Perdi uma caixa de charutos
Vagueando na Notícia :: Salas das mesas de grandes debates de noticias :: Professor Dr e mister Mokas faz a analise do Mundo
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Perdi uma caixa de charutos
As catástrofes naturais
por MÁRIO, SOARES
1 O ser humano, em geral, tem pouco respeito pelos equilíbrios da natureza e não hesita em pô-los em causa se tiver interesse nisso, mesmo que transitório. Em tempo de globalização, poucos são os seres humanos que pensam que o mundo é um só e que os desequilíbrios ecológicos - quer ocorram na China, na Austrália ou no sul da Ibero América - dizem respeito a todos, ricos ou pobres, desenvolvidos ou subdesenvolvidos, porque afectam o nosso planeta, a nossa "Casa Comum", como lhe chamou Gorbachev.
Apesar de se ter feito um esforço considerável - e planetário - para dar às pessoas a consciência dos riscos que o nosso planeta corre - dado o desrespeito pela natureza e pela biodiversidade, em virtude do comportamento humano que, no nosso tempo conturbado, põe acima de tudo o valor do dinheiro e a ganância do lucro -, a verdade é que não existe ainda uma verdadeira cultura ecológica que nos obrigue a todos, à escala planetária. Como se viu recentemente com o desaire que resultou da Conferência de Copenhaga, sobretudo dada a irresponsabilidade das duas maiores potências mundiais - Estados Unidos e China -, seguida por alguns países emergentes, como o Brasil, e pela impotência inaceitável da União Europeia, que permanece verdadeiramente de braços cruzados, sem acção, ignorando o que tinha proposto fazer.
Nos últimos anos, e após a Conferência de Copenhaga, temos vindo a assistir a uma série de sucessivas catástrofes, de diferentes naturezas, como que para chamar a atenção das pessoas para a necessidade urgente de respeitar os equilíbrios ecológicos do planeta. Cito apenas as catástrofes que a minha memória registou: tsunamis e furacões em várias regiões do mundo, que fizeram milhões de mortos, dos Estados Unidos à China, no Paquistão, onde as inundações foram as maiores de sempre, na própria Europa e em vários países da Ibero América; tremores de terra violentíssimos, como no Haiti, onde milhares de pessoas ainda estão desalojadas, dormindo em tendas, sem recursos, e também no Japão e noutros lugares; o vulcão na Islândia que entrou subitamente em erupção e expeliu fumos, que os ventos espalharam por grande parte da Europa e que obrigaram a fechar muitos aeroportos, paralisando grande parte dos transportes aéreos europeus; a maré negra causada por uma fuga técnica do petróleo - da responsabilidade da British Petroleum -, que espalhou grandes quantidades de petróleo por muitos quilómetros ao longo do golfo do México, atingindo praias e zonas costeiras que ficaram inutilizadas, e destruiu a biodiversidade em extensas áreas; as inundações inesperadas em período estival, que estão a atingir áreas consideráveis da Europa Central e do Norte e que tiveram proporções de catástrofe para populações de países como a Alemanha, a Polónia e a República Checa; os incêndios que consomem florestas e parques florestais - às vezes casas - e que atingem agora populações da Europa do Sul, incluindo Portugal; a vaga de calor excepcionalíssimo que atacou a Rússia e tornou em certas cidades o ar irrespirável, fazendo com que ardessem imensos campos de cereais; o bloco imenso de gelo do Árctico que se separou desse continente e que está a deslocar-se no oceano, arrefecendo as águas e matando as populações marinhas; etc., etc.
Tudo isto, que constitui apenas um inventário incompleto, tirado de diferentes jornais internacionais, leva-nos a pensar que devemos observar e respeitar a natureza e procurar conhecer as causas de todas estas catástrofes, que, em conjunto, se afiguram - não quer dizer que o sejam - inabituais. É certo que hoje sabemos tudo o que se passa na Terra, ao mesmo tempo, e seja em que lugar for. Antigamente, não era assim. É o que resulta da revolução informática e dos progressos das comunicações. Mas, mesmo assim, são demasiados fenómenos simultâneos - e alguns incompreensíveis - que devem obrigar-nos a reflectir.
Será consequência, como muitos cientistas afirmam, do chamado aquecimento global, provocado pelo excesso de CO2, em função de uma cada vez maior utilização do petróleo, do gás e do carvão? Por mim, por tudo quanto tenho lido, penso que sim, pelo menos em boa parte. É por isso que grandes potências - como os Estados Unidos e a China - não têm a coragem de tomar medidas capazes de diminuir radicalmente o CO2 na atmosfera, e a União Europeia ter ficado inactiva em Copenhaga, apesar de ter afirmado o contrário, foi um péssimo exemplo para a Humanidade, que urge mudar, quanto antes.
2 Há vários dias que as televisões portuguesas não mostram e não falam noutra coisa. O desastre, de amplas proporções, tem sido mais grave no Norte do que no Sul, embora em Sintra e noutros locais próximos de Lisboa, tenha havido bastantes estragos.
O ministro da Administração Interna, governadores civis e presidentes de Câmara, falam de fogo posto e de mãos humanas criminosas. É possível. Mas os pirómanos apanhados, até agora, não parecem ser tantos - nem tão activos - que possam, por si sós, explicar um fenómeno que, praticamente, se repete todos os anos, com maior ou menor intensidade. Toda a gente elogia - e com razão - o trabalho imenso e abnegado dos bombeiros, com vidas perdidas, todos os anos, na luta contra os incêndios, apesar de terem crescido os meios de combate aos incêndios, aéreos e terrestres.
A grande falta - há que o reconhecer - é de, em devido tempo, não termos sido capazes das acções preventivas de protecção e limpeza das florestas, dos parques florestais e das grandes áreas abandonadas ao mato e ao restolho, que não se sabe sequer a quem pertencem. Ainda há poucas semanas, estive em Arcos de Valdevez e visitei o parque florestal lindíssimo da Peneda-Gerez e o Soajo. Toda a gente se me queixou da perda de meios humanos e materiais para protecção do parque. Faltam guardas, não há cantoneiros para limpar as estradas, ninguém corta o mato das propriedades abandonadas e poucos saberão a quem pertencem.
Contudo, representam, segundo escreveu o Expresso, um quinto do território nacional. Como é possível este abandono? Com tanta gente desempregada, que recebe o subsídio de desemprego - e depois faz biscates, numa espécie de economia paralela - ,não seria melhor empregar umas centenas ou mesmo milhares dessas pessoas para cuidarem das florestas e dos parques - que constituem uma grande riqueza nacional - e para fiscalizarem e limparem os baldios abandonados? Ao mesmo tempo que se deve - quanto antes - inventariar todas as terras abandonadas e conhecer todos os seus proprietários, comprando-lhes os terrenos ou, se não quiserem, obrigando-os a pagar uma coima pelo abandono?
Julgo que é o melhor caminho para reduzir os incêndios, que nos afligem todos os anos, e é o que sugiro. Porque reduz o desemprego e valoriza o nosso património.
3 Fidel reapareceu em público, aparentemente curado de uma doen- ça que o dava praticamente como moribundo, dias depois de terem sido libertados 52 prisioneiros, por delitos de opinião, dada a pressão do ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Miguel Ángel Moratinos, e do arcebispo de Cuba, Jaime Ortega, sendo que Moratinos actuou em nome da União Europeia. Pensava--se que seria um passo decisivo para a democratização de Cuba. Mas não foi. Fidel resolveu falar ao Senado e apareceu nas televisões de diversos países. Mas não disse nada de importante: fez um apelo aos Estados Unidos - e a Obama, em especial - para tratar bem o Irão.
Omitiu a China e a Rússia relativamente ao mesmo assunto. E pergunto: em que qualidade falou? Como velho líder, há meio século, ou como proprietário de Cuba? Não o disse. Porque realmente não disse nada. Deixou apenas uma mensagem subentendida: que tudo continuava na mesma e que é ele que continua a mandar.
Vi-o na televisão. Deixou uma imagem patética. Com alguma dificuldade na fala, e uma pessoa extremamente fatigada. "Après moi le déluge", é o que se deve pensar. Um mau fim!
Lembro-me bem de Fidel há cinquenta anos, após Sierra Maestra, quando entrou em Havana, jovem, herói revolucionário, vencedor da ditadura odiosa de Baptista. Passaram os anos, e em 1964, depois da tentativa frustrada da Baía dos Porcos, fomos, a convite da embaixada de Cuba em Lisboa, o meu amigo Fernandes Fafe e eu, a Cuba, clandestinamente - via Roma, Zurique, Praga, Canadá e Cuba -, num avião soviético ainda a hélice, chegando a Cuba dois dias depois da partida de Roma. Não encontrámos Fidel Castro. Não tínhamos importância política para tanto. Mas percorremos a ilha, ouvimos um discurso, insuportavelmente longo, de Fidel e falámos com intelectuais cubanos e com políticos que ainda tinham esperança e nos acompanharam. Ficámos quase um mês. Por mim, fiquei pessimamente impressionado. Não era o comunismo "com cha-cha-cha", como nos tinham dito, mas um comunismo à soviética, puro e duro.
Muito mais tarde, bastante depois da normalização democrática portuguesa, que se seguiu ao delírio do PREC, encontrei Fidel numa reunião da Comunidade Ibero-Americana, que se realizou, salvo erro, na Bahia (Brasil). Cavaco Silva estava presente, como primeiro-ministro, e era o Rei de Espanha que presidia à sessão. Fidel queixou-se da falta de solidariedade para com Cuba, dos países presentes. E citou o exemplo de Portugal, cuja Revolução ele disse ter ajudado. Coube-me responder-lhe: "O Senhor não ajudou a Revolução, ajudou o PCP, o que é diferente, porque quis fazer de Portugal uma Cuba europeia". E acrescentei: "eu tive uma grande admiração por si quando venceu o ditador Baptista. O pior é que hoje dirige um regime mais opressivo do que o de Baptista, tem mais presos do que havia antes do Senhor chegar ao poder. Uma ditadura mais violenta que, para sobreviver, recorre ao tráfico de droga, ao turismo sexual para os ricos e mantém um regime despótico". Quando acabei de falar, houve um silêncio geral, consternado. Fidel quis responder. Mas o Rei de Espanha resolveu interromper -a sessão e convenceu Fidel a não responder…
Encontramo-nos depois em outras ocasiões. E falámos sempre com muita frieza. Perdi uma caixa de charutos que ele sempre me enviava no Natal. Vi-o agora na televisão, e, sinceramente, fez-me pena…
Vau, 17 de Agosto de 2010
por MÁRIO, SOARES
1 O ser humano, em geral, tem pouco respeito pelos equilíbrios da natureza e não hesita em pô-los em causa se tiver interesse nisso, mesmo que transitório. Em tempo de globalização, poucos são os seres humanos que pensam que o mundo é um só e que os desequilíbrios ecológicos - quer ocorram na China, na Austrália ou no sul da Ibero América - dizem respeito a todos, ricos ou pobres, desenvolvidos ou subdesenvolvidos, porque afectam o nosso planeta, a nossa "Casa Comum", como lhe chamou Gorbachev.
Apesar de se ter feito um esforço considerável - e planetário - para dar às pessoas a consciência dos riscos que o nosso planeta corre - dado o desrespeito pela natureza e pela biodiversidade, em virtude do comportamento humano que, no nosso tempo conturbado, põe acima de tudo o valor do dinheiro e a ganância do lucro -, a verdade é que não existe ainda uma verdadeira cultura ecológica que nos obrigue a todos, à escala planetária. Como se viu recentemente com o desaire que resultou da Conferência de Copenhaga, sobretudo dada a irresponsabilidade das duas maiores potências mundiais - Estados Unidos e China -, seguida por alguns países emergentes, como o Brasil, e pela impotência inaceitável da União Europeia, que permanece verdadeiramente de braços cruzados, sem acção, ignorando o que tinha proposto fazer.
Nos últimos anos, e após a Conferência de Copenhaga, temos vindo a assistir a uma série de sucessivas catástrofes, de diferentes naturezas, como que para chamar a atenção das pessoas para a necessidade urgente de respeitar os equilíbrios ecológicos do planeta. Cito apenas as catástrofes que a minha memória registou: tsunamis e furacões em várias regiões do mundo, que fizeram milhões de mortos, dos Estados Unidos à China, no Paquistão, onde as inundações foram as maiores de sempre, na própria Europa e em vários países da Ibero América; tremores de terra violentíssimos, como no Haiti, onde milhares de pessoas ainda estão desalojadas, dormindo em tendas, sem recursos, e também no Japão e noutros lugares; o vulcão na Islândia que entrou subitamente em erupção e expeliu fumos, que os ventos espalharam por grande parte da Europa e que obrigaram a fechar muitos aeroportos, paralisando grande parte dos transportes aéreos europeus; a maré negra causada por uma fuga técnica do petróleo - da responsabilidade da British Petroleum -, que espalhou grandes quantidades de petróleo por muitos quilómetros ao longo do golfo do México, atingindo praias e zonas costeiras que ficaram inutilizadas, e destruiu a biodiversidade em extensas áreas; as inundações inesperadas em período estival, que estão a atingir áreas consideráveis da Europa Central e do Norte e que tiveram proporções de catástrofe para populações de países como a Alemanha, a Polónia e a República Checa; os incêndios que consomem florestas e parques florestais - às vezes casas - e que atingem agora populações da Europa do Sul, incluindo Portugal; a vaga de calor excepcionalíssimo que atacou a Rússia e tornou em certas cidades o ar irrespirável, fazendo com que ardessem imensos campos de cereais; o bloco imenso de gelo do Árctico que se separou desse continente e que está a deslocar-se no oceano, arrefecendo as águas e matando as populações marinhas; etc., etc.
Tudo isto, que constitui apenas um inventário incompleto, tirado de diferentes jornais internacionais, leva-nos a pensar que devemos observar e respeitar a natureza e procurar conhecer as causas de todas estas catástrofes, que, em conjunto, se afiguram - não quer dizer que o sejam - inabituais. É certo que hoje sabemos tudo o que se passa na Terra, ao mesmo tempo, e seja em que lugar for. Antigamente, não era assim. É o que resulta da revolução informática e dos progressos das comunicações. Mas, mesmo assim, são demasiados fenómenos simultâneos - e alguns incompreensíveis - que devem obrigar-nos a reflectir.
Será consequência, como muitos cientistas afirmam, do chamado aquecimento global, provocado pelo excesso de CO2, em função de uma cada vez maior utilização do petróleo, do gás e do carvão? Por mim, por tudo quanto tenho lido, penso que sim, pelo menos em boa parte. É por isso que grandes potências - como os Estados Unidos e a China - não têm a coragem de tomar medidas capazes de diminuir radicalmente o CO2 na atmosfera, e a União Europeia ter ficado inactiva em Copenhaga, apesar de ter afirmado o contrário, foi um péssimo exemplo para a Humanidade, que urge mudar, quanto antes.
2 Há vários dias que as televisões portuguesas não mostram e não falam noutra coisa. O desastre, de amplas proporções, tem sido mais grave no Norte do que no Sul, embora em Sintra e noutros locais próximos de Lisboa, tenha havido bastantes estragos.
O ministro da Administração Interna, governadores civis e presidentes de Câmara, falam de fogo posto e de mãos humanas criminosas. É possível. Mas os pirómanos apanhados, até agora, não parecem ser tantos - nem tão activos - que possam, por si sós, explicar um fenómeno que, praticamente, se repete todos os anos, com maior ou menor intensidade. Toda a gente elogia - e com razão - o trabalho imenso e abnegado dos bombeiros, com vidas perdidas, todos os anos, na luta contra os incêndios, apesar de terem crescido os meios de combate aos incêndios, aéreos e terrestres.
A grande falta - há que o reconhecer - é de, em devido tempo, não termos sido capazes das acções preventivas de protecção e limpeza das florestas, dos parques florestais e das grandes áreas abandonadas ao mato e ao restolho, que não se sabe sequer a quem pertencem. Ainda há poucas semanas, estive em Arcos de Valdevez e visitei o parque florestal lindíssimo da Peneda-Gerez e o Soajo. Toda a gente se me queixou da perda de meios humanos e materiais para protecção do parque. Faltam guardas, não há cantoneiros para limpar as estradas, ninguém corta o mato das propriedades abandonadas e poucos saberão a quem pertencem.
Contudo, representam, segundo escreveu o Expresso, um quinto do território nacional. Como é possível este abandono? Com tanta gente desempregada, que recebe o subsídio de desemprego - e depois faz biscates, numa espécie de economia paralela - ,não seria melhor empregar umas centenas ou mesmo milhares dessas pessoas para cuidarem das florestas e dos parques - que constituem uma grande riqueza nacional - e para fiscalizarem e limparem os baldios abandonados? Ao mesmo tempo que se deve - quanto antes - inventariar todas as terras abandonadas e conhecer todos os seus proprietários, comprando-lhes os terrenos ou, se não quiserem, obrigando-os a pagar uma coima pelo abandono?
Julgo que é o melhor caminho para reduzir os incêndios, que nos afligem todos os anos, e é o que sugiro. Porque reduz o desemprego e valoriza o nosso património.
3 Fidel reapareceu em público, aparentemente curado de uma doen- ça que o dava praticamente como moribundo, dias depois de terem sido libertados 52 prisioneiros, por delitos de opinião, dada a pressão do ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Miguel Ángel Moratinos, e do arcebispo de Cuba, Jaime Ortega, sendo que Moratinos actuou em nome da União Europeia. Pensava--se que seria um passo decisivo para a democratização de Cuba. Mas não foi. Fidel resolveu falar ao Senado e apareceu nas televisões de diversos países. Mas não disse nada de importante: fez um apelo aos Estados Unidos - e a Obama, em especial - para tratar bem o Irão.
Omitiu a China e a Rússia relativamente ao mesmo assunto. E pergunto: em que qualidade falou? Como velho líder, há meio século, ou como proprietário de Cuba? Não o disse. Porque realmente não disse nada. Deixou apenas uma mensagem subentendida: que tudo continuava na mesma e que é ele que continua a mandar.
Vi-o na televisão. Deixou uma imagem patética. Com alguma dificuldade na fala, e uma pessoa extremamente fatigada. "Après moi le déluge", é o que se deve pensar. Um mau fim!
Lembro-me bem de Fidel há cinquenta anos, após Sierra Maestra, quando entrou em Havana, jovem, herói revolucionário, vencedor da ditadura odiosa de Baptista. Passaram os anos, e em 1964, depois da tentativa frustrada da Baía dos Porcos, fomos, a convite da embaixada de Cuba em Lisboa, o meu amigo Fernandes Fafe e eu, a Cuba, clandestinamente - via Roma, Zurique, Praga, Canadá e Cuba -, num avião soviético ainda a hélice, chegando a Cuba dois dias depois da partida de Roma. Não encontrámos Fidel Castro. Não tínhamos importância política para tanto. Mas percorremos a ilha, ouvimos um discurso, insuportavelmente longo, de Fidel e falámos com intelectuais cubanos e com políticos que ainda tinham esperança e nos acompanharam. Ficámos quase um mês. Por mim, fiquei pessimamente impressionado. Não era o comunismo "com cha-cha-cha", como nos tinham dito, mas um comunismo à soviética, puro e duro.
Muito mais tarde, bastante depois da normalização democrática portuguesa, que se seguiu ao delírio do PREC, encontrei Fidel numa reunião da Comunidade Ibero-Americana, que se realizou, salvo erro, na Bahia (Brasil). Cavaco Silva estava presente, como primeiro-ministro, e era o Rei de Espanha que presidia à sessão. Fidel queixou-se da falta de solidariedade para com Cuba, dos países presentes. E citou o exemplo de Portugal, cuja Revolução ele disse ter ajudado. Coube-me responder-lhe: "O Senhor não ajudou a Revolução, ajudou o PCP, o que é diferente, porque quis fazer de Portugal uma Cuba europeia". E acrescentei: "eu tive uma grande admiração por si quando venceu o ditador Baptista. O pior é que hoje dirige um regime mais opressivo do que o de Baptista, tem mais presos do que havia antes do Senhor chegar ao poder. Uma ditadura mais violenta que, para sobreviver, recorre ao tráfico de droga, ao turismo sexual para os ricos e mantém um regime despótico". Quando acabei de falar, houve um silêncio geral, consternado. Fidel quis responder. Mas o Rei de Espanha resolveu interromper -a sessão e convenceu Fidel a não responder…
Encontramo-nos depois em outras ocasiões. E falámos sempre com muita frieza. Perdi uma caixa de charutos que ele sempre me enviava no Natal. Vi-o agora na televisão, e, sinceramente, fez-me pena…
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