Euro em alta - Saiba como defender os seus investimentos

Euro em alta - Saiba como defender os seus investimentos
06 Maio 2011 | 08:40
André Veríssimo - averissimo@negocios.pt






A alta do euro
contra o dólar promete continuar, perante a política monetária
dissonante praticada agora nos dois lados do Atlântico. Um movimento que
tem impacto negativo para quem investe em empresas exportadoras e em
activos denominados em dólares. Saiba como proteger-se e ganhar com a
queda do dólar.

O euro sobe 11% contra o dólar
desde o início do ano, aproximando-se da fasquia dos 1,50 dólares, onde
não chega desde Abril de 2009. Uma boa notícia para quem pretende
viajar para um destino onde a moeda americana predomina. Mas que pode
fazer grande mossa nos investimentos, mesmo que não estejam denominados
em dólares.

A divisa europeia negociava na sexta-feira nos
1,4846 dólares, ganhando "terreno" há quatro meses consecutivos. Mas
vários analistas consideram que o euro pode continuar a subir. O
principal motivo prende-se com o rumo da política monetária nos EUA,
onde a taxa de juro de referência se mantém em níveis historicamente
baixos (entre 0% e 0,25%), em contraste com as principais economias, que
estão a aumentar o preço do dinheiro para travar a inflação.

O
presidente da Reserva Federal dos EUA reiterou na semana passada que os
juros vão permanecer no nível actual "por mais algumas reuniões" do
comité de política monetária. Ou seja, por mais alguns meses. A decisão
prende-se, sobretudo, com o facto de a taxa de desemprego permanecer
teimosamente elevada, apesar da recuperação da economia.

"Se a Fed
vai manter as taxas muito baixas por um período longo de tempo, isso
torna o dólar cada vez menos atractivo", afirmou Stephen King,
economista-chefe do HSBC, em declarações à Bloomberg. Ou seja, os
investidores vão preferir divisas com taxas de remuneração mais altas,
como o euro.

O Banco Central Europeu subiu a taxa de juro de referência pela primeira vez desde o início da crise no mês passado, colocando-a nos 1,25%. Jean-Claude Trichet,
o presidente da autoridade monetária, já avisou que vão seguir-se mais
aumentos, que deverão colocar os juros nos 1,75% até ao final do ano.

Este
diferencial de taxas de juro, que deverá ainda alargar-se, explica por
que o euro se está a valorizar face ao dólar. Tendência que, segundo
Stephen King, deverá "continuar ao longo do ano".

A moeda
europeia está ainda a beneficiar com o menor receio em relação à crise
da dívida soberana e à confiança no crescimento da economia global, o
que convida a assumir riscos.

"Os mercados estão sintonizados na
busca por risco e isso é sempre um ambiente desfavorável para o dólar",
refere Adam Cole, responsável pela estratégia cambial do Royal Bank of
Scotland, em Londres.

Filipe
Garcia, economista do IMF - Informação em Mercados Financeiros, refere
que os investidores estão a endividar-se em dólares para aproveitar as
taxas de juro baixas e investirem noutros países. O chamado "carry
trade" passa por vender dólares para os aplicar em activos noutras
moedas, o que coloca pressão sobre a divisa americana.

O Citigroup prevê que o euro chegue até aos 1,50 dólares nos próximos seis meses. Meta apontada também por outros bancos de investimento.

Perda de competitividade
A
taxa de câmbio é um dos principais factores da política monetária,
interferindo na competitividade das economias. Um euro forte e torna
mais cara a importação de produtos europeus. O que penaliza as cotadas
mais dependentes da exportação. No entanto, Filipe Garcia lembra que a
alta do euro face ao dólar "ameniza o impacto do encarecimento das
matérias-primas" para as empresas e consumidores. O que " ajuda a
mitigar a inflação, dispensando uma subida tão acentuada dos juros".

O
economista prevê que o euro mantenha a tendência de alta em relação ao
dólar enquanto a Reserva Federal não começar a retirar as medidas
extraordinárias de apoio à economia e suba os juros. Mas considera que a
moeda americana tem vindo a perder o seu estatuto. "Existe uma
crescente desconfiança em relação ao dólar, que está a levar os
investidores e os bancos centrais a diversificarem a sua exposição",
refere. Na sua opinião, existe uma "debilidade estrutural" que levou,
por exemplo, a Standard & Poor's a colocar em "perspectiva negativa"
o "rating" dos EUA, devido ao elevado endividamento público.