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FRANCISCO GOMES Mundo árabe para os árabes

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Mensagem por Vitor mango Dom Abr 10, 2011 1:02 am








FRANCISCO GOMES
Mundo árabe para os árabes


























Desde o colapso do Império Otomano e
do consequente envolvimento, numa escala mais significativa, dos países
ocidentais no contexto geopolítico do Médio Oriente, a relação dos
governos do eixo euro-americano com os seus congéneres da zona árabe
nunca foi isenta de problemas. Motivados por interesses da mais diversa
espécie, os estados ocidentais têm interferido frequentemente na
conjuntura do Médio Oriente, e, através de uma panóplia de métodos, que
têm variado desde o apoio explicito a líderes, movimentos e regimes ao
auxílio tácito a figuras e grupos, têm tentado influenciar o exercício
da governação na região.
Numa primeira fase, a presença ocidental no Mundo Árabe foi assegurada
pelo Reino Unido, cuja influência se estendia desde o Canal de Suez até
ao Golfo Pérsico. No entanto, após a Crise do Suez de 1956, causada pela
decisão do Presidente Nasser de nacionalizar o Canal, a qual levou a
uma guerra entre o Egipto, por um lado, e o Reino Unido, França e
Israel, por outro, a influência ocidental no Médio Oriente tem sido
veiculada pelo governo americano, cujo interesse na política árabe
cresceu à medida que aumentou a dependência americana de fontes
energéticas externas.
Ao longo dos muitos anos desta relação difícil entre europeus,
americanos e árabes, os estados ocidentais têm tentado retratar a sua
interferência no Médio Oriente como o cumprimento de desígnios nobres.
São exemplos desses intentos a contenção do comunismo, um tema popular
durante as décadas de cinquenta, sessenta e setenta, a oposição a
regimes ditatoriais, uma justificação muito empregue durante a década de
oitenta, a defesa do Estado de Direito e da Lei Internacional, um
explicação frequente durante a década de noventa, e a defesa da
liberdade e da democracia, alegação popularizada na primeira década do
novo século. Mais recentemente, a responsabilidade de proteger as vidas
de civis em risco de vitimização por distúrbios civis tem sido empregue
pelas chefias ocidentais para legitimar o seu envolvimento no Médio
Oriente, inclusivamente pelo Presidente Barack Obama, que articulou esse
argumento em declarações públicas proferidas recentemente.
No entanto, e independentemente do que tem sido argumentado ao longo dos
anos pelos mais altos representantes da Europa e dos EUA, a intromissão
ocidental na conjuntura sociopolítica árabe tem tido, na sua base de
sustentação ideológica, duas assumpções cuja validade é, no mínimo,
discutível: por um lado, a percepção de que os povos árabes são
incapazes de, só por si, efectuar as suas escolhas políticas e definir o
tipo de sociedade que querem ver florescer nos seus estados
respectivos; por outro lado, a noção de que o exercício da influência
ocidental, quer na forma de diplomacia, quer na forma de força bélica, é
condição suficiente para solucionar qualquer situação mais problemática
que possa emergir no contexto do Médio Oriente. Os recentes eventos na
Líbia colocam em causa ambas estas ideias, sinalizando o início de uma
nova fase na história da participação ocidental na conjuntura árabe.
Ao assumirem o papel principal no processo de reestruturação do panorama
político dos seus estados, os povos da Tunísia, Egipto e Líbia não só
revelaram que possuem o discernimento suficiente para avaliar a conduta
dos seus líderes, mas também demonstraram que os povos árabes fruem de
dinamismo e de recursos próprios para implementar, no difícil contexto
do Médio Oriente, as mudanças que são precisas para relançar aquela
região num novo ciclo de evolução social. Mais do que qualquer outro
evento do último quarto de século, as ondas de protesto social que têm
sido verificadas nos últimos meses revelam, de forma contundente, que os
povos árabes têm uma capacidade morfológica para arquitectar mudanças
civilizacionais profundas, destronizando a postura paternalista
alimentada em certos círculos mais conservadores ocidentais de que a
definição do futuro do Mundo Árabe passa pelos desejos, deliberações e
interesses euro-americanos.
Por isso, por muito que a recente participação internacional nos
conflitos que estão a assolar o território líbio possa inflacionar o ego
político dos governantes europeus e americanos, a realidade é que a sua
conduta secunda a acção que as gentes daquele e de outros países estão a
desenvolver no terreno. Para bem ou para mal, são eles que estão a
escrever o futuro do seu povo, enquanto europeus e americanos assumem o
papel de espectadores.

franciscogomes@yahoo.com


_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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Vitor mango
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