar dado o "número crescente de desaparecidos".

Ao todo, cerca de dois milhões de pessoas foram afetadas pelo sismo, o que corresponde a um em cada oito chilenos.

A diretora do gabinete aconselhou prudência às pessoas que voltaram hoje ao trabalho, alertando para o risco de queda de vidros ou mobiliário e de fugas de gás nos edifícios danificados.

O governo chileno pediu entretanto hoje oficialmente ajuda internacional para o país para fazer face aos danos provocados pelo sismo de 8,8 graus na escala aberta de Richter.

A porta-voz do Gabinete de coordenação de assuntos humanitários da ONU (OCHA), Elisabeth Byrs, disse à imprensa que "o governo (chileno) pediu ajuda internacional" e "forneceu uma lista com as prioridades".

Byrs acrescentou que a ONU está agora "pronta para agir" e vai começar a enviar a ajuda rapidamente. "Estamos preparados para dar assistência. Pode ser muito rápido, porque os peritos estão de prevenção".

O governo chileno definiu como prioridades da ajuda pontes temporárias, hospitais de campanha, telefones satélite, geradores eléctricos, equipas de avaliação de danos, sistemas de purificação de água, cozinhas de campanha e centros de diálise, segundo a porta-voz.

Dois dias depois do sismo, duas regiões do país foram colocadas em "estado de excepção", Maule e Bio Bio. A capital desta, Concepción, uma cidade com meio milhão de habitantes a cerca de 400 quilómetros a sul da capital, está sob recolher obrigatório para evitar novas pilhagens.

Responsáveis da ONU e da Cruz Vermelha indicaram que a magnitude da destruição provocada pelo sismo se mantém imprecisa, sublinhando que as réplicas são um risco permanente e que há várias "áreas silenciosas" que continuam sem contacto com o mundo exterior.

In DN

Tanques voltam às ruas agora para manter ordem

por LUMENA RAPOSO
Hoje


Três dias após o violento sismo que atingiu o Centro e Sul do país - e a nove dias da tomada de posse do novo Chefe do Estado, Sebastián Piñera -, o número de vítimas continua a aumentar, ultrapassando já a fasquia das 700. No terreno, pela primeira vez em 37 anos, os militares patrulham as artérias das cidades para impedir mais pilhagens.

Trinta e sete anos após o golpe que derrubou o presidente socialista Salvador Allende, os militares regressam às ruas do Chile. Desta vez, não se trata de um golpe de Estado mas de impedir os saques e manter a ordem pública. Principalmente em Concepción, a segunda cidade do país e uma das mais afectadas pelo sismo de magnitude 8,8 na escala de Richter que abalou o Chile na madrugada de sábado.

Um total de dez mil militares - acompanhados por polícias - procurou fazer cumprir, na noite de domingo para ontem, o recolher obrigatório que a Presidente Michelle Bachelet decretara horas antes. Em Concepción, ainda mergulhada na escuridão porque privada de electricidade, uma pessoa foi mortalmente alvejada em situações não esclarecidas e outras 160 foram interpeladas pelas forças de segurança e passaram a noite detidas.

Patricio Rosendo, vice-ministro do Interior, afirmou que tinha havido "tiros e que os efectivos da polícia tomaram conta da zona". E adiantou: "Houve um morto, mas não se verificaram pilhagens em áreas comerciais nem em residências privadas." Porém, para Rosendo não existe qualquer ligação entre os tiros que foram ouvidos e a pessoa que foi encontrada morta. Uma posição reforçada pelo prefeito da região, Jaime Toha. Na opinião deste responsável, a pessoa foi morta em circunstâncias relevando de um "incidente". Os media chilenos avançam, por seu turno, que as primeiras indicações do inquérito sugerem que a vítima foi morta em Chiguayante, um grande bairro de Concepción, durante um confronto entre duas pessoas num momento de pilhagem.

E enquanto os militares e a polícia fazem cumprir o recolher obrigatório - o primeiro desde a ditadura militar de Augusto Pinochet (1973--1990) - que, por isso mesmo, Bachelet teve alguma relutância em decretar, continua a fazer-se o balanço das vítimas mortais de um dos mais violentos sismos que atingiram o Chile. "Os números actualizados são de 723 mortos", disse ontem a directora do Gabinete Nacional de Urgências (Onemi), Carmen Fernandez.

As regiões de Bío Bío e Maule, no Sul do país, são as mais afectadas e onde se registou, para já, o maior número de mortos: 541. Um número que deverá aumentar, tendo em conta que cidades costeiras como Talcahuano, Penco e Dichato foram praticamente erradicadas do mapa por vagas de seis metros de altura.

Foi tendo em conta essas circunstâncias que o Chile, onde dois milhões de pessoas precisam de assistência e que conta com prejuízos de 30 mil milhões de dólares, pediu ajuda internacional.

In DN