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Mensagem por Vitor mango Dom Jun 26, 2011 7:57 am

Assim andamos
20 de Junho, 2011por Miguel Portas
Com discrição, Mário Draghi será alcandorado, na próxima semana, a presidente do BCE e por lá ficará, inamovível, por oito anos.

É mesmo assim: terça-feira passada o próximo presidente do BCE foi a exame na comissão de economia do Parlamento Europeu. Mário Draghi é um homem experiente, com um largo curriculum quer nas finanças públicas quer na banca privada. Não há, portanto, um problema de competência no nomeado para substituir Trichet. Mesmo quando interrogado sobre o seu passado enquanto responsável europeu da Goldman Sachs, a instituição que ensinou à direita grega algumas das aldrabices contabilísticas que agora estão a ser cobradas a pão e sal, o italiano não se saiu mal. Ou fala verdade ou mente muito bem.

Os problemas com Mário Draghi são os do cargo que vai ocupar. A presidência do banco central é a mais importante cadeira da UE. Quem a ocupa manda mais do que qualquer presidente de comissão europeia. Manda mais, até, do que a chanceler alemã. Esta é a conclusão que se pode tirar do conflito em curso sobre a reestruturação da dívida grega. Angela Merkel, com o apoio de alguns governos, quer envolver os credores na solução da tragédia e dilatar os prazos de reembolso dos títulos de dívida, de modo a permitir ao país respirar um pouco da cura fatal que lhe está a ser aplicada. Merkel tem do seu lado um apoio de peso, o do presidente da Zona Euro. Mas esta ‘frente de realismo’ não pesa um caracol face à intransigência do BCE, que recusa qualquer reestruturação envolvendo os credores (até porque é o primeiro deles). Como explicou o indigitado e futuro presidente, há que «evitar qualquer risco de contágio».

Com discrição, Mário Draghi será alcandorado, na próxima semana, a presidente do BCE e por lá ficará, inamovível, por oito anos. Os governos indigitaram e os europarlamentares confirmarão a criatura por voto secreto na próxima semana. E pronto, já está e não se fala mais disso. O prenúncio da decisão ocorreu na referida comissão de economia. Depois de uma audição onde respondeu sempre dentro da cartilha – o mandato do BCE é a estabilidade de preços e nada mais – discutiu-se a prestação. Um Verde definiu muito bem a pessoa em causa: «É o católico mais ortodoxo que conheci». Está cheio de razão: Draghi ofusca Trichet porque explica o que o outro apenas anuncia. Contudo, boa parte dos Verdes acabará por votar no italiano... porque no BCE «o que se requer é competência técnica e não política». Já com os socialistas as dificuldades foram notórias porque a ortodoxia do nomeado se apresentou como uma fortaleza inexpugnável. Sucede que a incomodidade vale menos do que a lógica de ‘bloco central’. Embora com defecções, os socialistas votarão no ultraliberal. E o mesmo farão conservadores e direita eurocéptica, radiantes com a criatura. Assim se confirmará o verdadeiro ‘senhor Europa’... Você não o elegeu, mas sempre fica a saber que existe.

Tags: Sol de Esquerda, Opinião, Miguel Portas

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