Tragédia invisível Lucas Mendes De Nova York para a BBC Brasil
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Tragédia invisível Lucas Mendes De Nova York para a BBC Brasil
Tragédia invisível
Lucas Mendes
De Nova York para a BBC Brasil
Há sete anos, no 11 de setembro, esta coluna fazia sua reestréia na BBC, e foi para o lixo, onde pertencia. Era sobre Michael Bloomberg, um candidato com experiência política zero, que disputava as primárias para a prefeitura de Nova York.
Às 8h46, um avião entrou numa das Torres Gêmeas, outro chegou às 9h03, e, em menos de duas horas, as duas estavam no chão e o país mergulhado numa das maiores crises da sua história.
Sete anos depois, o buraco continua lá, tapado, cercado, mas nada foi reconstruído. Os políticos municipais e estaduais brigam sobre a culpa da paralisia. O prefeito sem experiência política – uma boa lembrança para esta campanha com dois inexperientes - se revelou um dos melhores da história de Nova York, quer assumir o controle da reconstrução, mas o governador e outras forças locais criam obstáculos.
Enquanto isto, os dois candidatos à Presidência passaram o dia de ontem brigando sobre batom no focinho do porco. Obama, se referindo às propostas de McCain, disse que eram as mesmas de George W. Bush e que não adiantava colocar batom no focinho do porco e mudar o nome do bicho porque continua sendo um porco.
A eficiente máquina de lama republicana transformou a metáfora numa referência machista e o dia inteiro foi dedicado ao fascinante focinho. Obama perdeu seu dia – e mais pontos nas pesquisas - com desmentidos e acusações.
Não só McCain usou a imagem para se referir às propostas de Hillary Clinton, como dezenas de outros políticos americanos usaram a mesma expressão nos últimos dez anos. As tevês cavaram seus arquivos e mostraram toda porcaria política, mas nos telejornais nacionais, nenhuma referência ao dia seguinte, 11 de setembro.
Existe algum problema maior nos Estados Unidos do que impedir que os terroristas detonem uma bomba nuclear em Nova York ou Washington? Qual dos dois candidatos é o mais competente para evitar que isto aconteça e, ao mesmo tempo, tranqüilizar a população, consertar a economia e fazer as pazes com o mundo?
Desde 2001 os americanos não só deixaram de reconstruir a área destruída como não construíram nada importante além de tecnologia ligada à segurança nacional. Pegam cortadores de unha e de charutos nos aeroportos, mas os portos e as fronteiras do país são mais furados do que queijo suíço.
E viva os suíços e os europeus! Noutros tempos, o superacelerador de partículas atômicas teria sido construído nos Estados Unidos, mas aqui estamos encalacrados no debate sobre versões religiosas da criação do mundo versus o evolucionismo, furar ou não o Alasca e a costa em busca de petróleo, o sucesso da pacificação do Iraque com o aumento das tropas.
O New York Times despachou um repórter para vários países do Oriente Médio para apurar o que andam dizendo sobre o 11 de setembro. Ele mandou de volta tudo de velho: nos bares e nas faculdades árabes, a destruição das torres foi obra dos próprios americanos e judeus.
Não precisava ir ao Oriente Médio. Na Europa há uma fartura ainda melhor de teorias paranóicas e a safra americana não fica muito atrás. Há centenas de blogs exigindo a verdade sobre o 11 de setembro.
O cineasta brazuca-americano Antônio Campos, por acaso, meu filho, fez um filme excelente - After School - e muito elogiado no festival de Cannes, agora em festivais na França, Grécia, Dinamarca e Nova York. Gira em torno de duas gêmeas ricas que morrem de excesso de drogas na faculdade. O filme é uma crítica aos excessos e à alienação da juventude e dos adultos na sociedade de consumo.
Antônio concebeu o filme como uma alegoria à destruição das torres, que bateu muito fundo nele. Além do impacto político-existencial, o pai de um de seus melhores amigos morreu numa delas.
Até hoje nenhum crítico fez a conexão entre as mortes das gêmeas e a destruição das torres.
Esta tragédia brutal está atrás de nós, em volta de nós, na nossa frente, e não conseguimos enxergá-la.
Lucas Mendes
De Nova York para a BBC Brasil
Há sete anos, no 11 de setembro, esta coluna fazia sua reestréia na BBC, e foi para o lixo, onde pertencia. Era sobre Michael Bloomberg, um candidato com experiência política zero, que disputava as primárias para a prefeitura de Nova York.
Às 8h46, um avião entrou numa das Torres Gêmeas, outro chegou às 9h03, e, em menos de duas horas, as duas estavam no chão e o país mergulhado numa das maiores crises da sua história.
Sete anos depois, o buraco continua lá, tapado, cercado, mas nada foi reconstruído. Os políticos municipais e estaduais brigam sobre a culpa da paralisia. O prefeito sem experiência política – uma boa lembrança para esta campanha com dois inexperientes - se revelou um dos melhores da história de Nova York, quer assumir o controle da reconstrução, mas o governador e outras forças locais criam obstáculos.
Enquanto isto, os dois candidatos à Presidência passaram o dia de ontem brigando sobre batom no focinho do porco. Obama, se referindo às propostas de McCain, disse que eram as mesmas de George W. Bush e que não adiantava colocar batom no focinho do porco e mudar o nome do bicho porque continua sendo um porco.
A eficiente máquina de lama republicana transformou a metáfora numa referência machista e o dia inteiro foi dedicado ao fascinante focinho. Obama perdeu seu dia – e mais pontos nas pesquisas - com desmentidos e acusações.
Não só McCain usou a imagem para se referir às propostas de Hillary Clinton, como dezenas de outros políticos americanos usaram a mesma expressão nos últimos dez anos. As tevês cavaram seus arquivos e mostraram toda porcaria política, mas nos telejornais nacionais, nenhuma referência ao dia seguinte, 11 de setembro.
Existe algum problema maior nos Estados Unidos do que impedir que os terroristas detonem uma bomba nuclear em Nova York ou Washington? Qual dos dois candidatos é o mais competente para evitar que isto aconteça e, ao mesmo tempo, tranqüilizar a população, consertar a economia e fazer as pazes com o mundo?
Desde 2001 os americanos não só deixaram de reconstruir a área destruída como não construíram nada importante além de tecnologia ligada à segurança nacional. Pegam cortadores de unha e de charutos nos aeroportos, mas os portos e as fronteiras do país são mais furados do que queijo suíço.
E viva os suíços e os europeus! Noutros tempos, o superacelerador de partículas atômicas teria sido construído nos Estados Unidos, mas aqui estamos encalacrados no debate sobre versões religiosas da criação do mundo versus o evolucionismo, furar ou não o Alasca e a costa em busca de petróleo, o sucesso da pacificação do Iraque com o aumento das tropas.
O New York Times despachou um repórter para vários países do Oriente Médio para apurar o que andam dizendo sobre o 11 de setembro. Ele mandou de volta tudo de velho: nos bares e nas faculdades árabes, a destruição das torres foi obra dos próprios americanos e judeus.
Não precisava ir ao Oriente Médio. Na Europa há uma fartura ainda melhor de teorias paranóicas e a safra americana não fica muito atrás. Há centenas de blogs exigindo a verdade sobre o 11 de setembro.
O cineasta brazuca-americano Antônio Campos, por acaso, meu filho, fez um filme excelente - After School - e muito elogiado no festival de Cannes, agora em festivais na França, Grécia, Dinamarca e Nova York. Gira em torno de duas gêmeas ricas que morrem de excesso de drogas na faculdade. O filme é uma crítica aos excessos e à alienação da juventude e dos adultos na sociedade de consumo.
Antônio concebeu o filme como uma alegoria à destruição das torres, que bateu muito fundo nele. Além do impacto político-existencial, o pai de um de seus melhores amigos morreu numa delas.
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oS DESTAQUES SÃO MEUS
dEIXEI o porco e o Baton para V. Exas se besuntarem
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