Gostaria e ter escrito isto

Estou à rasca

Expresso

Nota prévia: segunda-feira passada, na SIC, fiz um comentário depreciativo sobre a manifestação dos jovens 'à rasca', baseado no que tinha solicitado e me forneceram como o manifesto do movimento - mas que, afinal, não o era. Não fui o único a ser levado ao engano pelo que circula na net como sendo o manifesto autêntico: Mário Soares, segundo concluí, também o foi e também escreveu no "DN" criticando-o, com base no texto falso. Isso não desculpa, porém, o meu erro e dele venho pedir desculpas públicas aos organizadores e participantes do movimento.

Quanto ao 'homem da luta', Jel, mantenho o que disse: a sua reivindicação de um direito à 'irresponsabilidade', feito em tom muito jovem, muito solto e muito divertido, não augura nada de bom - foi exactamente a irresponsabilidade de tanta gente que deveria ser responsável que nos trouxe até onde estamos. É verdade que, como ele diz, também o meu pai pegou num megafone no Largo do Carmo, no dia 25 de Abril de 74 (e eu lá estive a ouvi-lo, no dia mais feliz da minha vida). Mas há uma diferença entre pegar num megafone para defender a liberdade contra uma ditadura, correndo os riscos correspondentes, e pegar num megafone para berrar qualquer coisa, sem nada arriscar, fazendo isso parte de uma estratégia comercial e de marketing (aliás, não é inocentemente, claro, que já existe uma lista de adesivos - 'artistas' e 'intelectuais' - colados aos 'à rasca'). Não basta pegar num megafone para se ser 'revolucionário', nem é Zeca Afonso quem quer nem a liberdade tem alguma coisa que ver com irresponsabilidade. Pelo contrário, o que tor¬na a liberdade tão difícil de ser vivida a sério é exactamente a responsabilidade que acarreta.

Aliás, convém não confundir conceitos: o Zeca Afonso foi um grande músico, um resistente contra a ditadura, um comunista, um revolucionário, se quiserem: mas, no meu conceito, não foi um homem da liberdade. Como não o foram Cunhal e Otelo - ou Sá Carneiro e Cavaco Silva. Mas como o foram Salgueiro Maia, MeIo Antunes, Eanes, Mário Soares, Manuel Alegre ou o senhor meu pai. Já perdemos muitas coisas neste país: muitas ilusões, muitas esperanças, muitas oportunidades, muitas verdades. Convém que não percamos também a noção essencial do ponto em que as águas se separam entre os que amam a liberdade e os que se utilizam dela.

Aqui, no Expresso, tenho escrito abundantemente sobre o roubo das ilusões e do futuro que a actual geração está a cometer sobre as futuras gerações. Tenho escrito sobre a falta de perspectivas da geração jovem e desempregada e, sobretudo, sobre aquilo a que Cavaco Silva chamou e bem a herança de dívidas e défices acumulados que estamos a passar a quem vier a seguir. Mas também não ignoro que, tirando o difícil acesso a um mercado de trabalho fechado por razões de conjuntura económica e, se calhar também, de falta de visão empresarial, a actual geração jovem foi privilegiada em muitas coisas relativamente à minha: para começar, não tiveram de viver sufocados por uma ditadura nem ameaçados por uma guerra; não tiveram como única escolha académica universidades públicas de entrada difícil, ensino tipo-militar e cursos restrictos e com aplicação prática imediata no mundo do trabalho. Nós não tínhamos o luxo de cursos inúteis nem universidades mixurucas que os pais ou os contribuintes pagavam; não tínhamos Erasmus, nem exames colectivos, nem pós-graduações e doutoramentos para todos; não tínhamos internet nem cinema em casa (só nas salas e só aqueles que a censura permitia) e não fazíamos downloads de tudo; não viajávamos porque não tínhamos dinheiro nem era suposto os jovens viajarem, não tínhamos telemóveis nem roupas de marca, nem Bairro Alto nem nada que fazer a não ser estudar ou ir para a tropa. E não tivemos uma geração de pais tão presente e tão preocupada. Apetece-me dizer que nada na vida é de sentido único.

Isso não impede, como é óbvio, que quase 30% de jovens licenciados sem trabalho não sejam um problema que o país tem de enfrentar imediatamente, sob pena de não ter futuro. Mas não são apenas os jovens que se sentem defraudados nas suas expectativas legítimas: também o sentem todos aqueles que viveram uma vida de trabalho a pagar impostos para que, entre outras coisas, a educação dos seus filhos lhes permitisse garantir um futuro - em muitos casos, um futuro melhor do que aquele que eles próprios tiveram. E não são apenas jovens os que se sentem legitimamente defraudados, sentem-se muitos outros, de todas as idades e condições. Mas não todos: apenas os que deram mais ao país do que dele receberam.

Entretanto, o mundo mudou, muda todos os dias à nossa vista. Nada do que era estável permanece assim para sempre. Queiram ou não os jovens e os outros entendê-lo e enfrentá-lo, o mundo das certezas adquiridas, da segurança garantida, do Estado protector e da economia previsível, acabou - aqui e lá fora. Não sei se ouviram dizer, mas centenas de milhares de chineses, de indianos, de indonésios, dé brasileiros, felizmente para eles, libertam-se da miséria e entram todos os dias no mercado de trabalho e de consumo, fazendo disparar o preço da energia, dos alimentos, de todas as matérias-primas e lançando no desemprego outros quantos milhares de trabalhadores dos países chamados desenvolvidos, cujos direitos sociais, adquiridos após um século de lutas sindicais, tomam insustentável a concorrência com quem está disposto a trabalhar em quaisquer condições e por qualquer preço. Chama-se a isso 'dumping socia!', 'economia globa!', o que quiserem. Também se pode chamar a liberalização do comércio mundial, que durante décadas foi uma justa reivindi¬cação dos pobres contra os ricos. O mal de uns foi o bem de outros: nada na vida é de sentido único.

Por mais manifestações de jovens ou de descontentes que se façam, o essencial não mudará apenas porque se quer mudar. Decerto que há quem se governe melhor ou pior e é bem possível (embora não tão evidente e fácil como se supõe) governar melhor Portugal. Mas isso não muda o mundo em que vivemos e em que já não há lugar para direitos ad¬quiridos eternos, fantasias académicas, cursos inúteis, emprego garantido para sempre, subsídios públicos para tudo e mais alguma coisa e crédito para consumir sem produzir riqueza - que foi aquilo que nos arruinou. O mundo que a geração jovem de hoje é chamada a enfrentar é muito mais complexo e difícil do que alguma vez terá sido. E só quem tiver a capacidade de se preparar a sério, de inovar, de criar, de arriscar, de trabalhar mais e melhor, poderá ter a certeza de sobreviver por si.
Num discurso de verdade, como o anunciou Cavaco Silva, estas verdades deveriam ter sido ditas. Não há nenhuma comparação entre as dificuldades de hoje e as facilidades que Cavaco encontrou nos seus dez anos de governação - e que desperdiçou lamentavelmente. Cavalgar agora a onda de contestação jovem e acabar até um discurso de posse com um insólito apelo encapotado à manifestação da 'geração à rasca' - como se tudo o que eles reivindicam fosse imediatamente exequível por qualquer governo que exista - não foi apenas uma deselegante demonstração de falta de solidariedade institucional. Foi irresponsabilidade. E, ao contrário do que despreocupadamente proclama o 'homem da luta', tudo o que menos precisamos agora é de mais irresponsabilidade.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Quem é que está à rasca, rasca?

sempre tive o cuidado de quando o artista tem valor lhe dar uma corda bamba e o equilibrio
subscrevo o Viriato
Depois
Um forum é um local de gestao de emoções
Da minha parte e sermpre que o artista tenha valor mesmo que me mANDE Á MIERDA ( OU LA PERTO NAO É MOTIVO PARA ...
Porque havendo varias mesas o artista pode sempre ter uma para o paleio
amen

Viriato escreveu:Estou à rasca

Expresso

Por mais manifestações de jovens ou de descontentes que se façam, o essencial não mudará apenas porque se quer mudar. Decerto que há quem se governe melhor ou pior e é bem possível (embora não tão evidente e fácil como se supõe) governar melhor Portugal. Mas isso não muda o mundo em que vivemos e em que já não há lugar para direitos ad¬quiridos eternos, fantasias académicas, cursos inúteis, emprego garantido para sempre, subsídios públicos para tudo e mais alguma coisa e crédito para consumir sem produzir riqueza - que foi aquilo que nos arruinou. O mundo que a geração jovem de hoje é chamada a enfrentar é muito mais complexo e difícil do que alguma vez terá sido. E só quem tiver a capacidade de se preparar a sério, de inovar, de criar, de arriscar, de trabalhar mais e melhor, poderá ter a certeza de sobreviver por si.

Num discurso de verdade, como o anunciou Cavaco Silva, estas verdades deveriam ter sido ditas. Não há nenhuma comparação entre as dificuldades de hoje e as facilidades que Cavaco encontrou nos seus dez anos de governação - e que desperdiçou lamentavelmente. Cavalgar agora a onda de contestação jovem e acabar até um discurso de posse com um insólito apelo encapotado à manifestação da 'geração à rasca' - como se tudo o que eles reivindicam fosse imediatamente exequível por qualquer governo que exista - não foi apenas uma deselegante demonstração de falta de solidariedade institucional. Foi irresponsabilidade. E, ao contrário do que despreocupadamente proclama o 'homem da luta', tudo o que menos precisamos agora é de mais irresponsabilidade.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Citei duas partes do escrito de Miguel Sousa Tavares com cores diferentes.
O vermelho, é isso mesmo. Um cartão dirigido a Cavaco Silva.

Nada mais acrescento ao texto em virtude de, por palavras mais brilhantes e com melhor encadeamento, Miguel Sousa Tavares aqui ter deixado expressas as ideias que já exprimi noutros momentos.

Vitor mango escreveu:manos
estive no Brasil e na Argentina quando as moedas e a economia deles eram perfeitos cacos
Na argentina a moeda era de 1000 % de desvalorização ao mes ao dia e á noite e no Brasil a confusao era tanta que a ministra das finanças para travar a inflaçao mandou parar a moeda e congelar todas as contas dos depositantes para cima de 8 contos

O que se passa meus amigos não e economia mas um grave problema de finanças
Que nada tem a ver o coiso com a coisa
A economia, de Portugal trabuca bem só que ninguém paga a ninguém ..e a malta trava ao abrir a bolsa
Porque ?
Porque foi os EUA com a bolha do imobiliário que lançou o pânico
Depois a Alemanha viu que ...
E quando os bancos estavam á rasca o ministro Inglês grita da Inglaterra
Nao deixem cair os bancos senao estamos PHO****
E os paises meteram $$$ nos bancos
E os socialistas na europa
Nao deixem cair os empregos invistam
E o Socrates cagou-se na inflaçao e mandou avançar as betoneiras
E quando finalmente a europa estava a coçar os ditos rebentam a verdade
Tamos tesos pah
Porra ..porque razao Vocês acreditam em economistas pah

Se a economia portuguesa trabucasse bem, não gastava todos os anos 110% do PIB.

Claro que há outras coisas.
Quando o homem mais rico de Portugal manda para casa 200 trabalhadores só porque entendeu que estava a ganhar pouco, alguma coisa vai mal em Portugal.
Quando os segundo e terceiro mais ricos, pagam ordenados baixíssimos aos seus trabalhadores e não têm qualquer espécie de preocupação social, alguma coisa vai mal em Portugal.
Quando o segundo mais rico transfere a sede da sua SGPS para a Holanda porque ali paga menos impostos, muitas coisas vão mal em Portugal.

Vitor mango escreveu:é isso
exactamente isso
Vivi caro mano numa familia de sentimentos socializantes . numa aldeia ...ou seja quando na aldeia alguem passava mal a familia mango ajudava
e um gajo ser educado socializante não é capaz de ph*** o próximo
mas ás vezes quem passou fomew e frio e se acha com cacau geme na opulência de evitar olhar para o proximo

É o que se chama "novo-riquismo".