Contra a violência de género
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Contra a violência de género
Contra a violência de género
Rui Herbon
Apesar de repetidas tentativas na direcção contrária, a privacidade, com o seu inviolável dentro de portas, vai deixando atrás de si um profundo sulco, um terreno em que se produzem cenas aterradoras. Um terreno complexo chamado família. E outro, mais sagrado, chamado amor. Lendo estudos recentes sobre o homicídio na Europa, verifica-se que a violência conjugal, machista, sobressai sobre as outras, em objectiva regressão.
Na sociedade mais aromatizada da história, o fedor é expulso de forma enérgica. A sordidez faz doer a vista e os princípios, enquanto que a violência primária repugna em tempos de refinamento low cost. Desde o berço da civilização que se promove a pacificação, universalizando ou – melhor dito – ocidentalizando, a boa educação e exportando rituais imaculados de norte a sul e de leste a oeste. A nossa sociedade aceitou com gosto ser embalada em vácuo, selada e submetida a controle de qualidade. Não há liberdade sem segurança, diz-se. Os protocolos foram substituindo a improvisação, mas o mal continua serpenteando entre nós como demonstração inequívoca do embrutecimento. Esse, no caso da violência machista, que confunde o amor com a propriedade.
Os crimes cometidos sobre mulheres pelos seus companheiros e ex-companheiros já superam os números de 2009. Hoje celebra-se o dia internacional contra a violência de género, e de novo se porão em marcha acções pela positiva, na tentativa de apoiar as mulheres que foram vítimas de violência nas suas próprias casas. É aí onde se produz o curto-circuito do nosso estranho mundo. Os vizinhos costumam testemunhar que os agressores são homens correctos e educados, acaso algo taciturnos. Instruídas, burocratizadas, estandardizadas, essas mesmas criaturas quebram as leis da civilização quando fecham a porta de casa. Com a comida ao lume e a roupa estendida: tudo normal. Aí implode a sua intimidade, até que matam. Quantos analfabetos emocionais se transformam em assassinos de mulheres? Não se pode blindar a intimidade, por isso existe apenas uma palavra útil: educação. Porque é necessário não confundir amor com controlo e posse.
As mulheres lutaram por poder trabalhar, combateram estereótipos, conseguiram partilhar a sua exclusividade na ética do cuidado familiar e inclusive escalaram algumas cúpulas. Mas aquele território doméstico que antanho foi o seu cárcere, hoje converteu-se no seu túmulo. As relações humanas alinhavadas com a supremacia de um sobre o outro, que alimentam a tendência para o vitimismo e para a mortal dependência, são um autêntico paiol semeado de minas anti-casal. Para desactivá-las, mais que a peritos em explosivos, haveria que recorrer a equipas de limpeza, que varressem esse estranho costume da vida privada: o machismo anacrónico e mortal.
Rui Herbon
Apesar de repetidas tentativas na direcção contrária, a privacidade, com o seu inviolável dentro de portas, vai deixando atrás de si um profundo sulco, um terreno em que se produzem cenas aterradoras. Um terreno complexo chamado família. E outro, mais sagrado, chamado amor. Lendo estudos recentes sobre o homicídio na Europa, verifica-se que a violência conjugal, machista, sobressai sobre as outras, em objectiva regressão.
Na sociedade mais aromatizada da história, o fedor é expulso de forma enérgica. A sordidez faz doer a vista e os princípios, enquanto que a violência primária repugna em tempos de refinamento low cost. Desde o berço da civilização que se promove a pacificação, universalizando ou – melhor dito – ocidentalizando, a boa educação e exportando rituais imaculados de norte a sul e de leste a oeste. A nossa sociedade aceitou com gosto ser embalada em vácuo, selada e submetida a controle de qualidade. Não há liberdade sem segurança, diz-se. Os protocolos foram substituindo a improvisação, mas o mal continua serpenteando entre nós como demonstração inequívoca do embrutecimento. Esse, no caso da violência machista, que confunde o amor com a propriedade.
Os crimes cometidos sobre mulheres pelos seus companheiros e ex-companheiros já superam os números de 2009. Hoje celebra-se o dia internacional contra a violência de género, e de novo se porão em marcha acções pela positiva, na tentativa de apoiar as mulheres que foram vítimas de violência nas suas próprias casas. É aí onde se produz o curto-circuito do nosso estranho mundo. Os vizinhos costumam testemunhar que os agressores são homens correctos e educados, acaso algo taciturnos. Instruídas, burocratizadas, estandardizadas, essas mesmas criaturas quebram as leis da civilização quando fecham a porta de casa. Com a comida ao lume e a roupa estendida: tudo normal. Aí implode a sua intimidade, até que matam. Quantos analfabetos emocionais se transformam em assassinos de mulheres? Não se pode blindar a intimidade, por isso existe apenas uma palavra útil: educação. Porque é necessário não confundir amor com controlo e posse.
As mulheres lutaram por poder trabalhar, combateram estereótipos, conseguiram partilhar a sua exclusividade na ética do cuidado familiar e inclusive escalaram algumas cúpulas. Mas aquele território doméstico que antanho foi o seu cárcere, hoje converteu-se no seu túmulo. As relações humanas alinhavadas com a supremacia de um sobre o outro, que alimentam a tendência para o vitimismo e para a mortal dependência, são um autêntico paiol semeado de minas anti-casal. Para desactivá-las, mais que a peritos em explosivos, haveria que recorrer a equipas de limpeza, que varressem esse estranho costume da vida privada: o machismo anacrónico e mortal.
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