Televisão espanhola conta episódios desconhecidos da vida de Mourinho

Televisão espanhola conta episódios desconhecidos da vida de Mourinho
13h07m
Augusto Correia

Mourinho nunca visto ou, garantido, raramento ouvido. Em declarações a um programa da televisão espanhola, revela que a mulher, Matilde, não gosta da personagem "special one" e conta-se como iludiu um castigo, saindo do balneário num carrinho de roupa suja. Veja os vídeos

O programa "Informe Robinson", do Canal+, em Espanha, destrinçou, ontem, José Mourinho, desde os primeiros relatórios, que fazia para o pai Félix quando este treinava o Setúbal, aos primeiros passos na carreira e à passagem pelo F. C. Porto e Barcelona, com Bobby Robson.

"Nunca foi tradutor", garante Manuel Fernandes, actual treinador do Setúbal, que teve Mourinho como adjunto quando este tinha 26 anos. "Dolor de corno", acrescenta Félix Mourinho. Treinadores com passado e presente em Setúbal, concordam com as qualidades sempre demonstradas pelo português.

"Os relatórios que ele me fazia, tinha apenas 26 anos, já eram diferentes dos de todos os outros. Eram fora do vulgar", diz Manuel Fernandes. Extraordinários, para melhor, subentende-se das palavras do actual treinador do Setúbal.

O único que sobreviveu à saída de Robson

Quando Louis Van Gaal chegou a Barcelona, para substituir Bobby Robson, despediu todos os adjuntos menos um: "José fica porque não me diz o que quero ouvir, diz-me o que pensa". "Para o contrariar e ficar, tinha de ser bom", conta Luís Henrique, ex-jogador do Real Madrid e do "Barça", ao tempo da chegada de Bobby Robson, que foi do Porto para a cidade Condal, levando Mourinho na equipa técnica que já o acompanhava desde a passagem pelo Sporting.

Benfica, pouco tempo, Leiria, o suficiente para se mostrar, e a glória nos anos do F. C. Porto passam também no documentário. "Em 2004, toda a Europa o queria, mas só o Chelsea o podia ter", ouve-se na voz-off da reportagem.

"Viu-se logo que era um líder. Todos no Chelsea ficaram muito entusiasmados e confiantes após a primeira conferência de Imprensa", recorda Steve Clark, adjunto de Mourinho, sobre o momento em que o português passou a ser o "special one".

Uma forma de se afirmar, conta Mourinho. "O homem que luta contra tudo e contra todos nas conferências de Imprensa não é o verdadeiro Mourinho", acrescenta Steve Clark. "Não é arrogante, antes alguém que confia nas suas capacidades", acrescenta.

Dois Mourinhos

"Há dois Josés", argumenta Manuel Fernandes. "Um tipo maravilhoso a nível humano, impecável", nas palavras de Luís Henrique, e o "special one", uma personagem que não é apreciada no núcleo familiar. A mulher, Matilde, "não gosta nada, nada" do Mourinho treinador.

"Não gosta de futebol, não gosta do que eu significo para o mundo do futebol, não gosta da sua vida e da dos seus filhos como consequência do que sou no futebol e para a sociedade", explica o treinador português.

O tipo porreiro, que defende os jogadores nas conferências de Imprensa, antes e depois dos jogos, é diferente na intimidade do vestiário. "No balneário sou muito directo. Não tenho problemas em dizer: a culpa da derrota foi tua", revelou Mourinho. "Lá fora, perco só eu. Lá dentro, perdemos todos", acrescentou.

Escondido num carrinho de roupa suja

O documentário conta ainda alguns episódios pouco conhecidos da história de Mourinho. Desde a forma como provocou os líderes do Chelsea, Terry e Lampard, para resolver de vez o atrito entre ambos, à maneira como conseguiu iludir um castigo para ir dar a táctica no intervalo num jogo da "Champions". Entrar foi fácil, todos os olhos estavam no relvado, sair requereu estratagemas de filme de espiões: deixou o balneário entre toalhas, escondido num carrinho de roupa suja.

Contou o que disse a Pep Guardiola, quando Tiago Motta foi expulso na meia-final com o Barcelona, em Camp Nou. "Pela festa que vi no banco do Barcelona, parecia que o jogo estava ganho, tinha acabado. Disse a Pep, pensas que é fácil, mas ainda não ganhaste. Não terminou", revelou Mourinho.

Faceta de um “special one”, que o próprio não aprecia muito. Mourinho disse não se rever nas imagens do treinador que festeja de punhos cerrados na cara dos adversários. "Como em Liverpool, o gesto de mandar calar os adeptos. Não gosto disso. Não me revejo nisso", contou.