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para as tias lerem about o0 nosso king Afonso

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Mensagem por Vitor mango Qui Abr 15, 2010 10:22 am

..Ninguém merece mais este título que o infante Afonso Henriques, filho de dona Teresa, bastarda do rei Afonso VI de Leão e Castela, e do conde Henrique de Borgonha. Pouca gente sabe. Mas, graças à esperteza política de Afonso Henriques, Portugal é a primeira nação européia a se estabelecer como Estado independente. Antes do ano 1200, Portugal já é Portugal. Com direito, inclusive, a língua própria: o galaico-português.

Gênio, estadista, raposa política, vitorioso, implacável, espertíssimo: Afonso constrói uma história rocambolesca. Tudo que pode manipular a seu favor, manipula sem escrúpulos. Inicia a trajetória de vitórias fundando um reino. Para tanto, manda mamãe para o espaço sem sequer dizer adeus. Naquele tempo, porém, ninguém cogita a possibilidade de Portugal ser conseqüência de um Complexo de Édipo mal resolvido. Até porque, Freud ainda não pensa em nascer.

O avô de Afonso Henriques destaca-se como um dos homens mais poderosos de sua época. Amigo pessoal de Santo Hugo - que não sabe que será santo, mas já constrói a Abadia de Cluny, o maior templo que a cristandade jamais erguera - , Afonso VI tira do bolso, ou dos cofres públicos, grande parte dos recursos que financiam o sonho de Hugo. Bem relacionado com os outros reis cristãos, influente, excelente jogo de cintura, Afonso VI, entre uma e outra doação a Cluny, consegue casar sua bastarda com um dos condes de Borgonha - família finíssima, não é assim, toda hora, que um Borgonha se mistura à gente mal nascida.

Mas Afonso VI embrulha a oferta para presente: Henrique leva Teresa e, de quebra, o Condado Portucalense, terras a oeste de Castela que, há tempos ensaia a gracinha de viver por conta própria. Afonso VI, sabendo das estrepolias portucalenses, resolve matar dois coelhos com uma cajadada só. Em 1092, reúne as duas unidades condais da região – ao norte e ao sul do rio Douro – e determina que o novo e único condado pertencerá à Teresa – e ao marido dela, claro. Urraca, a filha legítima, sentará no trono de Leão e Castela, como ensinam as regras da moral e dos bons costumes.

Mais do que bom e preocupado papai, Afonso VI tenta ampliar seu poder e garantir domínio sobre maior extensão de terras. Tiro pela culatra. Tão logo o rei de Leão e Castela mete o bedelho no Condado Portucalense, a nobreza local inicia forte movimento separatista.

Coitado de Henrique de Borgonha, estrepa-se nesta história. Além de gerar a genialidade de Afonso Henriques, pouco lucra com o casamento. Fica zanzando em Portucale, tentando ajudar ao filho. Mas o rebento é rebelde e dispensa-lhe os palpites. Dom Henrique, francês chiquérrimo, se aborrece. Assusta-o a idéia de passar para a posteridade qual simples reprodutor. Mas a culpa é do sogro. Afonso VI, ao engendrar a novela, comete um de seus poucos erros políticos: não leva em conta nem o bairrismo do Condado Portucalense, nem a possibilidade de alguém armar uma falseta.




“...um poder mais alto se alevanta...”

(Camões, Os Lusíadas)
Afonso Henriques, ele mesmo, sagra-se cavaleiro. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.















Arma – quem é avô de estadista, deve tomar precauções. Afonso Henriques tem 20 anos quando Afonso VI morre. Se famílias se estraçalham pela baixela de prata da vovó, imaginem quando o motivo é o poder de uma coroa. Desentendem-se todos. Urraca discute com o Bispo de Compostela, atrita-se com rei de Aragão, cospe desaforos para o conde da Galícia, faz e acontece. Acometida de olho-grande, síndroma que costuma atacar herdeiros menos favorecidos, Teresa desanda a arquitetar alianças desastrosas – quem sai aos seus, não degenera.

De repente, Teresa dá o passo fatal. Arquitetando anexar Portucale à Galícia, alia-se aos galegos, tradicionais rivais dos barões de Portucale.

É desconhecer o filho, menino que emite sinais de seu gênio – no bom e no mau sentido - aos 13 anos. Nesta idade, na cerimônia em que o sagram cavaleiro, na catedral de Zamora, Afonso Henriques manda às favas o bispo e ele mesmo sagra-se. Recusa a mediação divina. Igualzinho Napoleão, alguns séculos mais tarde – pena o infante não falar francês, língua dos sofisticados, nenhum compêndio de história esqueceria tal feito.

Dizem, não há provas documentais, que o avô fica orgulhosíssimo com a petulância do fedelho - é pena que tanto talento evapore em Portugal, comenta Afonso VI. Fofoca, naturalmente. Portugal e Espanha cultivam uma antipatia milenar, todo mundo sabe e não perde ocasião de jogar lenha na fogueira.

Enfim, com tal filho nas mãos, dona Teresa, além de se aliar aos galegos, aparece com outro conde debaixo de braço, contando uma história trôpega de “apoio político”. Arma-se o circo. Com 21 anos, Afonso Henriques cerca Guimarães e declara uma briga de gafieira: quem está fora, não entra; quem está dentro, não sai. Nem mamãe, suposta rainha do condado.

É bom que se diga: igual ao avô, o infante não dá ponto sem nó. Fareja que, com poucas chances na linha sucessória de Leão e Castela, precisa descobrir o próprio espaço. Quer o poder, seu lugar é no condado materno.
Tudo aponta para o fato de que o infante apenas capitaliza o desagrado da nobreza portucalense. Desagrado que se acentua quando Teresa enfia os galegos no caldeirão. O esperto Afonso Henriques já andava observando que, além do anseio de se libertar de Castela, as cidades de Portucale identificam-se cultural e ideologicamente. Para ele, não parece tarefa difícil transformá-las em uma só força política. Teresa apenas fornece a justificativa para o infante virar a mesa.




“Eu tenho apenas duas mãos,
E o sentimento do mundo...”

(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo)

Conde D. henrique de Borgonha (in catedral de Santiago de Compostela).
Vitor mango
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